O dólar abriu a semana em queda firme, abaixo da linha de R$ 5,10, em meio à continuidade do movimento de enfraquecimento global da moeda norte-americana e de valorização dos ativos de risco iniciado na última sexta-feira, 9. Operadores nesta segunda-feira, 12, relataram ao longo da sessão fluxo de recursos estrangeiros para a bolsa doméstica e desmonte de posições defensivas no mercado futuro de câmbio.

Com a agenda de indicadores esvaziada, investidores operaram à espera da divulgação, na terça-feira, do índice de preços ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos em agosto para balizar as apostas sobre o ritmo e magnitude da alta de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

A tese que embala a recuperação dos mercados de risco é a de que a inflação americana já atingiu seu pico e começará a dar sinais claros de arrefecimento. Isso facilitará o trabalho do Fed no controle das expectativas e abrirá caminho para um ‘soft landing’ da economia dos EUA. A perspectiva de alta dos Fed Funds em 75 pontos-base no próximo dia 21 já parece bem assimilada.

Mediana das estimativas de 27 analistas consultados pelo Projeções Broadcast é de recuo de 0,1% do CPI em agosto, com alta de 8% na comparação anual. Caso a estimativa se confirme, será a primeira deflação mensal do indicador desde maio de 2020. Pesquisa da distrital do Federal Reserve em Nova York, divulgada nesta segunda-feira, mostrou que a mediana das expectativas para o avanço dos preços daqui a um ano caiu de 6,2% em julho a 5,7% em agosto. No horizonte de três anos, a queda foi de 3,2% a 2,8%.

Após uma queda até certo ponto contida pela manhã, o dólar aprofundou a baixa ao longo da tarde e tocou mínima a R$ 5,0842 (-1,23%). No fim do dia, a moeda era cotada a R$ 5,0974, recuo de 0,98% – o que fez o real ter uma das melhores performances entre moedas pares latino-americanas e de exportadores de commodities. Após as perdas nos três últimos pregões, o dólar passou a acumular queda de 2% no mercado doméstico em setembro.

“O dólar devolveu toda a gordura da semana passada. Ainda vejo fundamento para um real mais apreciado no curto prazo, com o dólar talvez testando novamente os R$ 5,05”, afirma o diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos, André Rolha.

Analistas também ressaltam que houve uma rodada muito forte de apreciação global da moeda americana nas semanas anteriores, tanto pela busca por segurança quanto pela fraqueza de pares fortes, como o euro e o iene. A mudança de discurso do Banco Central Europeu (BCE), que elevou a taxa da zona do euro em 75 pontos-base na semana passada e prometeu novas altas, diminuiu o desalinhamento entre as políticas monetárias europeia e americana, contribuindo para um movimento de realização da divisa dos EUA.

Termômetro desempenho do dólar frente a uma cesta de seis moedas fortes, com predomínio do euro, o índice DXY – que havia superado os 110,000 pontos na semana passada, atingindo o maior patamar em 20 anos – agora opera pouco acima da linha dos 108,000 pontos. Entre as commodities, as cotações do petróleo apresentaram recuperação nesta segunda, com o tipo Brent para novembro, referência para a Petrobras, em alta de 1,25%, a US$ 94 o barril. Não houve negócios com minério de ferro em razão do feriado lunar chinês.

“A perspectiva é de que a inflação pode desacelerar nos EUA. As cadeias produtivas e de suprimentos, que provocaram escassez de produtos, estão se normalizando. E o petróleo, um dos grandes responsáveis pela aceleração da inflação, não está mais tão pressionado”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, para quem o Fed poderia reduzir o ritmo de alta da taxa básica para 50 pontos-base já neste mês.

Em evento no período da tarde desta segunda, o ex-secretário do Tesouro e economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, afirmou que o real não deve perder valor ante o dólar no próximo ano, uma vez que, mesmo com a alta dos juros nos países de menor risco, o diferencial das taxas que remuneram o investidor no Brasil seguirá elevado. Mansueto, nesse ponto, lembrou que se o Federal Reserve dá sinal de que não vai cortar os juros tão cedo, o Banco Central (BC) tampouco indica que vai fazer diferente.

“O diferencial de juros é grande, ninguém espera desvalorização do real no ano que vem. Os mais cautelosos esperam taxa de câmbio relativamente constante”, afirmou Mansueto.