O dólar encerrou a sessão desta quarta-feira, 18, em alta de 1,12%, a R$ 5,1626, insuflado por receio de piora fiscal, na esteira de declarações do presidente Lula sobre salário mínimo e imposto de renda, e pelo fortalecimento da moeda americana frente a divisas emergentes diante dos temores de recessão nos EUA. O dia foi marcado por extremos, com oscilação de mais de 10 centavos entre a mínima (R$ 5,0668), na primeira etapa do pregão, e a máxima (R$ 5,1743), à tarde. A despeito do repique hoje, o dólar ainda acumula baixa superior a 2% em janeiro.

Pela manhã, o real se apreciou alinhado à onda externa de apetite ao risco que dominava os negócios. A queda de 0,5% do índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) nos EUA em dezembro (ante previsão de +0,1%) reforçou as apostas em uma postura mais branda do Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) na condução do aperto monetário. Também jogava a favor da moeda brasileira a valorização de commodities, com o petróleo em alta superior 2%.

Ao longo da tarde, contudo, o quadro externo se deteriorou. A moeda americana zerou baixa frente a pares fortes e se firmou em alta em relação a emergentes. As bolsas em Nova York aprofundaram perdas e renovaram mínimas, enquanto o petróleo trocou de sinal. O contrato do Brent para março fechou em queda de 1,09%, a US$ 84,98 o barril. Em vez do alívio com arrefecimento da inflação, falou mais alto o medo de um quadro recessivo nos EUA, dado o recuo acima do esperado das vendas no varejo e na produção industrial em dezembro. Principal falcão do BC americano, o presidente da distrital de St. Louis do Fed, James Bullard, voltou a dizer que a taxa básica tem que atingir rapidamente os 5% e projetou Fed Funds entre 5,25% e 5,5% no fim do ano.

“O mercado se animou com dados de inflação, reforçando hipótese de que o Fed não precisará subir juros depois da alta na próxima reunião. Mas a notícia de que um grande banco americano vai congelar contratações afetou as bolsas em Nova York e trouxe aversão ao risco, contaminando os mercados emergentes”, afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, em referência à informação de que o Bank of America (BofA) orientou executivos a frearem contratações em antecipação a uma possível retração da economia.

À virada do humor no exterior somou-se desconforto com fala de Lula após encontro com centrais sindicais para debate sobre o novo salário mínimo. Primeiro veio o anúncio da criação de um grupo de trabalho interministerial com prazo de até 90 dias para propor uma política de valorização do salário mínimo. Lula disse que o “mínimo tem que crescer conforme o PIB”. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, afirmou que o atual salário mínimo de R$ 1.302 valerá pelo menos até maio.

Lula foi além do debate sobre o salário mínimo e garantiu que fará mudanças no Imposto de Renda para aumentar a faixa de isenção para quem recebe até R$ 5 mil, como prometido na campanha eleitoral. “Vamos mudar a lógica, diminuir imposto para o pobre e aumentar para o rico. Vamos colocar o pobre no orçamento e o rico no Imposto de Renda”, disse o presidente.

“As falas de Lula reverteram o otimismo do mercado e levaram o dólar para as máximas. O ceticismo quanto ao controle fiscal ainda pesa no mercado”, afirma o diretor de produtos da Venice Investimentos, André Rolha, ressaltando que o real tem se beneficiado neste início do ano do aumento dos preços de commodities, com a reabertura da economia chinesa.