O dólar à vista não apenas emendou nesta segunda-feira, 15, o quinto pregão consecutivo de queda, como rompeu no fechamento o nível de R$ 4,90 pela primeira vez desde junho do ano passado. Já beneficiado pela onda de enfraquecimento da moeda americana no exterior, o real ganhou impulso extra em meio à expectativa em torno da divulgação ainda hoje do texto do novo arcabouço fiscal com regras mais duras. A possibilidade de redução dos prêmios exigidos por conta do chamado risco fiscal se soma a um ambiente de forte fluxo de recursos pela conta comercial e à perspectiva de manutenção de diferencial de juros interno e externo elevado nos próximos meses.

Afora uma alta pontual e bem limitada pela manhã, quando atingiu máxima a R$ 4,9327, o dólar operou em baixa ao longo de toda a sessão. O rompimento do piso de R$ 4,90 se deu à tarde, à medida que investidores digeriam informações a respeito das negociações em torno do texto do marco fiscal, como o fato de o presidente Lula, segundo apurado por Broadcast com fontes, ter concordado com a inclusão de gatilhos para brecar avanço de despesa e garantir cumprimento de metas. Ficariam de fora de eventual trava fiscal, por exigência de Lula, a política de valorização do salário mínimo e o Bolsa Família.

Com mínima a R$ 4,8882 na reta final dos negócios, o dólar à vista encerrou a sessão em baixa de 0,71%, cotado a R$ 4,8882 – menor valor de fechamento desde 7 de junho de 2022 (R$ 4,8742). Nas últimas cinco sessões, a moeda experimentou desvalorização de 2,46%. No ano, o dólar tem agora perdas de 7,42%. “Acredito que com a aprovação do texto do arcabouço com restrições, o dólar vai para baixo de R$ 4,85”, afirma o analista de câmbio Elson Gusmão, da corretora Ourominas.

À tarde, o relator do novo arcabouço fiscal, deputado Cláudio Cajado (PP-BA), disse ter finalizado seu relatório, após sugestões feitas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nesta manhã, durante reunião na residência oficial do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Cajado afirmou que a divulgação da proposta depende de reunião com os líderes marcada para esta noite, às 19 horas, da qual Haddad também participa.

O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, observa que, além da expectativa pelo arcabouço fiscal, o real é beneficiado por um fluxo forte de entrada de dólares pelo lado comercial, com exportações expressivas do agronegócio. “A oferta de dólares é muito grande e não tem como segurar a cotação com esse ambiente externo mais favorável a emergentes e a espera pelo arcabouço com alguma restrição a gastos”, afirma o Galhardo, ressaltando que, caso haja decepção com o texto do arcabouço, o dólar pode voltar rapidamente e superar R$ 5,00 e alcançar R$ 5,10.

Dados divulgados hoje pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 1,899 bilhão na segunda semana de maio. No mês, o superávit acumulado é de US$ 4,155 bilhões e no ano, de US$ 28,062 bilhões.

No exterior, índice DXY – termômetro do comportamento do dólar frente a seis divisas fortes – operou em queda ao longo do dia, furando a linha dos 102,500 pontos, com mínima aos 102,382 pontos. A moeda americana também recuou em relação à maioria das divisas emergentes e de exportadores de commodities, com perdas mais fortes frente a dois pares relevantes do real, os pesos mexicano e colombiano.