Após oscilações modestas e trocas de sinal ao longo da tarde, o dólar à vista encerrou a sessão desta quinta-feira, 4, cotado a R$ 4,9928, praticamente estável (+0,02%). Segundo operadores, o dia foi de realização de lucros e ajuste finos de posições, além de fluxos pontuais de saída de capital externo. Investidores ainda avaliam os desdobramentos das decisões de política monetária ontem aqui e nos Estados Unidos, enquanto monitoram as tensões no sistema bancário americano e seus desdobramentos sobre a economia global.

Na abertura dos negócios, o dólar até chegou a ensaiar uma queda mais forte no mercado local, registrando mínima a R$ 4,9700, em sintonia tendência de valorização de divisas emergentes frente à moeda americana. Mas a onda compradora arrefeceu e o dólar chegou a operar boa parte da manhã acima da linha de R$ 5,00, com máxima a R$ 5,0341. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para junho teve giro razoável, acima de US$ 12 bilhões.

No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – trabalhou em leve alta, em razão dos ganhos da moeda americana frente ao euro. Pela manhã, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou alta de suas principais taxas de juros em 25 pontos-base, o que representou uma desaceleração do ritmo de aperto. As apostas estavam divididas entre 25 pontos e 50 pontos.

“O mercado local está sem convicção e hoje pareceu mais guiado pelo exterior, com o DXY em alta com as perdas do euro”, afirma o analista de câmbio da corretora Ourominas Elson Gusmão. “Os investidores ainda estão digerindo as decisões de política monetária ontem. Parece que está se formando um consenso por aqui de que os juros têm que ir para baixo agora”.

Ontem, o Federal Reserve, como amplamente esperado, elevou a taxa básica americana em 25 pontos-base, para a faixa entre 5,00% e 5,25%. A interpretação majoritária do comunicado da decisão BC americano, que levará em conta os efeitos cumulativos e defasados do aperto monetário em suas próximas decisões, é a de que não haverá mais elevações do FedFunds. Embora o chairman Jerome Powell tenha sinalizado, em entrevista coletiva, que não há espaço para afrouxamento, a maioria dos investidores continua a apostar em corte de juros ainda neste ano. Crescem os temores de degringolada da atividade econômica em meio ao aperto de liquidez dos bancos médios americanos.

Por aqui, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve, como esperado, a taxa Selic em 13,75%. Entre analistas, a leitura predominante do comunicado foi a de que o Copom vai persistir na estratégia atual por mais tempo. No mercado de juros futuros local, contudo, crescem as apostas em redução da taxa básica no segundo semestre.

Em tese, a perspectiva de Selic ainda alta por mais tempo com interrupção do aperto pelo Fed levaria a baixa do real, ao manter diferencial de juros elevados. Incertezas ainda sobre o desenho final da nova proposta de arcabouço fiscal, a queda dos preços das commodities e os riscos de recessão nos EUA tendem a refrear, contudo, apostas mais contundentes a favor da moeda brasileira neste momento.

Para o head de câmbio da EQI Investimentos, Alexandre Viotto, o diferencial de juros interno e externo tende a seguir “em patamares semelhantes” e, pelo menor por ora, deve contribuir para manter o dólar ao redor dos patamares atuais no mercado doméstico. Mudanças mais fortes na taxa de câmbio podem ocorrer se houver piora do ambiente externo ou “novidades em relação fiscal, seja para qual lado for”, além de eventuais ruídos políticos vindos de Brasília.