Após uma manhã de instabilidade e troca de sinais, o dólar se firmou em baixa no início da tarde e encerrou a sessão desta terça-feira, 1º de novembro, em queda forte, mas longe das mínimas da sessão. Operadores voltaram a relatar entrada de fluxo estrangeiro para ativos doméstico e desmonte de posições defensivas no mercado futuro de câmbio, em meio às expectativas para a transição de governo.

Já na reta final do pregão, o dólar tocou nova mínima, ao descer pontualmente até R$ 5,0866 (-1,545), quando o mercado digeria o primeiro pronunciamento público de Jair Bolsonaro após o segundo turno da eleição presidencial. Embora não tenha reconhecido explicitamente a derrota nas urnas, o presidente disse que continuará “cumprindo todos os mandamentos da Constituição”. O ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, vai tocar a transição pelo lado do governo. Bolsonaro disse que protestos de apoiadores são “fruto de indignação e sentimento de injustiça de como seu deu o processo eleitoral”, mas ressaltou que manifestações precisam ser pacíficas.

Apesar de bloqueio de rodovias e eventuais turbulências, consolida-se a sensação de redução do risco político-institucional. As atenções se voltam à formação do futuro governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O mercado celebrou no início da tarde a indicação do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) para comandar a equipe de transição do lado petista. Mas houve certo receio diante da informação, divulgada pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) na reta final dos negócios, de que o ex-ministro Aluizio Mercadante será o coordenador de Economia pela parte técnica. “Mercadante ter algum poder em qualquer coisa relacionada à economia é ruim”, disse um trader, resumindo o sentimento do mercado, que aguarda um nome que afaste a possibilidade de medidas heterodoxas.

Logo após a informação sobre Mercadante, o dólar reduziu bastante o ritmo de alta e não apenas ultrapassou novamente o nível de R$ 5,10 como tocou pontualmente a casa de R$ 5,13. No fim do dia, era cotado a R$ 5,1186, em queda de 0,92% – o que leva a baixa acumulada nos dois primeiros pregões após a eleição de Lula a 3,43%. Na quarta, o mercado local estará fechado em razão do feriado do Dia de Finados. No exterior, as atenções se voltam à decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano), que pode acenar com redução do ritmo de alta dos juros a partir de dezembro.

O Citi afirma, em relatório, que a margem apertada da eleição presidencial, ao lado do aumento de parlamentares de direita no Congresso, sugere que Lula vai adotar uma postura mais moderada. Com o risco de contestação das eleições reduzido, o banco acredita que o mercado vai monitorar de perto a formação do ministério, em especial ao nome que comandará a Fazenda. Do ponto de vista fiscal, o Citi avalia que Lula vai ter uma postura pragmática, com aumento de gastos mas também de impostos.

Embora o foco no momento esteja na composição do futuro governo, o Citi afirma que o cenário externo deve seguir como o principal fator para o comportamento do real. O ambiente para economias emergentes está se tornando “menos amigável”, com expectativa de mais aperto das condições financeiras em meio a uma tendência persistente de queda nos preços de commodities. “Esperamos taxa de câmbio ao redor de R$ 5,30 até o fim de 2022. O déficit em conta corrente deve ser de cerca de 2,5% do PIB neste ano com superávit comercial enfraquecendo (US$ 40 bilhões ou 2% do PIB) devido à demanda global e preços de commodities mais fracos.”