O mercado doméstico de câmbio trabalhou na defensiva ao longo da sessão desta terça-feira, 18, em meio à cautela dos investidores diante de rumores em torno do tamanho de brechas para mais gastos na proposta de novo arcabouço fiscal. Sucessivos adiamentos na divulgação do texto durante o dia provocavam apreensão nas mesas de operação, impedindo que o real acompanhasse o sinal predominante de baixa na moeda americana lá fora.

Afora um recuo pontual nos primeiros negócios, quando registrou mínima a R$ 4,9130, sob impacto do resultado acima do esperado do PIB chinês no primeiro trimestre, a moeda operou com sinal positivo durante o restante da sessão. A máxima, a R$ 4,9970, veio logo após o ministério da Fazenda divulgar o texto com as novas regras fiscais, por volta das 15h40.

A onda compradora, contudo, arrefeceu em seguida, quando se observou que o documento não trouxe surpresas negativas além das já especuladas na imprensa pela manhã. Assim, a divisa fechou cotada a R$ 4,9759, em alta de 0,78%. Principal termômetro do apetite por negócios, o dólar futuro para maio teve giro forte, superior a US$ 15 bilhões.

Operadores observam que, dada a forte rodada de apreciação do real iniciada em fins de março e acentuada na semana passada, havia espaço para ajustes e recomposição parcial de posições defensivas. Em abril, a moeda ainda perde 1,83%, o que leva a desvalorização no ano a 5,76%.

Lá fora, o dólar perdeu força em relação a moedas fortes, como euro e iene, e à maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities. As raras exceções foram o peso mexicano, o real e, sobretudo, o peso colombiano, que amargou baixa superior a 1%.

“O movimento de hoje do dólar é bem localizado. O mercado estava com receio de o governo tirar limitadores de gastos do arcabouço fiscal, o que aumentaria a necessidade de incremento de impostos lá na frente”, afirma o head de câmbio da EQI Investimentos, Alexandre Viotto.

Como especulado pela manhã, ficaram de fora do limite de despesas transferências constitucionais, créditos extraordinários, piso de enfermagem, universidades públicas federais e as chamadas estatais não financeiras. Quer dizer, eventuais capitalização de bancos públicos obedecem a limites do novo arcabouço – o que diminui os riscos de expansão parafiscal. Segundo o texto, pelo lado da receita, será considerada a receita primária total menos concessões, dividendos, royalties e transferências legais.

Embora ressalte que o novo arcabouço “não é a regra dos sonhos”, o estrategista da RB Investimentos, Gustavo Cruz, afirma que o documento mostra, sim, uma preocupação do governo com o equilíbrio fiscal, ao estabelecer limite aos gastos e não buscar o ajuste apenas via aumento de receitas. “É interessante que os dividendos e as concessões não vão ser considerados para o governo gastar mais. Temos até que ver se isso não vai ser modificado no Congresso”, afirma Cruz

Viotto, da EQI Investimentos, alerta que tramitação do texto no Congresso pode provocar novas marolas na taxa de câmbio – que, em sua visão, não deve se manter por muito tempo abaixo da linha de R$ 5,00. Para o especialista, a onda recente de apreciação do real se deve a três fatores: alta dos preços das commodities, boa receptividade ao esboço inicial do arcabouço fiscal, que veio melhor do que o imaginado, e o apetite por operações de “carry trade”, que exploram diferencial de juros interno e externo.

Para Viotto, o movimento de alta das commodities não tende a perdurar. Além disso, o dólar não deve se enfraquecer mais no exterior, uma vez que o Federal Reserve dificilmente reduzirá os juros ao longo do segundos semestre na magnitude esperada pelo mercado. “Já os juros devem cair aqui, diminuindo o diferencial de taxas, o que pode afetar o real”, diz Viotto, para quem há riscos de modificações da proposta original do arcabouço no Congresso.

(com Eduardo Laguna)