Com o agravamento da pandemia da covid-19, todas as regiões do Estado entrarão na fase vermelha do Plano São Paulo da zero hora deste sábado, 6, até 19 de março, segundo adiantou o Estadão. A decisão foi anunciada nesta quarta-feira, 3, pelo governador João Doria (PSDB), em coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes. A classificação é a mais restritiva do plano de flexibilização da quarentena, pois veta a abertura de restaurantes, academias e outros estabelecimentos considerados não essenciais. As escolas seguirão abertas, como o Estadão adiantou nesta terça-feira.

Em seu discurso, o governador paulista ressaltou ainda que, caso medidas não sejam tomadas, a tragédia pode ser “muito pior”. “Isso é uma tragédia, é uma tragédia que pode ser ainda pior se não tomarmos medidas”, destacou.

Segundo ele, o Estado recebe um pedido de internação a cada dois minutos em hospitais públicos ou privados por causa da doença. “Esse é o termômetro da linha de frente, dessa tragédia que estamos vivendo”, disse.

“Temos a tristeza de reconhecer a situação dificílima que estamos vivendo em São Paulo, e não é diferente do (restante do) País”, acrescentou Doria ao destacar o aumento de óbitos, internações e casos do novo coronavírus. Na terça-feira, 2, o Brasil bateu o recorde de registros de mortes pela doença em um único dia. “As próximas duas semanas serão as duas piores da pandemia no Brasil”, declarou.

Segundo Patricia Ellen, secretária estadual de Desenvolvimento Econômico, a mudança de todo Estado para a fase vermelha passará a valer em 48 horas para que os estabelecimentos possam se planejar. “Para que todos consigam se organizar”, justificou.

Até sábado, seguirá valendo a reclassificação anterior do Plano São Paulo, em que exclusivamente as regiões de Barretos, Araraquara/São Carlos, Bauru, Ribeirão Preto, Marília e Presidente Prudente estão na fase vermelha. As demais regiões têm classificações amarela ou laranja (na qual está a Grande São Paulo).

Além disso, o horário do “toque de restrição” teve o início adiantado das 23 horas para as 20 horas, estendendo-se até as 5 horas diariamente. A medida consiste especialmente em uma força-tarefa para evitar e autuar aglomerações, lançada na semana passada.

Como o Estadão adiantou, as escolas públicas e particulares seguirão abertas, com foco nos alunos mais vulneráveis, com deficiências, dificuldades de aprendizagem e crianças menores, cujo ensino remoto não tem efetividade. Todas podem continuar abertas com 35% de presença e a recomendação é a de que as famílias decidam se querem ou não enviar seus filhos. No entanto, as escolas particulares que não quiserem oferecer o presencial nessas duas semanas podem fechar.

Segundo o secretário de educação, Rossieli Soares, deve haver prioridade para crianças da educação infantil, de 4 e 5 anos, e dos primeiros anos do fundamental, que passam pela alfabetização. Mas alunos de qualquer idade podem frequentar as escolas, se tiverem necessidade, nesse período. “Quem tiver condições de fazer o ensino a distância, permaneça a distância nessas duas semanas”, disse.

Segundo dados do governo estadual, São Paulo tem 2.068.616 casos e 60.381 óbitos por covid-19. Na terça-feira, 2, foram confirmadas 468 mortes causadas pela doença, o maior registro feito no Estado desde o início da pandemia.

A ocupação de UTI é de 75,3%, média que é 76,7% na Grande São Paulo. Em leitos de enfermaria, a taxa é de 56,8% em todo o Estado, enquanto é de 63,5% na região metropolitana da capital.

Ao todo, 7.415 pacientes estão hospitalizados com suspeita ou confirmação da doença em terapia intensiva, o que é 18,6% maior do que o pico do ano passado, que era de 6.250 internados. Além disso, 8.968 pessoas estão em leitos de enfermaria.

“Com essa velocidade, não existe outra alternativa que não seja o isolamento, a restrição do contato”, destacou o coordenador executivo do Centro de Contingência, João Gabbardo. Segundo ele, um dos possíveis motivos para o maior número de internados é que a média de idade reduziu, com pacientes mais jovens permanecendo por mais tempo nos hospitais. Outro fator que preocupa é a disseminação da variante da covid-19 identificada pela primeira vez no Amazonas.

“Essa segunda onda é diferente da primeira. Na primeira, nós tivemos as regiões aparecendo com surtos, fases mais intensas, mas eram transitórias. Passamos (por maiores crises) por todo o País, mas em momentos diferentes”, comparou Gabbardo. “Mesmo aqui em São Paulo, começamos na região metropolitana. Depois, na metropolitana, reduziu, e tivemos um aumento no interior. Hoje, o que percebemos é que o País inteiro está entrando em uma situação de colapso (simultaneamente).”

Em parte do interior de São Paulo, a ocupação de UTI é ainda maior, chegando a até 100%. Como noticiou o Estadão, além da tentativa de abrir novas vagas, secretarias de saúde de municípios como Araraquara e Bauru transferem pacientes para evitar colapso de seus centros médicos. Na capital paulista, parte dos hospitais privados, como o Albert Einstein e o São Camilo, também estão com os leitos de terapia intensiva totalmente ocupados.

Além disso, o governador também anunciou a abertura de 500 novos leitos, dos quais 339 serão de UTI e 161 de enfermaria, em hospitais públicos, municipais, filantrópicos e Santas Casas. Segundo o secretário da Saúde, Jean Gorinchteyn, o Estado tinha 3,5 mil leitos de UTI públicos antes da pandemia, número ampliado ao longo do último ano e que chegará a 7.839 vagas até 31 de março.

Escolas permanecerão abertas durante toda fase vermelha

Esta é a primeira vez, durante a pandemia, que São Paulo manterá as escolas abertas na fase vermelha, algo que teve como exemplo países europeus, como França, Reino Unido, Alemanha, Dinamarca e Suécia, além de Cingapura. A visão de que a escola – desde que cumpra protocolos sanitários e de distanciamento social – não é um local de grande transmissão para a covid-19 foi se fortalecendo ao longo dos últimos meses, com estudos científicos que analisaram casos na educação presencial em vários países. Além disso, outras pesquisas também indicaram que as crianças se infectam menos e transmitem menos o vírus.

Mesmo assim, o secretário estadual de Educação, Rossieli Soares, teve de insistir internamente no governo para que seu entendimento de deixar escolas abertas prevalecesse. Em dezembro, ele conseguiu publicar um decreto garantindo que a educação permanecesse funcionando em todas as fases do Plano São Paulo.

Nesta semana, com a piora da pandemia e a possibilidade de novas restrições, novamente o assunto se mostrou polêmico dentro da gestão Doria. O secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn, deu declarações em que defendeu o fechamento das escolas e não de outros serviços. A entrevista causou mal estar no governo e a secretaria da Saúde teve, a pedido do Palácio dos Bandeirantes, de publicar uma nota dizendo que se tratava de uma opinião pessoal do secretário.

A interlocutores, Doria tem dito que quem decide sobre o fechamento de escolas é o secretário de educação, o que deu força a Rossieli. Ele tem ao seu lado alguns integrantes do centro de contingência contra a covid-19, como pediatras, que têm defendido também a manutenção da escola pelo prejuízo mental e de desenvolvimento das crianças.

O Brasil é um dos países do mundo que mais ficou com escolas fechadas, passando de 260 dias. Outros, considerados exemplos da educação mundial, como Reino Unido e Alemanha, pararam escolas por menos de 90 dias.

Saiba quais estabelecimentos e serviços são considerados essenciais em São Paulo

São considerados essenciais: supermercados, mercados, padarias (sem consumo no local), postos de gasolina, clínicas, hospitais e consultórios médicos, escolas, templos religiosos, açougues, clínicas odontológicas, estabelecimentos de saúde animal, farmácias, lojas de suplementação, feiras livres, serviços de segurança pública e privada, meios de comunicação, construção civil, indústria, hotéis, lavanderias, serviços de limpeza, manutenção e zeladoria, bancos, lotéricas, call center, assistência técnica de eletrônicos, bancas de jornal, serviços de delivery e drive-thru de alimentos, empresas de logística e locação de veículos, oficinas de veículos automotores, transporte coletivo, táxis, aplicativos de transporte, serviços de entrega, estacionamento, produção agropecuária e agroindústria, transportadoras, armazéns de abastecimento e lojas de materiais de construção.