CRISE CHEGOU: sem pagar seus financiamentos, produtores perdem suas máquinas

Se ainda havia alguma dúvida sobre quais seriam os reais efeitos da crise financeira sobre a agricultura brasileira, a resposta parece ter chegado ao Centro-Oeste. E da pior forma. Sem conseguir obter crédito e com uma dívida agrícola que já soma cerca de R$ 12 bilhões, produtores da região não estão conseguindo honrar os seus financiamentos e com isso estão vendo suas máquinas agrícolas serem confiscadas pelos bancos. De acordo com a Federação da Agricultura do Estado de Mato Grosso (Famato), só naquele Estado, cerca de 70% dos produtores não pagaram a parcela do financiamento para compra de máquinas, que venceu em outubro. Além da dificuldade de acesso ao dinheiro oficial, proveniente dos bancos, a situação se agravou devido à escassez dos financiamentos junto às tradings, recursos que representam cerca de 50% do total dos empréstimos tomados no Estado. “Cerca de 80% das tradings deixaram de financiar o setor em razão do risco de inadimplência”, explica o presidente da Famato, Rui Prado. O problema é que essas empresas, na maioria multinacionais, dependem de linhas de crédito tomadas junto aos grandes bancos internacionais e esses recursos simplesmente sumiram do mercado.

E a falta de crédito não é a única fonte dos problemas. Os custos de produção na região aumentaram em ritmo acelerado. Em Mato Grosso, a estimativa é de um incremento de 53% nos gastos com a lavoura. “Nós estamos colhendo apenas prejuízo”, reclama o presidente do Sindicato Rural de Rondonópolis (MT), Ricardo Tomczyk. Só no município, onde aconteceram as primeiras apreensões, mais de 70 produtores já perderam seu maquinário. “Estamos passando por um problema crônico de renda. Sem renda não conseguimos quitar os empréstimos e sem quitar os empréstimos não temos acesso a novas linhas de crédito. Trata- se de uma bola de neve”, desabafa.

O presidente da Associação de Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja), Glauco Silveira, já prevê impactos nas lavouras do Estado. “Prevemos uma queda de 10% na produção de soja e uma redução de 40% na área de algodão, devido ao uso menor de tecnologia”, revela.

Para tentar amenizar a situação, lideranças do Estado negociam com o Conselho Monetário Nacional (CMN) a liberação de uma linha extraordinária de crédito, no valor de R$ 500 milhões. Contudo, os produtores não se animam e afirmam que os recursos só surtirão efeito com alterações em sua estrutura. “Se esse crédito não for liberado sem a exigência de garantias adicionais, ele vai ficar parado nos bancos e não ajudará em nada”, sentencia Silveira.