Parece ironia, mas o mesmo Rio Grande do Sul que se viu em meio a seguidas secas nos últimos anos, agora padece com o excesso de água. Desde setembro do ano passado, as fortes chuvas causaram destruição no estado e em seu vizinho Santa Catarina. Até o fechamento desta edição 170 municípios haviam decretado estado de emergência. De acordo com João Carlos Fagundes Machado Secretário Estadual da Agricultura, Pecuária e Agronegócio do Rio Grande do Sul, atualmente existem cerca de 140 municípios em estado de emergência. “Tivemos perda de 30% na safra de trigo, que foi colhido no início das chuvas e estimamos perda de 70% na safra de arroz, uma das culturas mais prejudicadas”. Em 50 anos de “roça” Francisco Shardon, presidente da Comissão de Arroz da Farsul – Federação de Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul, diz que ainda não é possível falar em números exatos, mas as estimativas não são animadoras. “Estávamos prevendo uma colheita de aproximadamente 8 milhões de toneladas, mas com as chuvas, devemos perder por volta de 3 milhões de toneladas. São suposições, já que com as lavouras submersas, fica difícil calcular os reais prejuízos”.

 

170

municípios haviam decretado estado de emergência

30%

da safra de trigo foi perdida

70%

na perda da safra de arroz

4,1

milhões de toneladas, é a estimativa de perda na safra 2009/2010

R$ 700

milhões é o prejuízo aproximado do Rio Grande do Sul

Apesar do volume alto de chuvas e dos prejuízos causados, os especialistas em clima já esperavam por esse evento. A meteorologista Gilsânia Cruz da Epagri/Ciran – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina, explica que 2009 foi um ano em que o Brasil esteve sob influência do fenômeno climático El Niño e quando isso acontece, há um aumento significativo na quantidade de chuvas no Sul do Brasil durante a primavera, período de maior influência do fenômeno. De acordo com André Madeira, meteorologista do Climatempo, em setembro, no sul de Santa Catarina e na Serra Gaúcha choveu 300 milímetros acima da média, cuja normalidade está entre 150 e 200 milímetros. Dessa forma, em um único mês, a região recebeu cerca de 500 milímetros de chuva, quase o triplo do que costuma ocorrer no período. Em novembro, as chuvas castigaram as regiões centro-oeste e sudoeste do Rio Grande do Sul e parte do sul de Santa Catarina, cujas médias de precipitações variam normalmente entre 50 e 100 milímetros, mas sofre ram acréscimo de 300 milímetros. Até o dia 9 de dezembro, a região central do Rio Grande do Sul já tinha recebido 100 milímetros acima do esperado para o mês, que varia entre 100 e 150 milímetros,. Mas segundo André Madeira, ainda havia previsões de mais precipitações até o final do mês.

O Irga – Instituto Riograndense de Arroz apresenta um trabalho sobre as perdas, feito pelo instituto em parceria com a Farsul, onde se vê que dos 240 mil hectares inundados, 110 mil já haviam sido plantados. O Rio Grande do Sul é responsável por 80% do arroz irrigado produzido no Brasil e 63% da produção quando se inclui o arroz plantado em terras altas.A Farsul estima perda de 4,1 milhões de toneladas na safra 2009/ 2010 em comparação com a safra anterior, onde foram colhidas 22,6 milhões de toneladas. A estimativa é de que esse número caia para 18,5 milhões de toneladas na safra atual. Para se ter uma idéia, o Brasil consome em um mês, cerca de 1 mil toneladas de arroz, segundo cálculos do secretário.

182

municípios em estado de emergência

900

mil toneladas de milho perdidas

1,5

milhão de toneladas de soja deixarão de ser colhidas

80%

É a porcentagem de perdas de algumas das lavouras

Passado o período mais crítico, as águas começam a baixar, mas o prazo para o plantio de grãos está próximo do fim. O secretário explica que o governo estadual gaúcho está em negociação com o governo federal, a fim de destinar recursos para a recuperação de infraestrutura do estado.

“A secretaria está dando todo o auxílio possível aos produtores, mas é certo que sofreremos uma queda na produtividade da safra não só do arroz, mas do milho, soja e outros grãos”. Segundo dados do Irga, somando as perdas das plantações de arroz, estrutura e rodovias, o estado teve cerca de R$ 700 milhões em prejuízos, o equivalente a 15% do valor bruto da produção anual. Com esse quadro é quase impossível saber quando a região conseguirá se recuperar totalmente.