Valdomiro Poliselli Júnior, 55 anos, paulista de Colina, no interior do Estado, pertence a uma família de pecuaristas que estão na atividade há três gerações. Mas, em vez de trilhar o caminho do avô e do pai, de criar gado e entregar para o frigorífico, ele decidiu que seria também um comerciante de carne premium. Isso há 21 anos, quando o conceito de qualidade na bovinocultura era algo muito vago no setor. Há 12 anos, ele abriu a VPJ Alimentos, o coração de seu negócio, com foco na verticalização da cadeia. Hoje, em São Paulo, Poliselli cria angus, brahman e brangus em duas fazendas. Em outra, em Goiás, estão 12 mil bovinos. Ele ainda adquire animais de 150 parceiros, possui um frigorífico de desossa e porcionamento de cortes e vende no mercado 35 toneladas de carne em equivalente carcaça, por ano. Nos próximos meses, Poliselli iniciará outro empreendimento e, claro, mais uma vez a meta é expandir os negócios de carne premium.

Qual o próximo passo da VPJ Alimentos para ganhar mercado?
Vamos abrir nos próximos meses uma  rede de fast food, a Stock Yards Angus Sandwich, para vender hambúrgueres premium, as estrelas do cardápio, usando cortes nobres como, por exemplo, a picanha. O hamburguer é hoje um prato valorizado pelo consumidor. A primeira loja será em São Paulo.

Como o sr. vê o futuro da VPJ?
O futuro sempre esteve na verticalização do negócio. Produzimos do embrião à carne. Além das hamburguerias, vamos iniciar um programa de franquias da Steak Stores, que são as boutiques de carne. Temos cinco lojas em São Paulo, mas o projeto é franquear 50.

Os dois empreendimentos fecham o ciclo do seu projeto pecuário?
Acho que eles tornam o projeto da VPJ sustentável. Sustentabilidade na pecuária não é apenas uma árvore com um boi pastando embaixo. O bem-estar animal é fundamental, mas, na pecuária, a essência  é ter um projeto sustentável do ponto de vista  econômico.

Por que o angus deu certo para a VPJ?
Comecei a criar a raça, em 1995, já visando o cruzamento industrial em fazendas no Estado de Goiás. Na época, comprei 250 bezerras red angus no Canadá e trouxe os animais em um único vôo fretado. Era uma ousadia para a época e deu certo. Mas deu certo porque sempre pensei na qualidade da carne e não apenas no peso do animal para fazer volume no abate. 

A VPJ prosperou no cruzamento industrial do zebu com o angus numa época em que muitos criadores levaram a raça europeia para o Centro-Oeste, mas desistiram do negócio porque os frigoríficos passaram a rejeitar animais provenientes de projetos de cruzamento. O que o manteve na atividade?
Isso aconteceu no início dos anos 2000. Segui adiante com base no conhecimento que tinha da raça angus e o que ocorria com o mercado de carne de qualidade no mundo. Mantive uma linha de raciocínio, sem arredar o pé de que o modelo de cruzamento de angus com zebu é o ideal para a minha pecuária e para outros produtores.

Na sua opinião, sem o tranco dos anos 2000, o cruzamento industrial poderia estar mais adiantado?
Evidentemente que sim.  O avanço que estamos vivendo hoje teria acontecido há mais de dez anos. Porque no ano 2000 a angus já era a raça que mais vendia sêmen no Brasil. Foi o auge da primeira fase do cruzamento industrial. Quatro anos depois, o quadro se inverteu e todos os frigoríficos brasileiros deixaram de comprar carne de cruzamento industrial.

Qual o motivo alegado à época?
Foram três fatores. Houve uma articulação muito forte dos criadores de zebu para recuperar o espaço perdido. Mas é preciso admitir que, naquele tempo, o cruzamento era mal feito. Cruzava-se tudo com tudo. E também não havia uma política de preços diferenciados, como existe hoje.

Qual foi a lição deixada desse episódio?
Em 2004, eu tinha prontos para o abate 25 mil animais cruzados. A indústria simplesmente ignorou minha produção. Por isso nasceu a VPJ Alimentos. Hoje fornecemos carne para o Brasil inteiro, estamos em 1,2 mil estabelecimentos, entre restaurantes de alta gastronomia, empórios  e supermercados das principais capitais.

Qual é o principal desafio do setor?
Já sabemos que o cruzamento de angus com o nelore é o caminho. O desafio agora é produzir essa carne em maior volume. Nós poderíamos vender até dez vezes mais, porque temos mercado consumidor. Mas precisamos de matéria-prima padronizada. O pecuarista precisa entender a demanda da dona de casa e produzir o que é bom para ela e não o que é bom para ele.

Existe um caminho das pedras?
O primeiro passo é ter harmonia entre os criadores de zebu e de angus. O criador de zebu, principalmente o de nelore, não pode olhar para o de angus como um inimigo. O cruzamento é uma ferramenta para fazer dinheiro. O angus não tira o mercado do nelore. O que ele faz é ampliar a produção.