29/10/2022 - 8:02
Para cada três árvores mortas em consequência da seca na floresta amazônica, há uma quarta que, mesmo sem estar em uma área afetada de forma direta, também irá padecer pela falta ou diminuição de chuvas. Um cenário cada vez mais extremo, diante disso, desafia ainda mais a capacidade de a floresta responder às mudanças climáticas ao longo do tempo. Isso é o que aponta estudo recente liderado pelo cientista Nico Wunderling, do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático.
Esse efeito cascata ocorre porque as árvores contribuem para a precipitação regional “reciclando” a umidade atmosférica. “Ao exceder os limites locais na capacidade de adaptação da floresta, os impactos das mudanças climáticas locais podem se propagar para outras regiões da bacia amazônica, causando risco de deslocamento da floresta mesmo em regiões onde os limites críticos não foram ultrapassados localmente”, aponta o estudo.
Com base nessa descoberta, o grupo de oito pesquisadores descobriu que a floresta tropical pode estar diminuindo seu volume de chuva e, com isso, seu suprimento de umidade para enfrentar situações adversas, uma vez que as mudanças climáticas geram períodos de seca mais frequentes e mais severos para a Bacia Amazônica.
A partir de 2050, o estudo indica ainda que esse cenário deve se agravar ainda mais. “A floresta amazônica é o ecossistema terrestre mais biodiverso e desempenha um papel fundamental na regulação do clima global. No entanto, os impactos causados pelo homem e os extremos climáticos ameaçam cada vez mais a integridade da floresta e os serviços que ela fornece”, alertam os pesquisadores. O estudo, feito por modelagem computacional, foi publicado em agosto na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.
DESMATAMENTO
“As secas estão mais frequentes pelo aquecimento global, e o impacto das secas fica mais forte pelo desmatamento”, afirma ao Estadão o cientista Carlos Nobre, pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP). “Em geral, (a floresta amazônica) tinha uma seca a cada 15, 20 anos, normalmente associada ao El Niño. Agora, estão sendo ao menos duas por década”, aponta ele, que cita como exemplos os registros nos anos de 2005, 2010, 2015, 2016 e 2020.
As regiões que mais sofrem, destaca, são as parcelas da floresta que ficam na transição para outros bioma.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.