VENDEDOR: para ganhar mercado, ele investiu na pecuária de elite e virou parceiro de seus clientes

Ao andar pelos corredores da Ouro Fino, empresa de saúde animal, a sensação é de estar em um filme de ficção científica. Funcionários caminham por laboratórios, em trajes que lembram o vestuário cirúrgico. Na administração, em vez de um executivo engravatado, está Norival Bonamichi, um homem simples do interior que tem uma trajetória singular. Vestido com jeans e camisa, ele é, juntamente com Jardel Massari, o fundador da empresa que começou em 1987 em um galpão de 300 metros quadrados em Ribeirão Preto (SP) e hoje conta com uma sede de 125 mil metros quadrados em Cravinhos (SP) e outra no México.

Juntas, elas faturaram mais de R$ 222 milhões no ano passado, enquanto o mercado veterinário no País movimentou R$ 2,824 bilhões, segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan). Falante e brincalhão, Bonamichi conta que o dinheiro inicial investido há 23 anos, R$ 40 mil, foi a soma do FGTS dos dois amigos de infância, que eram vendedores da Socil, empresa de nutrição animal. “Era tudo o que tínhamos para apostar no nosso negócio.”

E a aposta deu resultado. Em seu escritório, ele ostenta um prêmio concedido pela consultoria Ernst & Young, uma das principais empresas de auditoria do mundo, que deu a ele em 2004 o título de maior empreendedor da América do Sul. Segundo o empresário, foi um incentivo para lembrar que ousadia é apenas um dos ingredientes de sua receita. “Nós vemos oportunidades onde os outros não veem.”

CIÊNCIA PURA: unidade da Ouro Fino no interior de São Paulo conta com alguns dos mais modernos laboratórios do País

No ano passado só a divisão de saúde animal da empresa cresceu 31% e movimentou R$ 175 milhões. Hoje, além dela, a empresa conta com produtos para bem-estar animal, genética e agrosciência, com mais de 100 produtos vendidos no Brasil e em mais 30 países. “Se alguém tentasse isso hoje, dificilmente conseguiria crescer como nós”, calcula. Ser diferente é, para os gestores da Ouro Fino, o jeito de se destacar. O grupo foi o primeiro no mundo a desenvolver uma vacina específica para camelos, para atender a uma fatia de mercado no Oriente Médio que as grandes empresas ignoravam.

Para ganhar espaço entre os pecuaristas, Bonamichi e Massari se tornaram criadores de nelore e passaram a frequentar os leilões de elite. O pagamento, feito em produtos, servia como “degustação”; se aprovados, eram recomendados a outros pecuaristas. “Negociamos com mais de 120 criadores. Nada melhor para conquistar a confiança dos clientes do que ser parceiro deles”, explica Flávio Canavaci, diretor de pecuária. Hoje, a Ouro Fino tem 500 cabeças de nelore, 300 cabeças de gir e cavalos crioulos.

Ainda no setor da pecuária, uma fábrica cuida do desenvolvimento de vacinas para a febre aftosa e é guardada a sete chaves por Ricardo Avallo Castillo, veterinário colombiano responsável pela unidade que veio ao Brasil para trabalhar no projeto, que custou R$ 50 milhões. “Em outubro devemos disponibilizar os primeiros 20 milhões de doses da vacina.”

Para manter o ritmo de crescimento, os dois amigos já têm novidades para este ano, entre eles a nova fábrica de agrosciência em Uberaba (MG), que custou R$ 200 milhões e será inaugurada neste mês. “Queremos assumir o quarto lugar no faturamento entre as líderes do mercado, o que significa triplicar nossos lucros”, conta Bonamichi.