PISTA DE JULGAMENTO: na feira mineira, 409 pecuaristas apresentaram 2,4 mil animais de sete raças. Acima, o nelore

A 78ª Exposição Internacional de Zebu (Expozebu), realizada em Uberaba, no Triângulo Mineiro – maior exposição de animais de raças zebuínas do mundo -, entre os dias 28 de abril e 10 de maio, movimentou R$ 51,4 milhões com a venda de animais de genética superior, em 40 leilões. Entre fêmeas, machos e prenhezes, foram comercializados nesses eventos 1,2 mil lotes. Além do gado à venda na feira organizada pela Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), também foram avaliados por técnicos da entidade 2,4 mil animais das raças nelore, brahman, guzerá, tabapuã, gir, sindi e indubrasil.

Nas pistas de leilões, o comércio da Expozebu recuou 14% em relação à receita do ano passado. “Mas, por mais que oscile, a renda em Uberaba tem ficado acima de R$ 50 milhões todos os anos”, diz Eduardo Biagi, presidente da ABCZ. Nenhuma outra exposição de gado no País vende tanto quanto a feira mineira. Em faturamento, a que mais se aproxima é a de Campo Grande (MS), no mês de abril. Neste ano, a feira de Mato Grosso do Sul rendeu R$ 15 milhões, 29% do obtido em Minas.

ZONA NEBULOSA: Brito, o maior criador de touros do País, diz que se deveria discutir mais sobre qual é o animal ideal

Para os julgamentos, 409 pecuaristas compareceram com seus animais. Para esses criadores vale o que pensam os juízes da ABCZ. São eles que escolhem os melhores animais de cada raça, baseados em uma cartilha. Há alguns anos, a principal crítica que se faz aos julgamentos se refere à premiação de animais muito grandes. No nelore, por exemplo, enquanto o peso médio de uma matriz, no campo, é próximo de 550 quilos aos três anos de idade, nos animais que participam de julgamento o peso se aproxima facilmente de 900 quilos. Nos touros, a relação é de 600 quilos nos animais de campo, para mais de 1,1 mil quilos daqueles levados aos julgamentos.

Para o criador de nelore e brahman Ovídio Carlos de Brito, da fazenda Vale do Guaporé, em Pontes e Lacerda (MT), bovinos grandes são antieconômicos porque precisam de mais pasto para ganhar peso e demoram mais para ficar no ponto de abate. No caso do nelore, o peso deveria estar próximo de 500 quilos, entre 24 e 30 meses de idade. Segundo o criador, as discussões na Expozebu em torno do tamanho ideal dos animais se dão sempre em uma zona nebulosa. “Elas nunca chegam de fato ao que precisa ser feito, ou seja, penalizar quem cria animais muito grandes”, diz ele. Brito, que já foi presidente da Associação de Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), é o maior criador de touros no País. Todos os anos ele vende 2,5 mil animais de genética superior, entre eles 1,5 mil reprodutores.

Para o zootecnista William Koury Filho, dono da consultoria Brasilcomz, de Jaboticabal (SP), e juiz da raça guzerá, peso e tamanho de um animal são temas que não podem sair da agenda da Expozebu. “A equação entre peso e tamanho é a chave para se obter animais mais eficientes e mais produtivos”, diz. “Olhar o que está dando certo no campo deve ser o modelo de escolha do melhor na pista de julgamento.” Koury Filho, doutor em produção animal pela Universidade Estadual Paulista, estudou quase oito anos como fazer a avaliação visual em bovinos e escolher animais equilibrados. Em 2008, sua tese foi incorporada ao programa de melhoramento genético da ABCZ.

MOMENTO DE TRANSIÇÃO: Biagi, da ABCZ, diz que a Expozebu está mudando

A Associação de Criadores de Brahman do Brasil (ACBB) também vai por essa linha. Durante a Expozebu, a ACBB iniciou uma pesquisa entre os criadores da raça, com o objetivo de estabelecer se os animais devem ter um limite de peso para participar das avaliações em todas as exposições oficiais da entidade. “Se os criadores desejarem, mudamos a regra do jogo”, diz o presidente da entidade, o criador goiano Ari Marcos de Paula Barbosa. Segundo Biagi o caminho é exatamente esse: pensar no coletivo. “Qualquer mudança nos critérios de julgamento é um processo e vai de acordo com o que a maioria quer.”

Um estudo encomendado por Biagi aos técnicos da ABCZ mostra como os critérios de julgamento acompanharam a evolução da pecuária do País, ao longo dos 78 anos da Expozebu, ou seja, como tem pensado os criadores. “No início, como havia muito animal sem padrão racial, o mais importante era definir raças”, diz. “Depois vieram os anos em que o tamanho era o mais importante. Em seguida foi a vez do peso; depois, a precocidade.” Agora, parece que o momento é de transição de animais grandes para os mais equilibrados. “Os juízes são soberanos em suas escolhas”, diz Biagi. “Mas já é possível perceber essa virada de conceito na pista de julgamento.”