O maior prejuízo físico tanto para cavalos quanto para cavaleiros está na musculatura lombar. Uma sela que diminua esses impactos pode revolucionar a arte da equitação

Alô, alô, amante da equitação. Acostume-se com uma palavra: Talaris. Vem do latim. De talaria, que representa as sandálias aladas de Mercúrio, um deus que, na mitologia grega, era também chamado de Hermes. Graças à talaria, ele se movimentava com a velocidade dos ventos e também de forma graciosa. Essa mesma palavra agora dá nome a uma sela que promete revolucionar o mundo da equitação. Desenvolvida pela Hermès, uma das mais renomadas grifes de luxo do mundo, ela tem uma suspensão em fibra de carbono entre a capa de couro da sela e o animal. Graças a essa inovação, o impacto entre cavalo e cavaleiro se reduz drasticamente.

No início do mês de abril, DINHEIRO RURAL foi a única publicação brasileira a acompanhar, in loco, o lançamento da sela Talaris numa grande competição, o Saut Hermès, que distribuiu prêmios de 200 mil euros e foi vencida pelo cavaleiro alemão Marcus Ehning. O evento aconteceu em Paris, no Grand Palais. “O resultado dessa inovação é um conforto muito maior tanto para o cavaleiro como para o cavalo”, disse à DINHEIRO RURAL Laurent Goblet, o executivo da Hermès que desenvolveu o assento. “E o resultado do conforto é um desempenho melhor do animal, que salta ainda mais alto.”

O Saut Hermès distribuiu nada menos que 200 mil euros em prêmios e marcou a reabertura dos 13,5 mil metros quadrados do Grand Palais para grandes eventos equestres – a última prova de saltos ocorrida num dos pontos mais nobres de Paris havia se dado em 1957.

A deste ano, 53 anos depois, foi uma preparação para a final da Copa do Mundo de Hipismo, que ocorreu em Genebra, na Suíça, também no mês de abril. “Esse evento marca o reencontro da Hermès com seu passado”, disse à DINHEIRO RURAL Pierre- Alexis Dumas, diretor de criação da companhia e um dos netos do fundador Thierry Hermès. “Queremos que dure pelo menos pelos próximos 50 anos.” No início da competição, o CEO da companhia, Patrick Thomas, também evocou o simbolismo do reencontro. “Todos aqui sabem o quanto nós, da Hermès, devemos ao cavalo”, disse ele. Pura verdade.

De uma pequena selaria, a grife francesa se converteu num gigante do luxo, com receitas globais de R$ 4 bilhões, expandindo a elegância da equitação para outros domínios. Para quem já trabalhava com o couro das selas, por que não produzir também bolsas e outros acessórios? Depois, veio o insight de que as amazonas ficariam mais belas se também portassem lenços em seda pura, como os famosos carrés da Hermès. E depois vieram as gravatas, as roupas, as joias e todos os produtos da grife mais exclusiva do mundo do luxo.

Ainda assim, o cavalo é, nas palavras do próprio CEO Patrick Thomas, “a alma do negócio”. E o lançamento da sela Talaris será, segundo ele, um marco na história da equitação. “O resultado irá aparecer nas competições”, diz ele. Até porque, com as selas normais, a doença mais comum nos cavalos e nos cavaleiros ocorre na coluna vertebral – o que tende a diminuir com o novo sistema de absorção de impacto. Hoje, uma sela normal Hermès é vendida por cerca de 4 mil euros – a Talaris chega ao mercado por 7 mil euros. É feita de forma artesanal, num processo que leva cerca de 25 horas.

E segundo Laurent Goblet, que a desenvolveu, logo estará sendo usada pelos melhores cavaleiros do mundo. Entre eles o brasileiro Rodrigo Pessoa. “O Brasil é um mercado cada vez mais importante, pois tem alguns dos melhores cavaleiros do mundo e começa também a sediar algumas competições internacionais de peso no mundo da equitação”, diz ele. Além disso, a própria aproximação dos Jogos Olímpicos de 2016 fará com que o Brasil comece a formar equipes mais competitivas. Começando pela sela.