22/02/2017 - 12:25
O produtor Darcy Getúlio Ferrarin, que cultiva cerca de 30 mil hectares de soja e milho nos municípios de Sorriso, Vera e Gaúcha do Norte, no Estado de Mato Grosso, recebeu com um certo ceticismo a notícia de que o Brasil está a caminho de um novo recorde de produção de grãos com um certo ceticismo. “Vamos ver. Não sei se está ocorrendo uma super safra”, diz Ferrarin. “Até agora, o clima foi muito favorável para nós, mas como o setor estava muito descapitalizado por causa da quebra da safra passada, acredito que o uso de fertilizante por hectare tenha caído muito, o que pode comprometer a produtividade.”
A primeira estimativa de 2017 da Companhia Nacional de Abas-tecimento (Conab), apresentada no mês passado, e a quarta da safra 2016/2017, mostra uma produção de grãos de até 215,3 milhões de toneladas, volume 15,3% superior à safra anterior, equivalente a 28,6 milhões toneladas a mais. A Conab tem apresentado números para esta safra acima do período 2014/2015, também considerado excepcional (confira quadro). Mas ainda faltam oito levantamentos para que o número seja batido. Embora o levantamento seja para cerca de 20 tipos de grãos, soja e milho são as commodities que neste momento estão no radar dos produtores no Centro-Oeste, porque é a hora da colheita de um e do plantio do outro. Para a soja, em período de colheita até o mês de abril, a previsão é chegar a103,7 milhões de toneladas, ante 95,4 milhões na safra passada, um crescimento de 8,7%. No milho, a previsão é chegar a 84,5 milhões de toneladas, volume 26,9% superior aos 66,6 milhões de toneladas na safra 2015/2016.
Para o filho de Ferrarin, Darcy Ferrarin Júnior, 36 anos, administrador de empresas que vem assumindo os negócios da família no processo de sucessão, o que já dá para esperar nesta safra são preços um pouco melhores. “Os preços estão bons hoje e acho que a soja pode chegar a US$ 11 o bushel”, afirma Ferrarin Júnior. No final de janeiro, no índice Esalq/BM&FBovespa, elaborado pelo Cepea, a soja estava cotada a R$ 76 a saca de 60 quilos no porto de Paranaguá (PR). Em relação ao bushel, medida americana, uma saca de 60 quilos equivale a 2,2 bushel.
Os produtores brasileiros tem como medida que cotações acima de US$ 10 o bushel na Bolsa de Chicago é uma boa venda. “Também podemos ter boas oportunidades por causa da Argentina.” O produtor se refere à previsão de queda de produção da ordem de cinco milhões de toneladas no país, em função do excesso de chuvas. A Bolsa de Comércio de Rosário estima um recuo de 124,9 milhões de toneladas para 119,7 milhões de toneladas na produção da Argentina. Já para o milho, Ferrarin Júnior acredita que a retomada da produção pode trazer uma certa tranquilidade ao setor. “É muito ruim para o produtor e para o comprador, em um único mês, o preço da saca sair de R$ 17 para R$ 40 e vice-versa.”
Assim como Fer-rarin, Marcos Rosa, presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil) e produtor rural no município de Canarana (MT), também vê com cautela a previsão de uma super safra. “Nós estamos trabalhando para que seja uma grande safra”, diz Rosa. “Mas o que importa ao produtor é a rentabilidade. Não interessa ter produção sem renda e essa conta ainda não está fechada.” Isso porque os produtores tiveram perdas enormes na safra passada e muitos estão trabalhando nesta safra para pagar as contas, embora o governo tenha anunciado ajuda ao setor.
O fato é que uma safra recorde significa mais dinheiro em toda a cadeia, da produção aos insumos, agroindústrias e máquinas. Assim, é esperado que o aumento da produção mantenha o Produto Interno Bruto do Agronegócio (PIB) do setor em sua rota ascendente.
Tomando dados de mercado apurados pelo Cepea/USP e pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), o PIB do setor para 2016 está estimado em R$ 1,42 trilhão, 3% acima de 2015. Para 2017, a previsão é que o setor cresça o dobro, 6% no ano, o que elevaria a receita para R$ 1,5 trilhão. A estimativa é que PIB do País cresça 0,3% até o fim do ano.