Ao som de “Sou brasileiro, com muito orgulho” e “Olê, olê, olá, Lula, Lula”, os lulistas agitaram as bandeiras vermelhas em frente a casas, lojas e estabelecimentos comerciais da família Bolsonaro, em Eldorado, no Vale do Ribeira, interior de São Paulo. Assim que a vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi confirmada, às 19h30 de ontem, fogos de artifício foram disparados.

“Esperamos muito por isso, fomos muito humilhados”, disse Genivaldo Zulmiro Dias, de 46 anos, líder no quilombo Pedro Cubas. A festa aconteceu na parte baixa da Praça Nossa Senhora da Guia, a principal da cidade, em frente à matriz.

Bandeiras com foto de Lula eram balançadas ao embalo de coros como “Fora Bolsonaro” e “Agora é Lula aqui”. Na parte alta, onde um número bem maior de bolsonaristas acompanhava a apuração, as bandeiras do Brasil eram recolhidas. Enquanto isso, do outro lado, centenas de manifestantes surgiram de todos os lados e foram enchendo o lugar.

Pouco importava que, em sua cidade, Bolsonaro teve 54,16% dos votos válidos (4.362), enquanto Lula, 45,84% (3.683), repetindo a mesma votação de 2018, quando se elegeu presidente. “Uma vitória com gosto amargo”, disse Rafael Rocha, um bolsonarista.

Eldorado é a cidade onde Bolsonaro passou a juventude e adotou como sua terra, embora tenha nascido em Glicério, na região noroeste do Estado. Apesar de estar na região mais pobre de São Paulo, Eldorado tem Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,773, considerado alto.

Mesmo vencendo, Bolsonaro teve votação menor do que em outras cidades da região. Eldorado nunca teve prefeito petista e, dos nove vereadores, nenhum é do partido de Lula.

QUILOMBOS

Uma das explicações para a festa teria explicação nos 13 quilombos de Eldorado, onde vive um terço da população do município, de 15.592 habitantes. Em abril de 2017, em palestra em um clube do Rio de Janeiro, já como pré-candidato a presidente, Bolsonaro disse que havia visitado um quilombo em sua cidade e constatou que os quilombolas eram preguiçosos, nem para procriar serviam mais e “o afrodescendente mais leve lá pesa sete arrobas”.

Para Dias, o presidente privilegiou os mais ricos. “Aqui, na cidade do Bolsonaro, é tudo produtor de banana que gosta de tomar conta até das terras que não são deles, inclusive dos territórios quilombolas. Eles impõem os salários que querem pagar, e nós somos obrigados a ficar quietos.”

Dias, que usava uma camisa com a foto do ex-presidente petista, disse que votou em Lula “com a esperança de mudar”. No Ivaporunduva, único quilombo já reconhecido oficialmente, Lula ganhou de lavada no primeiro turno: 388 votos a 21.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.