01/05/2012 - 0:00
A cruzada dos defensivos
A indústria de agroquímicos quer mudar
– No Brasil
1,4 milhão de propriedades utilizam agroquímicos de maneira inadequada
5 mil pessoas são intoxicadas por ano
– No mundo
20 mil pessoas morrem de intoxicação aguda por agroquímicos por ano
Consumir alimentos contaminados por defensivos agrícolas, ou agrotóxicos, como são conhecidos na linguagem popular, é uma das maiores preocupações da sociedade. Trata-se de um problema e tanto para os fabricantes do setor, que, a despeito dos modernos recursos tecnológicos destinados à produção agrícola, têm sido incapazes de eliminar esse temor. “A agricultura consegue alimentar sete bilhões de pessoas no mundo, mas falha em acabar com esse medo”, diz Donizeti Vilhena, gerente global de sustentabilidade e meio ambiente da DuPont Brasil Produtos Agrícolas. A americana DuPont é uma das maiores fabricantes mundiais de produtos químicos em geral, inclusive defensivos para combater as pragas das lavouras.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), das Nações Unidas (ONU), mostram que pelo menos cinco mil pessoas são intoxicadas, por ano, por agroquímicos, no Brasil. Os casos registrados vão da contaminação dos agricultores, por aplicar defensivos agrícolas de forma inadequada, às pessoas que compram e consomem alimentos com excesso de resíduos de agroquímicos. Dados do IBGE confirmam o que diz a OMS: 56% das propriedades rurais do País, algo em torno de 1,4 milhão, utilizam agroquímicos de maneira inadequada. O Brasil é o maior consumidor global de defensivos agrícolas, com um movimento anual de R$ 14 bilhões.
“Queremos aumentar a produção agrícola com segurança” – DONIZETI VILHENA, gerente de sustentabilidade da DuPont
Para mudar esse cenário, fabricantes de defensivos, como as americanas Dupont e Dow AgroSciencesa, a suíça Syngenta, a alemã Basf e a israelense Milênia, estão investindo em projetos de educação socioambiental para reduzir em até 90% os riscos de contaminação e prejuízos ao meio ambiente e à saúde dos agricultores. Essas empresas contam com mudanças de atitude no campo, como ocorreu com o agricultor Ulisses Fanton, produtor de cana-deaçúcar na fazenda São Sebastião, em Bariri, no interior paulista. “Antes, não havia regras e o desconhecimento do que fazer com os agroquímicos era geral”, diz Fanton. “Hoje temos essas regras e, quando bem utilizados, os produtos químicos e os equipamentos são ferramentas eficazes na redução de riscos socioambientais. “Nos 50 hectares de sua fazenda, o agricultor colhe quatro mil toneladas de canade- açúcar por safra. Ele conta que há duas décadas era comum ver um trabalhador rural manusear agrotóxico sem utilizar luvas, além de usar bombas desreguladas para a aplicação dos defensivos. “Essas bombas jogavam excesso de produtos químicos nas lavouras e provocavam doenças nos agricultores.”
Hoje, os pulverizadores ganharam versões mais seguras e os produtos passaram a ter o seu grau toxicológico estampado em faixas coloridas na embalagem, que alertam para a necessidade do uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) para fazer a aplicação. “As campanhas educativas, que começaram a chegar ao campo junto com produtos mais seguros provocaram muitas mudanças de comportamento do agricultor”, diz Fanton. Para dissiminar as novas práticas a DuPont está investindo em todo o mundo US$ 10 bilhões em educação no campo. “Queremos aumentar a produção de alimentos de maneira sustentável e com segurança agrícola.” As ações da multinacional americana não começaram agora. Elas vêm desde 2002, quando foi criada a plataforma Segurança e Saúde no Campo. Até o ano passado, a Dupont havia lançado cinco diferentes projetos de sustentabilidade, que já ofereceram orientação sobre segurança no trabalho rural a mais de 700 mil pessoas. Um desses projetos é o programa DuPont Mulheres no Campo. “Nós buscamos o público feminino”, diz Vilhena. “As esposas e filhas de produtores rurais repassam as informações sobre boas práticas agrícolas mais facilmente aos filhos e maridos.” Desde 2010, quase cinco mil mulheres já passaram pelo programa. Outra plataforma é o treinamento da mão de obra para o uso correto dos equipamentos de segurança. “Aplicar o defensivo de forma correta é o princípio de tudo na agricultura, porque o veneno e o remédio são feitos das mesmas substâncias, o que muda é a dosagem.”