14/09/2022 - 18:01
Após avançar 1,77% na terça-feira, na esteira da liquidação de ativos de risco provocada pelo susto com a inflação ao consumidor nos EUA em agosto, o dólar apresentou oscilações modestas na sessão desta quarta-feira, 14. Com variação de apenas cerca de quatro centavos entre a mínima (R$ 5,1510) e a máxima (R$ 5,1980), a divisa acabou encerrando o dia cotada a R$ 5,1782, em baixa de 0,18%. Na semana, apresenta valorização de 0,59%.
Segundo operadores, o pregão foi marcado por cautela e ajustes finos de posições. A falta de apetite por negócios se refletiu no giro reduzido do contrato futuro de dólar para outubro, de menos de US$ 10 bilhões. Sem surpresas com o índice de inflação ao produtor (PPI, na sigla em inglês) dos EUA em agosto, não houve mudanças relevantes na perspectiva para o ritmo e a magnitude da alta de juros pelo Federal Reserve – principal norteador do comportamento da moeda americana tanto lá fora quanto no mercado doméstico, uma vez que a corrida eleitoral tem sido deixada em segundo plano.
Continuam majoritárias as expectativas de que o BC americano vai anunciar uma alta de 75 pontos-base na taxa básica – hoje na faixa entre 2,25% e 2,50% – na semana que vem (dia 21). Uma ala do mercado aventa a possibilidade de elevação de 100 pontos-base, dada a resistência e a disseminação da inflação. Os ativos parecem já terem incorporado a possibilidade Fed Funds acima de 4% no fim deste ano.
O PPI dos Estados Unidos caiu 0,1% em agosto ante julho, em linha com o esperado. O núcleo do índice – que exclui itens voláteis como alimentos e energia – avançou 0,4%, acima do das expectativas (0,3%), mas sem provocar marolas no mercado. No acumulado de 12 meses encerrados no mês passado, o PPI saltou 8,7%, enquanto o núcleo subiu 5,6%.
“O mercado está bem mais tranquilo hoje. O PPI saiu de manhã dentro das expectativas e o dólar está escorregando um pouco lá fora. Acredito que a taxa de câmbio vai seguir com suporte em R$ 5,10 e resistência em R$ 5,21 nesse compasso de espera pelo Fed”, afirma analista de câmbio da corretora Ourominas, Elson Gusmão.
No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – trabalhou em leve baixa ao longo do dia, mas se manteve em níveis elevados, acima da linha dos 109,000 pontos. O euro apresentou leve alta enquanto o iene subiu mais de 1% em meio à possibilidade de que o Bando do Japão (BoJ) possa intervir para dar sustentação à sua moeda. O dólar caiu na comparação com a maioria de divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Em relação a pares latino-americanos do real, subiu ante o peso chileno e recuou na comparação com o peso mexicano.
Para o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, a perspectiva é de um dólar mais forte globalmente, o que vai respingar nas moedas emergentes. A tese de que a inflação americana teria feito pico no segundo trimestre caiu por terra com a divulgação do CPI de agosto na terça – e o que se avizinha é um aperto monetário mais forte nos EUA, com alta de juros e redução mais rápida do balanço patrimonial do BC americano.
“O Fed vai ter que priorizar o aperto monetário porque a inflação está alta e disseminada. O resultado vai ser um dólar mais forte e resultados piores das companhias abertas americanas, o que vai provocar correção nos mercados acionários”, afirma Velho, ressaltando que deve haver redução de fluxo de recursos para emergentes.
Como a piora do ambiente para ativos de risco e a alta global do dólar tendem a manter o real na berlinda, haverá menos espaço para que o Banco Central brasileiro reduza os juros ao longo de 2023, argumenta o economista da JF Trust. “Aumentou a percepção de que o juro brasileiro vai ter que ficar na casa de dois dígitos no ano que vem. O BC teria até que dar alta adicional de 0,25 ponto porcentual neste mês, para reforçar a sinalização de que vai defender sua moeda e porque as expectativas de inflação ainda estão acima da meta”, afirma.
Dados do fluxo cambial divulgados nesta quarta à tarde pelo Banco Central mostram que falta de apetite dos estrangeiros por ativos locais. Em setembro, até o dia 9, o fluxo foi negativo em US$ 2,259 bilhões – resultado de saída de US$ 2,619 bilhões pelo canal financeiro e entrada de apenas US$ 360 milhões via comércio exterior no período. Na semana passada (de 5 a 9 de setembro), o fluxo total foi negativo em US$ 2,680 bilhões, com saída tanto no canal financeiro (US$ 1,725 bilhão) quanto no comercial (US$ 955 milhões).