Vinte e oito anos depois de chegar ao governo de São Paulo com Mário Covas em 1994, o PSDB sofreu ontem sua pior derrota desde que perdeu a Presidência da República quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) superou José Serra na eleição presidencial em 2002 para suceder a Fernando Henrique Cardoso. Enquanto buscam entender os motivos que levaram o governador Rodrigo Garcia a ficar de fora do segundo turno da disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, após um conturbado processo interno que fez com que o partido ficasse de fora da eleição presidencial pela primeira vez desde a redemocratização, os tucanos já discutem o que fazer a partir deste novo cenário.

Entre a desolação e o pessimismo com o futuro, dirigentes e quadros históricos do PSDB se dividiram ao avaliar os motivos que levaram ao fim da hegemonia paulista, mas convergem na tese de que a guerra fratricida desencadeada após a ascensão de João Doria em 2018 foi determinante.

Depois de superar Márcio França (PSB) no 2.° turno em 2018, com uma estratégia de surfar na onda Jair Bolsonaro e diante do fiasco da candidatura de Geraldo Alckmin naquele ano, Doria tornou-se o candidato natural à Presidência em 2022 e tentou promover uma guinada à direita no PSDB.

Na concepção do político com origem no mundo empresarial, o partido deveria ficar menos social-democrata e mais liberal. Essa transição, somada a um discurso antipetista, seria a fórmula para os tucanos recuperarem o prestígio com o eleitorado que migrou para o bolsonarismo, mas se ressentia dos arroubos do presidente.

O estilo voluntarista de Doria, porém, explodiu pontes. O racha que mais tarde culminaria no processo disruptivo das prévias presidenciais começou em um jantar no ano passado no qual o entorno do governador surpreendeu o presidente da sigla, Bruno Araújo, ao defender, sem nenhuma articulação prévia, que o chefe do executivo paulista assumisse o comando partidário.

Naquela altura, Doria já havia traçado um plano de voo que previa projetar Rodrigo Garcia na administração, filiá-lo ao PSDB e lançá-lo candidato à sua sucessão. Mesmo após vencer as prévias, no entanto, Doria passou a ser atacado por adversários internos e não conseguiu se viabilizar sua candidatura presidencial.

FUTURO

O PSDB tem agora um projeto claro no horizonte: tentar liderar a oposição ao governo federal e buscar recuperar o protagonismo no campo da centro-direita. Essa estratégia esbarra na resistência interna do grupo de tucanos que prega o apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e uma eventual composição no governo do petista. A leitura na cúpula da legenda, porém, é que essa ala é minoritária e não há outra alternativa além de lutar para desalojar o bolsonarismo da linha de frente antipetista.

Já em São Paulo a narrativa é outra. “Não podemos jogar 28 anos no lixo e ir na oposição em São Paulo. A minha posição é que devemos nos posicionar no 2.° turno. Vou convocar o diretório e a bancada da capital para fazer uma consulta. Haddad e Tarcísio têm programas semelhantes ao do PSDB”, disse o presidente do PSDB paulistano, Fernando Alfredo.

“Seria ruim ficarmos neutros em São Paulo. O PSDB precisa tomar uma posição no 2.° turno e apoiar quem assinar uma carta de compromisso com a sociedade”, complementou Orlando Morando, prefeito de São Bernardo do Campo e membro da direção executiva tucana.

No plano nacional, todas as atenções do partido se voltam agora para o ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que vai disputar o segundo turno. “Se vencer, o Eduardo Leite passa a ser uma referência. O espaço político do PSDB vai continuar existindo”, avaliou o ex-senador José Aníbal.

Quadro histórico do PSDB, ele está entre os que divergem da tese de que o partido deve ir para a oposição a um eventual governo Lula. “O partido deve costurar o centro democrático e fazer a interlocução entre o governo e o parlamento”, diz Aníbal.

AVALIAÇÃO

No momento de avaliar as razões da derrota de Garcia no 1.° turno mesmo tendo a retaguarda da máquina, tucanos dizem reservadamente que a campanha pela reeleição foi errática e falhou ao adotar a linha do nem esquerda, nem direita. Auxiliares de Garcia dizem que a campanha não conseguiu quebrar a polarização porque se formou uma disputa entre duas “igrejas” e avaliam que não adiantaria ter forçado a mão no antipetismo, como defenderam políticos tucanos durante o processo eleitoral.

“Filiado a pouco tempo no PSDB, Rodrigo Garcia não convenceu o eleitorado de quem representa o legado do partido desde Mário Covas”, disse a cientista política Vera Chaia, professora da PUC-SP.

Integrante da executiva nacional e tesoureiro do PSDB, César Gontijo é cauteloso ao avaliar erros, mas acredita que o principal deles foi não ter candidato próprio ao Palácio do Planalto.

Sobre o futuro, ele prega que o partido se “reinvente” para liderar a oposição. “Precisamos recuperar o protagonismo no campo da centro-direita”, afirmou.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.