A Embrapa teve seis propostas aprovadas na Chamada do Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia – INCT – MCTI/CNPq/CAPES/FAPs. O resultado foi divulgado nesta quarta-feira, 12. As propostas foram inscritas em 2014 e selecionadas entre as 345 submetidas ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A captação de recursos para os projetos é estimada em R$ 53 milhões, valor que ainda precisa ser confirmado durante as negociações individuais com cada coordenador.

O presidente da Embrapa, Maurício Lopes, avalia como “uma notícia extremamente positiva. A Embrapa não tinha a liderança de nenhum INCT e recebe a aprovação das propostas com muita alegria. É uma conquista que reflete a qualificação e o engajamento dos pesquisadores na busca de soluções na fronteira do conhecimento para desafios da agricultura brasileira”.

A Chamada do CNPq teve por objetivo apoiar atividades de pesquisa de alto impacto científico em áreas estratégicas e na fronteira do conhecimento que busquem solução de grandes problemas nacionais. Ela busca também promover a consolidação os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) que ocupam “posição estratégica no Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação”, além da formação de novas redes de cooperação científica de caráter nacional e internacional.

Os Institutos Nacionais são liderados por grupos de excelência. Eles caracterizam-se como estruturas de pesquisa que desenvolvem articuladamente projetos em rede, com objetivos e metas claramente definidos e mensuráveis. O Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia é coordenado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. A gestão operacional é feita pelo CNPq, em articulação com outras entidades que aportam recursos financeiros ao programa.

A Diretoria de Pesquisa & Desenvolvimento da Embrapa, em conjunto com o Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD), priorizou quatro áreas: Agricultura de Baixo Carbono; Automação; Biotecnologia e uso sustentável da biodiversidade; e Agroenergia. O diretor de P&D, Ladislau Martin Neto, explica que a Embrapa até o momento não liderava nenhum INCT e por isso foi articulado um grande esforço de mobilização das equipes para apresentação de propostas de alta densidade “pela importância que o programa possui, não apenas como fonte de recursos para suporte a pesquisa e inovação na fronteira do conhecimento, mas pela capacidade de contribuir com soluções para a agricultura brasileira”.

Os projetos da Embrapa
As propostas selecionadas são coordenadas por Carlos Manoel Pedro Vaz, da Embrapa Instrumentação (proposta na área de Automação); Elíbio Leopoldo Rech Filho, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (na área de Biotecnologia); Mariangela Hungria da Cunha, da Embrapa Soja (no tema Agricultura de Baixo Carbono); Eduardo Assad, da Embrapa Informática Agropecuária (em Mudanças Climáticas e agricultura sustentável); Maria Fátima Grossi de Sá, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e Marco Aurelio Delmondes Bomfim, da Embrapa Caprinos e Ovinos.

Eduardo Assad coordena o projeto INCT “Mudança no clima e agricultura sustentável”, linha estratégica “Tecnologias ambientais e mitigação mudanças climáticas”. Os recursos originalmente solicitados são de R$ 9,9 milhões e o projeto reúne 404 pesquisadores de 19 instituições nacionais e internacionais. O conjunto de ações prevê pesquisas relacionadas a 40 sistemas de produção, envolvendo, por exemplo, 92 unidades de referência tecnologias (URTs).

Um dos primeiros benefícios é “mostrar como podemos avançar na definição nos fatores de emissão nacionais por bioma, o que vai ter um impacto muito forte no cumprimento das INDCs negociados na Conferência da ONU para a Mudança do Clima (COP-21), que ocorreu em Paris no ano passado”, explica Eduardo Assad. As INDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas) são os compromissos do País para reduzir as emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE). O conhecimento dos fatores de emissão permitirá a melhoria dos fatores de emissão agrícola que fazem parte do inventário nacional dos gases de efeito estufa. Outra contribuição deve ser a introdução, em larga escala da chamada análise de ciclo de vida, que é o consumo dos gases de efeito estufa ao longo da produção agrícola, “fundamental no comércio dos produtos com certificação”, diz Assad. Com o andamento do projeto também é esperado avanço substancial a partir do uso de imagens de satélite com resolução de cinco metros para caracterização da degradação dos solos. Cada gradação possui um determinado nível de emissão. 

Todos os resultados vão dar suporte ao desenvolvimento dos sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta e seus impactos no desenvolvimento de uma agropecuária de baixo carbono no país. Uma das características é a existência de um comitê gestor e decisões tomadas em colegiado composto pelos líderes da linha de pesquisa assessorados por comitês científicos e de tecnologia de informação e comunicação. Uma outra é a ênfase em comunicação científica e transferência de tecnologia com o uso de meios digitais avançados. O projeto deve ter quatro anos de duração.

O projeto INCT Synthetic Biology, apresentado pelo pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Elíbio Leopoldo Rech Filho, foi uma das propostas aprovadas. O objetivo é formar uma rede de pesquisas interdisciplinares em biotecnologia aplicada à agregação de valor à biodiversidade, por meio da colaboração de institutos de pesquisa e empresas em diferentes regiões do País e no exterior. De acordo com Elíbio Rech, o INCT-BioSyn contará com o apoio e será incluído no consórcio de biologia sintética “OpenPlant” (do inglês Open Technologies for Plant Synthetic Biology), formado pelas mais importantes universidades, empresas e institutos de pesquisa do Brasil e do mundo que trabalham com o tema biologia sintética. A proposta prevê recursos ao redor de R$ 10 milhões.

A pesquisadora Maria Fátima Grossi de Sá, também da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, aprovou o projeto “Ativos biotecnológicos aplicados à seca e pragas das culturas relevantes para o agronegócio”. A perspectiva é contar com recursos de 8 milhões. O pesquisador Marco Aurelio Delmondes Bomfim, da Embrapa Caprinos e Ovinos também teve sua proposta aprovada. O valor estimado é de R$ 7 milhões.

“Vamos pesquisar processos e biomoléculas de origem microbiana visando maximizar a nutrição das plantas e o rendimento das culturas com menor aporte de fertilizantes químicos e menor impacto ambiental”, destaca Mariangela Hungria, pesquisadora da Embrapa Soja, que também teve projeto selecionado. Ele resultou do trabalho de 89 pesquisadores especialistas em mais de 40 temas, sediados em 12 estados e no Distrito Federal.  Ela conta que estão previstos resultados como o lançamento de pelo menos 35 ativos biotecnológicos, 150 artigos científicos e a capacitação de recursos humanos. Estima-se que o pacote tecnológico gerado possa ser valorado em mais de US$ 25 bilhões anuais, considerando a redução no uso de fertilizantes químicos, além da mitigação de 30 milhões de toneladas de equivalentes de CO². 

“A formação desse INCT trará grande contribuição para a sustentabilidade agrícola, abrindo oportunidades para aquilo que pode ser definido como uma verdadeira ‘microrrevolução verde’, com impacto na produtividade, mas com responsabilidade ambiental”, explica Mariangela Hungria. A previsão é de recursos de R$ 8,8 milhões.

Um dos projetos aprovados foi a formação de uma rede multidisciplinar de pesquisa envolvendo seis Unidades da Embrapa (Embrapa Instrumentação, Embrapa Pecuária Sudeste, Embrapa Informática Agropecuária, Embrapa Semiárido, Embrapa Cerrados e Embrapa Gado de Leite) e dez Universidades e Instituições de pesquisa técnico-científica (USP, UNESP, UFSCar, UNIVASF, UEM, UFBA, UFG, SENAI e IMA-MT) com o objetivo de desenvolver tecnologias e inovações em automação e computação para o aumento da eficiência dos processos de produção, processamento e rastreabilidade dos produtos nas diversas cadeias da agropecuária nacional. O valor previsto é R$ 9,9 mihões. Neste caso, como nos outros, ainda haverá uma fase em que os valores previstos serão negociados.

“A aprovação do mérito técnico da proposta pelo CNPq é um reconhecimento da relevância do tema para o país e da excelência da equipe, que congrega centros de temas básicos, ecorregionais e de produtos da Embrapa, Universidades e Centros de Pesquisa de reconhecida competência no Brasil e no mundo”, avalia o coordenador do projeto, Carlos Vaz, da Embrapa Instrumentação.

Importância da conquista
O chefe do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD), Celso Moretti, comenta que é uma conquista importante, “principalmente em um momento de restrições orçamentárias”. Além disso, é um reconhecimento aos pesquisadores da Embrapa: “são projetos de grande envergadura, em áreas de alta competitividade e importância”.

Os quatro INCTs liderados pela Embrapa organizarão um conjunto de iniciativas de relevância em determinada área do conhecimento e com grande capacidade de promover inovações para a transformação do País. O nível de exigência faz com que o processo de seleção seja bastante longo e envolva cientistas de diferentes instituições de vários países, com diferentes formações. Ladislau Neto diz que “os coordenadores dos projetos não apenas fizeram propostas muito consistentes como tiveram a capacidade de demonstrar como elas podem ser significativas para impactar a agricultura”.

Cada uma das 345 propostas inscritas foi avaliada por, no mínimo, três consultores ad hoc internacionais. Depois, passaram pelo Comitê Julgador composto por 35 cientistas brasileiros e estrangeiros de diferentes áreas do conhecimento. Elas, necessariamente, deveriam “responder a demandas de políticas públicas ou situar-se em área de fronteira do conhecimento que resulte em avanço do conhecimento científico ou em desenvolvimento tecnológico inovador”. Até 11 de julho o MCTI, por intermédio do CNPq, negocia com as instituições parceiras o financiamento das propostas.

Saiba mais sobre o Programa INCT
O Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia busca mobilizar e agregar, de forma articulada, os melhores grupos de pesquisa em áreas de fronteira da ciência e em áreas estratégias para o desenvolvimento sustentável do País. Ele também parte da necessidade de impulsionar a pesquisa científica básica e fundamental para ser competitiva internacionalmente. O Programa se responsabiliza pela formação de jovens pesquisadores e apoia a instalação e o funcionamento de laboratórios em instituições de ensino e pesquisa e empresas, proporcionando a melhor distribuição nacional da pesquisa científico-tecnológica, e a qualificação do país em áreas prioritárias para o seu desenvolvimento regional e nacional.

A criação dos institutos contou com parceria da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC) e as Fundações de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), do Pará (Fapespa), de São Paulo (Fapesp), Minas Gerais (Fapemig), Rio de Janeiro (Faperj) e Santa Catarina (Fapesc), Ministério da Saúde e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Os Institutos Nacionais de C&T ocupam posição considerada estratégica no Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, tanto pelo alto nível de excelência e qualidade de pesquisa, como pela maior complexidade de sua organização e porte do financiamento. Liderados por grupos de excelência, caracterizam-se como estruturas de pesquisa que desenvolvem articuladamente projetos em rede, com objetivos e metas claramente definidos e mensuráveis, com foco de atuação em politicas públicas de Estado e/ou em pesquisas na fronteira do conhecimento. Os INCT devem abranger preferencialmente quatro vertentes: pesquisa, formação de recursos humanos, internacionalização e transferência do conhecimento para o Setor Empresarial e para o Setor Público. Todos os INCT devem prever ações de difusão e disseminação do conhecimento para a sociedade. Fonte: Embrapa.