Os Estados Unidos surpreenderam novamente ao criar 517 mil empregos no mês de janeiro, o que deve servir de combustível para o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) subir mais os juros e mantê-los em patamares elevados para combater a inflação na maior economia do mundo. Se antes Wall Street estava esperando corte de taxas ainda neste ano, o mercado de trabalho mudou as perspectivas de bancos e consultorias.

O payroll, como é chamado o relatório de empregos dos EUA, superou até mesmo as expectativas mais otimistas. Trata-se do dobro do número de dezembro, e ficou bem acima do teto das projeções de analistas. Segundo o documento, o desemprego caiu para 3,4%, o menor patamar em décadas, com abertura de vagas em todos os setores da economia.

O economista do BNP Paribas para os Estados Unidos, Andy Scheider, classificou o payroll de janeiro como “inequivocamente forte” em um mês em que, tradicionalmente, as empresas demitem, o que se traduz em uma alta demanda por trabalhadores e uma oferta ainda restrita.

Apesar da forte criação de empregos, os salários dos trabalhadores americanos vieram em linha com as projeções, com alta de 0,30% em janeiro em relação a dezembro. O avanço é “moderado”, mas ainda “desconfortavelmente forte” para o Fed. O presidente do órgão, Jerome Powell, disse nesta semana que a queda da inflação nos EUA é “encorajadora”, mas o mercado de trabalho no país ainda está “muito forte”.

“Depois da reunião mais recente do Fed, o mercado realmente parecia duvidar da determinação do Fed de aumentar ainda mais os juros e manter as taxas em níveis elevados. O payroll de janeiro só vai tornar o Fed mais decidido”, diz Scheider, do BNP.

O relatório de emprego dos Estados Unidos também deve alterar as projeções do dólar no Brasil. Se antes havia a perspectiva de queda (pelo menos, no curto prazo) em razão da política de juros das autoridades monetárias dos EUA e brasileira, agora o cenário deve mudar. Ontem, a moeda americana fechou com alta de 2,03%, a R$ 5,14.

Nesta semana, o banco central americano elevou os juros básicos nos EUA em 0,25 ponto porcentual, empurrando as taxas para o intervalo de 4,50% a 4,75% ao ano.

MUDANÇA

Levantamento da plataforma CME Group capturou uma mudança nas expectativas dos economistas. A probabilidade de corte de juros desabou de 63,7%, na quinta-feira, para 31,3% depois da divulgação do relatório de ontem.

A maioria das consultorias e bancos em Wall Street vê os Fed Funds, que são os juros básicos nos EUA, subindo acima dos 5% ao ano, com pelo menos mais duas altas de 0,25 ponto nas reuniões de março e de maio. O Citi prevê o Fed elevando as taxas até junho, para o intervalo de 5,25% a 5,50% ao ano.

Na visão da economista da ASA Investments, Andressa Durão, o payroll de janeiro chancela das declarações de Powell, que tem dito que o corte de juros não vem tão cedo. Ela afirmou, porém, que é preciso cautela quanto aos números do relatório uma vez que foi feita uma revisão retroativa nas séries dos anos anteriores.

“O dado veio mais favorável à economia dos Estados Unidos, mas as séries foram revisadas por conta de novas estimativas de população, então, teve impacto na quantidade de trabalhadores procurando emprego”, disse Andressa.

DESACELERAÇÃO

As consultorias estão divididas sobre projeções de crescimento da economia. BNP Paribas e a Oxford Economics veem os EUA em recessão a partir do segundo trimestre. Por outro lado, Capital Economics e Goldman Sachs acham que a maior economia conseguirá evitar um pouso forçado.

O economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), Robin Brooks, reforçou ontem a segunda corrente. Ele disse que o payroll “acaba com os temores de uma recessão nos EUA”. “Cada vez mais, parece que a inflação está caindo sem uma recessão profunda.”

Para o presidente dos EUA, Joe Biden, o payroll foi motivo de comemoração. “Os empregos estão aumentando, a inflação está diminuindo e meu plano econômico está funcionando”, escreveu em sua conta no Twitter.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.