07/08/2021 - 17:00
Um número crescente de companhias está redesenhando suas ofertas iniciais de ações (IPO, pela sigla em inglês) na Bolsa para terem mais sucesso na empreitada. Para ganhar agilidade, algumas diminuem o número de ações a ser vendidas ou escolhem destinar a oferta apenas a investidores institucionais, como os fundos de investimento e os de pensão, deixando as pessoas físicas de fora. Os ajustes ocorrem em um ano já de recorde de ofertas de ações no Brasil e com estimativas de o volume superar os R$ 200 bilhões no consolidado de 2021.
Várias operações têm saído abaixo do valor inicialmente previsto. Foi o caso da Oncoclínicas, cuja oferta deverá ser de R$ 3,6 bilhões, abaixo dos R$ 6 bilhões previstos inicialmente. Já a Raízen, sociedade entre Cosan e Shell, fez uma oferta inicial de ações que movimentou R$ 6,9 bilhões – ante os R$ 13 bilhões estimados antes da largada. No setor de saúde, a rede hospitalar Kora foi mais uma que decidiu lançar sua oferta de ações voltada para investidores institucionais. Antes, o mesmo modelo havia sido adotado nas ofertas da Infracommerce, Dotz e do banco BR Partners.
A Viveo, holding que reúne os negócios da Cremer e da Mafra Hospitalar, trilhou o mesmo caminho. A empresa, que acaba de concluir sua oferta, postergou o IPO inicialmente previsto para o início do ano e lançou a oferta apenas para institucionais e ancorada em fundos como a Dynamo e Equitas, além do fundo soberano de Cingapura GIC.
Quando uma empresa decide fazer sua oferta apenas para fundos de investimento, precisa cumprir exigências da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o xerife do mercado de capitais no Brasil. Além de não poder vender as ações da oferta para pessoas físicas, como normalmente ocorre, existe uma limitação da quantidade de investidores que os bancos podem abordar no processo. A vantagem, contudo, é a rapidez desse processo, principalmente em relação a um IPO normal, cujas negociações se estendem por semanas.
Clima favorável
Sócio do BTG Pactual e responsável pela área de renda variável do banco, Fábio Nazari comenta que o mercado está muito bom para as ofertas de ações, com bastante apetite dos investidores, mas para algumas operações a decisão tem sido mudar a fórmula para ajustar ao momento do mercado.
“Quando fazemos a oferta com esforços restritos (a direcionada apenas a um grupo de investidores institucionais), a oferta é lançada apenas quando se encontra a demanda”, diz. Isso gera mais tranquilidade no processo, exatamente porque a operação sai quando já existe um grupo de investidores interessados e que garantirão o sucesso dela, explica.
Segundo o responsável global pelo banco de investimento do Itaú BBA, Roderick Greenless, a sugestão às empresas que postergaram a oferta tem sido de manter o processo para se obter o registro de companhia aberta com a CVM, mesmo sem lançar ações em um primeiro momento.
O executivo afirma que várias empresas seguiram esse trâmite e muitos desses casos devem se desenrolar ao longo dos próximos meses. “Nós sugerimos que mantenham esse processo porque existe essa vantagem de ser uma companhia aberta. Fora isso, quando for voltar com a oferta, não será mais necessário passar por esse processo”, comenta o executivo. “Veremos várias ofertas assim”, comenta o executivo do Itaú BBA. No “check list” da empresa interessada em fazer uma oferta apenas para investidores institucionais está o registro de companhia aberta na CVM.
IPO da Oncoclínicas movimenta R$ 3,6 bi
A Oncoclínicas, rede de oncologia clínica privada para o tratamento contra o câncer, definiu ontem o preço de suas ações na abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) a R$ 19,75, segundo fontes. O valor inicial da companhia para a estreia na B3, a Bolsa brasileira, ficou abaixo do piso da faixa indicativa ao investidor, R$ 22,21 e R$ 30,29.
A oferta movimentou R$ 3,6 bilhões, considerando o lote principal mais os adicionais – o negócio como um todo foi avaliado em R$ 9,8 bilhões. O IPO tem uma oferta primária, na qual os recursos vão para a companhia, de 90 milhões de ações ordinárias. Há ainda uma venda secundária, em que o dinheiro fica com os sócios vendedores, os fundos Josephina e Josephina II, do Goldman Sachs. O banco, aliás, teria arrecadado cerca de R$ 1,8 bilhão com a operação.
Os recursos captados serão usados para financiar aquisições, projetos de investimento e capital de giro.