A sustentabilidade e as certificações na cultura de soja foram o tema do evento promovido na última semana pela Associação Internacional de Soja Responsável (RTRS), em São Paulo. Com o tema “O futuro da agricultura no Brasil”, o encontro foi o 10º da RTRS no Brasil, realizado no último dia 7, no auditório da Dow, em São Paulo, reunindo especialistas do setor, membros da associação e público em geral.

De acordo com Daniel Meyer, gerente de Desenvolvimento de Mercado da RTRS no Brasil, ainda há um longo caminho para ser percorrido, mas a produção de soja responsável já é uma realidade brasileira e as expectativas são muito positivas. “O Brasil conta com um milhão de tonelada de soja certificada até o momento. A previsão é de que encerremos o ano com a marca de 1,25 milhão de toneladas”, afirmou.

Na opinião dos participantes, a certificação é sinônimo de conservação dos recursos naturais e do bem-estar da sociedade e dos colaboradores. É importante também porque muda a valorização do produto e do empreendimento. “Os produtores que buscam a certificação estão trilhando um caminho certo, buscando melhorias, redução do uso de produtos químicos na lavoura e controle biológico. A RTRS inovou e continua inovando neste quesito”, declarou Meyer.

A apresentação de Aline Locks, gerente geral da Aliança da Terra, destacou o Programa Produzindo Certo, uma parceria da Bayer, Yara, Unilever e Santander no auxílio à certificação RTRS para produtores. O programa é uma inciativa de um grupo de empresas comprometidas com a produção responsável e tem o objetivo de oferecer aos produtores brasileiros que estão “produzindo certo” um benefício econômico a longo prazo e diluir o custo da produção da soja responsável em toda a cadeia de fornecimento.

A meta do programa em 2015 é fomentar a originação de 150 mil toneladas de soja RTRS em duas regiões: Rio Verde (GO) e Uberlândia (MG). Para os produtores, o benefício de participar é sair de um modelo de negócio que envolve diversas tarefas e a busca pelo lucro para ter sustentabilidade e praticar um modelo que envolve a parceria e auxílio da Aliança da Terra e empresas apoiadoras para alcançar a sustentabilidade.

O coordenador do programa ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) da Embrapa Meio-Norte para a região de MATOPIBA, Marcos Teixeira, apresentou este modelo de produção que alia sustentabilidade com aumento de produtividade. “Isso é possível graças à adoção de técnicas e práticas, aumentando a produtividade em relação à monocultura de soja. É possível produzir mais na mesma área, acumular carbono e contribuir assim para a questão das mudanças climáticas globais”, disse.

A Fazenda Santa Luzia, em São Raimundo das Mangabeiras, é exemplo de um empreendimento que pratica a ILPF, que permite produzir mais, por mais tempo e ocupando menos espaço de terra. Do produtor Oswaldo Massao Ishii, a fazenda está em processo de certificação e deixou de praticar a monocultura de soja há 10 anos e passou a adotar a rotação de culturas e criação de gado, o que melhorou o rendimento da propriedade.

A mudança permitiu agregar valor à fazenda e implementar a pecuária dentro do processo produtivo, fornecendo renda o ano inteiro. Segundo Adelmo Oliveira Gomes, gerente da Fazenda Santa Luzia, a certificação virá como um prêmio. “Almejamos a certificação e estamos investindo para isso, tanto em melhorias físicas quanto técnicas. O reconhecimento que teremos será extremamente gratificante”.

Teorias e resultados

O evento contou também com a participação da economista agrícola Bárbara Farinelli, que apresentou uma pesquisa em desenvolvimento pelo Banco Mundial e que retrata a importância da gestão de riscos agropecuários no Brasil. De acordo com o estudo, o Brasil perde 1% de crescimento do PIB Agrícola anualmente por riscos extremos.  “Estas perdas podem ser reduzidas com uma melhor gestão”, ressaltou Bárbara.

O material levou em conta a identificação de oito importantes riscos agropecuários e visualizou a participação de sistemas de transferência de riscos agropecuários, sistemas integrados de informação de riscos agropecuários, redução de riscos do comércio exterior, planejamento integrado da agrologística, integração da gestão de riscos e de recursos naturais e o sistema integrado de geração e transferência de tecnologias na agenda do sistema agropecuário brasileiro.

A palestra de Alexandre Sene Pinto, representante da BUG Agentes Biológicos, apresentou os avanços no controle biológico de pragas. O final do evento contou com uma mesa redonda, que reuniu todos os palestrantes e foi marcada pela convicção unânime da importância da certificação para o desenvolvimento sustentável da agricultura do Brasil. Fonte: Ascom