Transformar: Ernesto Moeri se dedica à busca de soluções sustentáveis para o planeta. “Tudo pode ser aproveitado”

Gerar energia e combustível a partir dos restos orgânicos que são produzidos na fazenda já é uma realidade para o empresário Ernesto Moeri. Nascido na Suíça e vivendo há 30 anos no Brasil, ele criou em 2006 a Biolatina, empresa que transforma resíduos gerados pela agropecuária em fonte de energia renovável. “Esterco bovino, restos de frutas, bagaços e até o sebo dos animais, tudo vira energia”, explica ele, que preside o grupo Ecogeo, holding que reúne cinco empresas, todas voltadas para soluções sustentáveis e com um faturamento que deve chegar aos R$ 60 milhões neste ano.

A companhia trabalha no projeto e construção de plantas voltadas para a produção de biogás e biodiesel, capazes de gerar até 80% da energia necessária para manter uma propriedade ou indústria, dependendo da capacidade instalada. “Toda atividade ligada ao campo gera resíduos que são mal aproveitados. Por que não transformá-los em lucro?”, questiona Wagner Pisciottano, diretor-executivo da empresa.

No quintal: estrutura para produzir combustível ou eletricidade custa entre R$ 500 mil e R$ 12 milhões

Apesar dos atrativos, quem deseja gerar energia no “quintal casa” também precisa estar disposto a colocar a mão no bolso, já que o custo para construção de uma plataforma pequena, de 250 quilowatts/ hora é de R$ 500 mil, enquanto as maiores podem custar até R$ 12 milhões. O rendimento da planta varia de acordo com a matéria-prima empregada. No caso do biogás, cada tonelada de dejetos bovinos gera 35 m3 da substância, que, se processada, pode ser revertida em 18,9 m3 de gás natural. “Ele pode ser usado para abastecer a frota de veículos da fazenda”, exemplifica Pisciottano. Se você já está com a caneta na mão, pronto para calcular os prós e contras do investimento, o empresário afirma que ele é rentável, uma vez que reutiliza os resíduos para produzir energia, gerando 100% de aproveitamento. O que sobra vira fertilizante para a lavoura. “E ainda gera créditos de carbono”, comemora Moeri. “O custo maior está em não aproveitar esses resíduos, desperdiçando potencial energético e degradando o meio ambiente”, pondera José Manoel Cabral, chefe de comunicação e negócios da Embrapa Agroenergia.

Para se ter uma ideia da economia que o sistema pode gerar na conta de energia, por exemplo, uma planta pequena de biogás de 15 metros de diâmetro por 5 metros de altura, instalada em um matadouro com capacidade entre 800 e 1.000 cabeças ao dia, gera cerca de 0.5 megawatt/hora, o suficiente para abastecer aproximadamente 500 residências. “Se adicionarmos 10% carbode glicerina, resíduo gerado na produção de biodiesel, a capacidade de produção de energia duplica”, explica Pisciottano. Moeri comenta que é possível, ainda, integrar as plantas e otimizar a produção. “E com isso produzir biodiesel, energia elétrica e fertilizantes”, diz. Cada projeto leva em média 2,5 anos para ficar pronto. “Depois de instalada a planta, demora 30 dias para a primeira fermentação de resíduos começar a gerar energia ou combustível”, calcula Moeri.

Os projetos da Biolatina vêm crescendo de forma acelerada: já foram instaladas três plantas de biocombustível, e a equipe se prepara para inaugurar até o fim do ano a primeira de biogás. E os primeiros resultados das plantas instaladas começam a ser colhidos: “Além de o custo zero da matériaprima já ser um ótimo incentivo, o gasto com manutenção é baixo, a geração de energia é alta e o retorno financeiro é rápido”, enfatiza Moeri. Para Cabral, da Embrapa, investimentos em fontes renováveis de energia são tendência em todo o mundo. “Transformar resíduo em matéria-prima é a maneira mais inteligente de gerar energia.” E a mais sustentável também.