17/12/2015 - 17:59
A situação concreta em que vivemos hoje e os fatos e dados que marcam a conjuntura econômica não deixam dúvidas: 2016 será um ano difícil, mais desafiador do que 2015. Desanimar? Nem falar. A orientação é enfrentar mais esse período de óbices e obstáculos com determinação, pois, quando essa terrível fase passar, quem tiver sobrevivido estará em posição de liderar a retomada do crescimento.
Parece fácil falar assim, mas não é. A face mais desumana da crise é o empobrecimento geral da população: todos perdemos poder de compra. Logo, perdemos qualidade de vida. Os estamentos sociais mais vulneráveis da pirâmide social são os que mais sofrem. Por isso, é decepcionante o alheamento do Gverno e do Congresso que, neste ano, nada fizeram para enfrentar essa crise ou mitigar seus efeitos.
É evidente que o desemprego e o endividamento das famílias se agravarão logo após o carnaval, agravando ainda mais a situação do mercado interno.
O custo de produção aumentará em todas as cadeias produtivas, em todos os setores e para todos os agentes econômicos – o que é uma ironia. A economia anda lenta, o consumo baixo, não há escassez de nenhum produto, mas a inflação não cessa e os custos não baixam. A insensatez da gestão macroeconômica e a manutenção artificialmente em baixa dos preços administrados (energia, combustíveis, gás etc) para fins eleitorais foram determinantes na construção desse quadro de horror. Portanto, nada relacionado com o cenário externo.
Capitais internacionais, tão necessários a nossa economia, não virão mais, nem para especulação nem para investimentos. A crise política e o embate entre a presidente da República e o presidente da Câmara agravam o cenário.
A indexação direta ou indireta de matérias-primas e produtos com mercados internacionais, deixa esses insumos vinculados ao dólar e, portanto, encarecem a cada semana. É o caso dos grãos necessários ao funcionamento do gigantesco parque agroindustrial brasileiro – aquele que está salvando a balança comercial do Brasil. O milho e o farelo de soja, itens essenciais na produção de carne, estarão escassos e mais caros. Haverá muita demanda e pouca oferta de milho, cuja produção vem caindo, especialmente em Santa Catarina. Isso tem 100% de incidência direta no custo.
Fatalmente, aumentará a inadimplência de muitos agentes econômicos. Poderemos ter uma nova onda de insolvência de pequenas e médias agroindústrias, como aquela que ocorreu em 2012, na crise do superencarecimento do milho. Temo que a concentração industrial no setor de alimentos cárneos prosseguirá.
Balizados pelo preço e pela oferta, o consumo de aves aumentará, o de carne bovina cairá e o de carne suína se manterá em 2016. As exportações continuarão promissoras em 2016, com a abertura de alguns novos mercados e a consolidação de outros. Avançaremos sobre países de língua portuguesa, África do Sul, Ásia, Coreia do Norte.
Por todas essas condicionantes, o ano não será de investimentos. A estratégia é manter posição e só avançar com segurança. A inflação baterá, novamente, nos 10%.
A crise e seus efeitos deveriam levar o Governo, o Congresso e o Judiciário a refletirem sobre mudanças e transformações que a sociedade exige. Precisamos de um Estado eficiente, controlado por sistemas sociais de avaliação de desempenho e bom uso do dinheiro público, afastando, julgando e condenando os corruptos.
A Previdência do setor público, com seus elevados proventos e muitos benefícios é um encargo que a sociedade não consegue mais suportar. E deve ser mudada. A legislação trabalhista brasileira, comprovadamente a mais complexa, anacrônica e onerosa do planeta, tornou-se fator nocivo à empregabilidade – afastando inclusive capitais financeiros internacionais para projetos produtivos, que tem preferido aportar em outros países.
Enfim, é necessário ter esperança, mas, também, é necessário vencer o imobilismo