08/10/2012 - 12:48
Doze de dezembro será uma data especial para a J&F Holding, do grupo JBS, que controla bancos, fazendas e o Friboi, o maior complexo global de processamento de carnes. Nesse dia, será inaugurada em Três Lagoas (MS), a primeira etapa da fábrica da Eldorado Celulose, um projeto implantado em tempo recorde e com uma economia de R$ 2 bilhões do custo inicialmente previsto. Será a maior linha de produção de celulose do mundo, ao custo de R$ 6,2 bilhões. O comando da empresa foi entregue ao engenheiro químico e pecuarista José Carlos Grubisich, que já esteve à frente da ETH Bioenergia e da Braskem, ambas do Grupo Odebrecht e da antiga Rhodia. Em entrevista à DINHEIRO RURAL , Grubisich revelou que a Eldorado vai exportar 95% da produção. “É o Brasil que está na vanguarda do mundo”, afirma. A demanda global por celulose tem crescido na ordem de um bilhão de toneladas, por ano.
DINHEIRO RURAL – Como estão os preparativos para a inauguração da fábrica?
JOSÉ CALOS GRUBISICH – Estamos contando com a presença da presidenta Dilma Rousseff, de governadores, pesquisadores, dos parceiros na região e também dos nossos clientes chineses, coreanos e americanos. Estamos prestes a iniciar a produção. Até 15 de novembro devem sair da fábrica os primeiros fardos de celulose.
DINHEIRO RURAL – Em quanto tempo a fábrica estará operando a todo o vapor?
GRUBISICH – Estaremos em regime estável em maio de 2013. A partir dessa data, nossa produção será de 1,5 milhão de toneladas de celulose, anualmente. Conseguimos cumprir a tarefa em tempo recorde, ao custo de R$ 6,2 bilhões, R$ 2 bilhões a menos do custo previsto.
DINHEIRO RURAL – Com esse volume, como a Eldorado se posiciona no mercado?
GRUBISICH – Essa é, individualmente, a maior linha de produção de celulose do mundo. Agora, temos concorrentes que têm várias linhas e várias fábricas. Nós ainda não seremos nem líder nem colíder do setor com a Eldorado. Mas vamos entrar com uma segunda linha de produção em 2017, e com uma terceira, no final da década. Com isso, a Eldorado iria para uma capacidade total de 5,4 milhões de toneladas até 2021. Aí sim, vamos ter um posicionamento de coliderança com a Fibria, do grupo Votorantim, que produz cinco milhões de toneladas de celulose por ano.
DINHEIRO RURAL – A Eldorado vai apostar todas as fichas para esse crescimento apenas em Mato Grosso do Sul?
GRUBISICH – Sim, nosso foco é o Mato Grosso do Sul. Para a primeira linha de produção, são cerca de 160 mil hectares de florestas plantadas. Hoje, a Eldorado está em um ritmo de plantio de 85 mil hectares por ano e com toda a operação florestal mecanizada.
DINHEIRO RURAL – Em áreas próprias ou em parceria?
GRUBISICH – Temos um pouco de área própria, cerca de 30 mil hectares, e a diferença é de plantio próprio, mas em terras arrendadas. Eventualmente, uma parte dessa área também pode ser de fomento. É importante que a gente dê espaço para os produtores da região, mas a opção principal é arrendar e plantar o nosso próprio eucalipto.
DINHEIRO RURAL – Esses arrendamentos são por quantos anos?
GRUBISICH – Em geral varia, mas o nosso objetivo é ter arrendamentos de quatro ciclos, o que dá um período de 28 anos. Hoje, a média de arrendamentos é de dois a quatro ciclos, o que significa entre 14 e 21 anos, na maior parte dos nossos contratos. Entramos numa região de pecuária que tem um nível de conservadorismo elevado. As pessoas que estão na pecuária gostam da atividade e não querem mudar. No início, há sempre um receio: “Será que a fábrica vai funcionar, o investimento vai prosperar?” Mas, apesar desse sentimento, já estamos percebendo que os proprietários de terras da região começam a se interessar por contratos mais longos de arrendamento, o que é do nosso interesse. Se pudéssemos ter contratos de cinco ciclos, a gente iria para essa modalidade.
DINHEIRO RURAL – Esse receio do produtor por contratos mais longos tem a ver com a experiência com a cana-de-açúcar, que acaba desmanchando as fazendas onde entra?
GRUBISICH – Acho que não. Por que onde a cana entra, a pecuária nunca mais volta? Porque a rentabilidade da cana é muito maior. Com a cana, o pecuarista pega o gostinho de ter caixa. Eu falo isso porque também sou pecuarista. Normalmente, o pecuarista tem um patrimônio alto e uma geração de caixa relativamente pequena, comparada com o seu patrimônio. Com o eucalipto, que tem exatamente o mesmo perfil da cana, o pecuarista diversifica a fazenda e cria um ciclo de enriquecimento fantástico.
DINHEIRO RURAL – Do ponto de vista ambiental, plantar florestas também tem um lado lúdico?
GRUBISICH – Hoje, a prática florestal é um setor de grande modernidade e todo o processo é para levar à maximização da sustentabilidade. Não acho que isso seja lúdico. A celulose é quase toda para exportação. Na Eldorado, 95% da produção será para o mercado externo. Então, é preciso ter florestas certificadas. Fizemos tudo para ter o direito de vender a celulose para os melhores clientes do mundo, como a Procter Gamble e a Kimberly-Clark.
DINHEIRO RURAL – A empresa está desenvolvendo inteligência nesse processo?
GRUBISICH – Tanto na parte florestal quanto na industrial usamos muita tecnologia produzida no Brasil, mas também há muitos equipamentos importados. Agora, estamos comprando uma área de 300 hectares para abrir um centro de tecnologia que vai desenvolver novos materiais florestais, como variedades de eucalipto mais adaptadas, por exemplo. Dentro de cinco anos devemos ter as primeiras variedades patenteadas pela Eldorado.
DINHEIRO RURAL – O País está atrasado em pesquisas?
GRUBISICH – Não, de jeito nenhum. Foi o Brasil que criou a opção de florestas de eucalipto para celulose. Quem desenvolveu a fibra curta de eucalipto foram as empresas brasileiras. Em produtividade, em conhecimento das potencialidades do eucalipto, é o Brasil que está na vanguarda do mundo. Agora, não podemos dormir. O eucalipto ainda tem grande possibilidade de saltos de produtividade. Na Eldorado, por exemplo, o que nos interessa é maximizar a produção de celulose. Para uma siderúrgica, interessa o eucalipto de maior poder calorífico, ou seja, de maior produção de lignina. Hoje, as pesquisas ainda estão todas num mesmo espaço, mas acredito que elas vão começar a se separar no tempo.
DINHEIRO RURAL – Como a Eldorado preparou sua logística de escoamento da produção, num país de malha viária tão complicada?
GRUBISICH – Três Lagoas tem uma logística muito boa. Temos duas ferrovias, a antiga Ferronorte, hoje ALL, e a antiga Noroeste, hoje RMS, que saem da região e que podem levar a celulose até o porto de Santos. Como vamos exportar, a ferrovia é um fator importantíssimo para a decisão de investimento. Também estamos usando a hidrovia Paraná-Tietê. A Eldorado vai utilizar barcaças para sair de Três Lagoas e levar o produto até o porto. Estamos investindo R$ 800 milhões em logística. Compramos 31 locomotivas e 450 vagões especiais, com maior capacidade de carga de celulose, que serão operados pela ALL e a RMS.
DINHEIRO RURAL – No mundo, em quais mercados a Eldorado quer ter maior presença?
GRUBISICH – Vamos participar do mercado global de celulose porque o crescimento é generalizado. A avaliação de analistas é que o mercado cresce um bilhão de toneladas por ano. Então, a cada ano e meio uma nova linha como essa que estamos abrindo precisaria entrar em operação. Mas o mercado cresce mais no Sudeste Asiático, e muito na China e Coreia. Sustentando esse crescimento está o segmento de tissue, que é o guardanapo de papel, a toalha para cozinha, banheiro e fraldas descartáveis. Um outro mercado que cresce bastante é o de papel decorativo, para substituir madeiras e pedras, em paredes, móveis e pisos.
DINHEIRO RURAL – Mas a Ásia não é uma região que vem aumentando muito a produção no setor florestal?
GRUBISICH – Ela vem aumentando muito a produção de papel. O Brasil vai ser grande em produção de celulose e a China vai ser um grande produtor de papel, abastecendo-se de celulose no Brasil. O País está pronto para se beneficiar, mais do que ninguém, desse grande boom mundial de desenvolvimento da indústria de base florestal. E sempre com florestas plantadas. Não é com desmatamento, com a floresta nativa, como ocorre no Sudeste Asiático