A empresária Luiza Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, vê com preocupação a falta de alinhamento entre Estados e governo federal e acredita que falta união no momento crítico que o Brasil enfrenta por causa da pandemia do coronavírus. “(O País) está pegando fogo, mas em vez de jogar água, estão jogando gasolina com essas discussões todas”, disse a empresária, que participou na quarta-feira, 6, da série de entrevistas ao vivo Economia na Quarentena, do jornal O Estado de S. Paulo.

Para Luiza, é preciso dar previsibilidade para empresas retomarem atividades e para a população fazer o isolamento de forma adequada. Segundo ela, em meio à crise política, o governo não está comunicando as ações para amenizar os efeitos da covid-19 de forma clara.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

Estamos há 50 dias em quarentena. A economia aguenta mais tempo de fechamento parcial?

Não se tem agora como se discutir se o (isolamento) horizontal ou vertical é o melhor caminho. O que tem de se discutir é a previsibilidade dessa retomada, até para as pessoas respeitarem o acordado. Sem regras claras, as pessoas não obedecem o isolamento, não usam máscaras. Falei com o pessoal do BNDES para perguntar por que o dinheiro não está chegando às pequenas empresas. Tem de se tomar decisão. Porque senão as empresas não vão conseguir segurar empregos.

Vimos muitas declarações antagônicas. Isso atrapalha muito?

Uma das coisas que mais me deixaram triste nos últimos dias foi a sensação de ver que (o País) está pegando fogo, mas, em vez de jogar água, estão jogando gasolina com essas discussões todas. Tem de unir todo mundo, independentemente de partido. Não sinto que há uma grande união. Os governadores agora têm de tomar medidas (claras).

Quais medidas o Magazine Luiza vem tomando para amenizar?

Fiquei satisfeita com o nosso time porque ele se adaptou a essa realidade. Se o Brasil não está bem, nós não estamos bem. Nossa equipe agiu rapidamente para ver o que o nosso marketplace poderia fazer para ajudar. Em 8 dias eles tiraram da gaveta um projeto que já existia, o “Magazine e Você” e criaram o “Parceiro Magalu”, com regras bem mais simples de adesão. Em uma semana, tivemos a entrada de 160 mil trabalhadores autônomos, que passaram a vender nossos produtos, e de 15 mil empresas.

Estamos às vésperas do Dia das Mães. Será um ano perdido?

Acho que sim. Tenho orientado a venda de presentes, a vender por WhatsApp… Vamos perder muito. Acho que 2020 vai ser um ano que, tirando farmácias e mercados, vai ter muito problema. Fico muito preocupada com a pequena e a média empresa, estou procurando participar de eventos para ajudar de alguma forma, divulgar as medidas do governo.

É possível se reinventar rapidamente em um cenário como o atual?

O Brasil tem um espírito de empreendedorismo impressionante. Precisamos usar esse momento para refletir. Eu passo até um questionário (para empreendedores): duas coisas que eu não fiz e deveria ter feito, duas coisas que eu fiz e deveria continuar a fazer e duas coisas que eu fiz e não deveria ter feito.

Muito se fala de uma ajuda ampla do governo às empresas. O governo deve exigir contrapartidas pelo dinheiro que distribui?

Eu acho que o ‘não demita’ deveria ser a única coisa amarrada. Para isso, teria de colocar o Banco do Brasil para analisar as empresas. E é preciso acompanhar o processo de como esse dinheiro (do governo) chega na ponta.

Estamos numa intensa crise política. A sra. acha que isso pode agravar o cenário econômico?

Mais profundo que o coronavírus, eu não sei, porque já é uma coisa seriíssima. Essa crise atrapalha, divide a população, fica parecendo que a gente está em período eleitoral. É igual uma rede: nesse momento, se a gente deixar furo, vai sair muito peixe.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.