01/05/2012 - 0:00
“O crescimento da demanda por grãos será suprido pelo aumento da área agrícola cultivada” –
JOSÉ HUMBERTO PRATA TEODORO JÚNIOR é diretor de Investimentos Estratégicos e Comercial da Cia. Brasileira de Propriedades Agrícolas (BrasilAgro)
Mais do que nunca, investidores do mundo inteiro têm considerado um bom negócio a compra de áreas agrícolas. Nos últimos anos, a crescente demanda por alimentos, combinada com ganhos de produtividade reduzidos e restrições ao aumento da área cultivada, gerou um ambiente de boas oportunidades de investimento no setor agrícola. Desde 2005, diversos fundos agrícolas foram criados e o número de empresas listadas em bolsas de valores, em um semnúmero de países, aumentou de 1 para 10.
Desde a década de 1990, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda, na sigla em inglês), os preços das terras da região do Corn Belt americano – uma das regiões agrícolas mais desenvolvidas do planeta – apresentaram uma valorização superior a 6% ao ano, por causa do incremento no fluxo de caixa dos agricultores. O fato intrigante, porém, é que isso aconteceu apesar de não ter ocorrido nenhuma mudança no modo de produção dessa região. A pergunta é: como esses produtores de soja e milho foram capazes de aumentar suas rendas e, consequentemente, os preços de suas terras durante os últimos anos? A resposta a essa questão está na expansão da área agrícola no restante do mundo. A premissa por trás dessa afirmação é que essas novas áreas em produção são menos eficientes que as americanas, seja por apresentarem maior custo de produção, seja pela menor produtividade. A combinação entre preço, custo e produtividade, fez com que essas áreas se tornassem economicamente viáveis. Essa mesma combinação foi também responsável por aumentar os ganhos dos agricultores em nível mundial e, consequentemente, o preço das terras.
EXPANSÃO: para a área agrícola mundial crescer é necessário mais capital nas mãos dos agricultores
A atual necessidade de crescimento da área agrícola pode ser facilmente explicada pelo descasamento entre os ganhos de produtividade e o crescimento da demanda por grãos – historicamente, os ganhos de produtividade não têm sido suficientes para atender à crescente demanda de consumo. Diferentemente do observado entre 1970 e 2000, quando 75% do crescimento econômico mundial foi puxado, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), por países desenvolvidos, as projeções indicam uma reversão desse quadro. Para o FMI, nada menos que 60% do crescimento do PIB mundial na próxima década virá dos países em desenvolvimento. Essa mudança pressiona ainda mais a demanda por grãos, pois, quanto mais pobre é o país, maior é o impacto no consumo de comida.
Dados do Usda e da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) indicam que na próxima década os ganhos de produtividade no campo serão capazes de atender a apenas 40% do crescimento da demanda por grãos. Ou seja, os 60% restantes deverão ser supridos pelo crescimento da área cultivada. Isso significa que, durante os próximos dez anos, o montante necessário de novas áreas deve ser superior a 100 milhões de hectares. Certamente, incrementar uma área agrícola dessas dimensões em uma única década é um desafio enorme. Para se ter ideia, foram necessários mais de 30 anos para se passar de 100 milhões de hectares cultivados em todo o mundo, com soja, milho, trigo e arroz, para os atuais 640 milhões de hectares.
Hoje, para expandir a área agrícola mundial é preciso mais capital nas mãos dos agricultores. Mas a grande maioria tem áreas pequenas demais para levantar recursos no mercado de capitais e os maiores agricultores, aqueles que possuem acesso ao mercado de capitais, não são grandes o suficiente. As dez empresas agrícolas listadas em bolsa controlam menos de 0,01% da produção global. A solução para o aumento da área cultivada, portanto, passa pela aceleração da acumulação de lucros excedentes por todos os produtores e não por apenas uma parte deles.