12/06/2013 - 17:20
O dendê, a mais nova aposta do agronegócio amazônico, está começando a dar sinais de que veio pra ficar no Pará. Com forte apoio governamental, a cultura ocupa hoje 166 mil hectares no nordeste do Estado (região composta por 37 municípios considerados adequados ao plantio pelo Zoneamento Agroecológico do Dendê), e tem previsão de atingir 329 mil hectares até 2020, de acordo com dados do governo estadual e do Banco da Amazônia. Quase que exclusivamente voltada à produção de biodiesel, a dendeicultura paraense busca se incorporar ao Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) e vem buscando a inclusão, através de contratos de integração empresas-produtores, da agricultura familiar no setor.
Para isto, uma linha especial do Pronaf o Pronaf Eco Dendê disponibilizou mais de R$ 124 milhões para pequenos agricultores em 2013. A liberação de financiamentos de até R$ 80 mil está vinculada a formalização de um contrato de parceria com grandes empresas como Petrobras, Biopalma Vale e ADM. A promessa é que, em 10 hectares de dendê cultivado na própria propriedade, uma família terá garantida uma renda razoável.
Entretanto, apesar de arregimentar cada vez mais adeptos, a dendeicultura pode não representar o futuro promissor tão sonhado pelos agricultores familiares paraenses. Além de desviar o setor da função primordial, que é o cultivo de alimentos, o dendê para biodiesel não tem sido capaz de trazer a lucratividade prometida por governos e empresas.
Este fator, aliado a outras colateralidades, como aumento da contaminação de igarapés e rios por agrotóxicos, cujo uso vem se avolumando com a expansão do dendê, e problemas sociais como vício em drogas nas frentes de trabalho, são abordados no mais recente estudo do Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis (CMA) da Repórter Brasil, ³Expansão do Dendê na Amazônia brasileira Elementos para uma análise dos impactos sobre a agricultura familiar no nordeste do Pará². Através de pesquisas de campo realizadas em parceria com a ONG FASE/Amazônia em março de 2013, o estudo aponta ainda a possível relação da expansão do dendê com o aumento de preços de itens básicos da alimentação do paraense. O CMA da Repórter Brasil pesquisa os impactos socioambientais do dendê na Amazônia desde 2008 e publicou uma série de relatório sobre o tema que podem ser acessados na seção de Agrocombustíveis da página da Repórter Brasil na internet.