Na esteira dos debates sobre mudanças climáticas durante a COP 28, o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) publicou um estudo sobre emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), realizado em propriedades de café da Região do Cerrado Mineiro, que aponta que as fazendas sequestram mais carbono do que emitem. O instituto avaliou 20 propriedades associadas à Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocacer), por meio dos serviços da plataforma de serviço Carbon On Track, e constatou um valor de emissões negativo, de -0,2 tonelada de dióxido de carbono, equivalente a um por hectare ao ano.

Este fenômeno acontece quando o sequestro do carbono oriundo do solo e das plantas é maior que as emissões, e ao analisar as estimativas de emissão de GEE das fazendas, o Imaflora chegou ao valor absoluto de 15.400 tCO2e.ano-1, valor considerado baixo.

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O uso de adubos orgânicos (cama de frango, esterco bovino, etc.) e resíduos vegetais (provenientes das podas, cascas de cafés, palha e gramíneas) utilizados nas fazendas analisadas foi um fator positivo para a mitigação dos gases de efeito estufa em detrimento da adição de nitrogênio químico. A adição desses insumos também pode aumentar a quantidade de carbono estocado e melhorar a qualidade do solo, que a médio e longo prazo incrementam a ciclagem de nutrientes, porosidade e retenção de água no solo.

“Os cooperados da Expocacer estão sempre na vanguarda da tecnologia, inovação e sustentabilidade. O balanço de carbono feito em parceria com o Imaflora comprova o trabalho sustentável que nossos cooperados têm feito há mais de 10 anos. Seguimos juntos, rumo a uma cafeicultura cada vez mais sustentável e de baixas emissões”, disse Farlla Gomes, Gerente Técnica em Sustentabilidade da Expocaccer.

Ainda de acordo com o levantamento, outros aspectos relevantes a serem considerados são o aumento da eficiência energética no uso de maquinários, que pode ser atingido com melhoria na rastreabilidade dos processos e tecnologia georreferenciada, contribuindo para a redução de diesel, relação homem/máquina e compactação do solo.

“A plataforma Carbon on Track realiza, sob demanda, uma série de estudos sobre agropecuária. No setor cafeeiro, a tônica permanece: fazendas com técnicas agrícolas mais sustentáveis são capazes de não só reduzir suas emissões, como também contribuir para o sequestro de carbono. Esse grão, negativo em carbono, ganha valor agregado e mostra que a sustentabilidade é um bom negócio”, acredita Alessandro Rodrigues, Coordenador de Projetos e Serviços da área de Clima e Emissões do Imaflora.

Para Expocacer, a tendência de redução de gases de efeito estufa é algo que deve ser seguido pelas demais fazendas ao redor do mundo. Toda fazenda tem o potencial de contribuir, por exemplo, por meio da aplicação de compostos orgânicos e fertilizantes organominerais ao invés dos adubos nitrogenados. Se for necessário o uso de fertilizantes químicos, devido o custo ser menor, a utilização deve ser feita via fertirrigação (aquamonia), evitando aplicação a lanço da ureia pura ou nos formulados. Também pode-se reutilizar resíduos de palha e casca na forma de compostos orgânicos para reduzir a potencial mineralização de nitrogênio do solo, existem várias maneiras de fazer uma produção sustentável.

Recentemente a cooperativa foi eleita a primeira cooperativa de café do mundo a conquistar certificação regenerativa, pela Regenagri, entidade global que tem como objetivo garantir a saúde e a preservação do solo, com certificação da inglesa Control Union. Este selo confirma a integridade dos processos da cooperativa na recepção e no tratamento dos cafés certificados como regenerativos, evidenciando as práticas sustentáveis que são realizadas, como a energia renovável, coleta seletiva e a rastreabilidade dos cafés armazenados, acompanhando o percurso do produto desde sua entrada no armazém, até sua distribuição aos consumidores finais.

O estudo também aponta que a utilização das práticas sustentáveis é aliada da redução da emissão de gases de efeito estufa à longo prazo, pois tendem a melhorar a qualidade do solo e reduzir os aportes de insumos externos como nitrogênio, fosforo e glifosato.

Abrangência do estudo

As fazendas cooperadas à Expocaccer que participaram deste projeto localizam-se na Região do Cerrado Mineiro, Minas Gerais, no bioma Cerrado. A área média de produção de café destas fazendas é de 192,4 ha, variando de 40 a 371 ha com áreas bem adensadas, com uma média de estande de 4.370 plantas ha-1. As fazendas no geral são fertirrigadas e com alta mecanização (plantio, adubação e colheita mecanizada na maioria das áreas). A produtividade média foi de 30,6 sacas ha-1, considerada acima da média brasileira (21 sacas ha-1).

“A nossa intenção é promover uma sustentabilidade real, em conformidade com o nosso propósito de inspirar, fomentar e nutrir uma cafeicultura de vanguarda atrelada ao impacto. Entendemos que o mercado está cada vez mais exigente e que nós temos que atender e acompanhar o movimento em prol de um meio ambiente saudável. Para tanto, possuímos um departamento exclusivo para assuntos ligados à sustentabilidade, onde orientamos e fomentamos as boas práticas também entre os cooperados”, afirma Simão Pedro de Lima, Diretor Superintendente da Expocacer.