Imagine chegar a um restaurante e encontrar no cardápio iguarias como testa de vitelo ao vinagrete ou rins ao molho madeira. Achou esquisito? Mas saiba que em muitos países do Oriente, como a China, por exemplo, esses ingredientes fazem parte da gastronomia local. Esquisito ou não, o fato é que boa parte dessas “gostosuras” está se tornando fonte de novos lucros para os frigoríficos. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), em 2008 foram exportadas 84.570 toneladas de miúdos, que renderam mais de R$ 313 milhões aos frigoríficos. No ano passado, a quantidade subiu para 87.616 e o faturamento ultrapassou os R$ 345 milhões. Só entre janeiro e agosto deste ano, foram 84.525 mil toneladas e R$ 236 milhões em divisas, quase o total do que foi exportado durante o ano passado. Segundo Otávio Cançado, diretor executivo da Abiec, com a queda de exportação de cortes mais nobres, os miúdos, com menor valor agregado, ganharam espaço. “Eles são exportados para mercados em desenvolvimento, que sofreram menos com a crise internacional”, destaca. O crescimento desse setor se deve ao aumento da população em mercados consumidores da Ásia, como explica Alex Lopes da Silva, da Scot Consultoria. “São eles os principais apreciadores dos miúdos, especialmente bovino.”

Lá fora, a explicação para o crescimento dessa frente deve levar em conta a retração no mercado mundial de carne em cerca de 1,63% no ano passado em relação a 2008. “Isso fez com que as empresas buscassem alternativas para exportar”, explica Luciano Vacari, superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat). A alternativa, inicialmente vista como temporária, acabou surpreendendo a indústria e se mostrou um nicho com muito potencial para lucros.

Saboroso…

Conheça algumas das iguarias apreciadas por clientes exigentes

 

hummm…

A testa de vitelo ao molho vinagrete é um dos pratos preferidos dos franceses

O frigorífico Coopercentral Aurora, de Chapecó (SC), viu o volume de miúdos de aves exportado crescer 10% nos últimos três anos. Atualmente, as exportações desses produtos correspondem a 10% do total exportado pela empresa. Celso Capellaro, gerente de operações, explica que o crescimento nas exportações de miúdos deve-se a três fatores: demanda de mercado, aumento da produção e melhoria dos processos produtivos.

“No Brasil, os apreciadores desses pratos são

em maior parte os estrangeiros”

Leleo, chef do restaurante Freddy

Mas engana-se quem pensa que tais iguarias são apreciadas só na Ásia e no Oriente Médio. Na capital paulista, o restaurante francês Freddy oferece o tête de veau vinaigrette, ou cabeça de vitelo ao molho vinagrete, por R$ 29. À frente da cozinha há 50 anos, o chef Leleo conta que o que parece exótico para nós é apreciado na culinária francesa. O rim ao molho madeira e o miolo frito na manteiga, quando prontos, têm aspecto bastante agradável, mas é raro algum brasileiro consumi-los. “Às vezes vendemos 20 porções de rim por semana, mas sempre para estrangeiros”, conta. Enfim, gosto, não se discute.