Um experimento conduzido por pesquisadores da Universidade da Flórida (EUA) plantou sementes em amostras de rocha e poeira lunar trazidas para a Terra há meio século pelos astronautas da missão Apollo. Publicado nesta quinta-feira, 12, na revista Nature Communications Biology e financiado pela Nasa, agência espacial americana, o estudo é o primeiro exemplo conhecido de plantas cultivadas em solo lunar, disse a coautora Anna-Lisa Paul, bióloga da Universidade da Flórida.

O resultado encontrado foi de que as plantas podem crescer em solo lunar – elas não adoram, ficam estressadas e podem ficar roxas depois de inicialmente parecerem verdes, mas ainda podem germinar, enviar raízes através do no solo lunar, brotar folhas, crescer, e potencialmente serem comestíveis.

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Anna-Lisa Paul e seu colega e coautor, Robert Ferl, buscaram quatro gramas de solo lunar da Nasa e acabaram com 12 gramas – quatro cada de três missões: 11, 12 e 17. Eles plantaram sementes de plantas semelhantes ao agrião. Os cientistas não tinham ideia do que esperar quando adicionaram água às amostras. O solo foi selado e arquivado no Johnson Space Center da Nasa, em Houston. As amostras nunca haviam sido expostas ao ar, água líquida ou qualquer outra das amenidades da Terra. “Não sabíamos se elas iriam explodir, se iriam fracassar e borbulhar”, disse Paul.

As amostras repeliam a água e se mostraram extremamente hidrofóbicas. Os pesquisadores trabalharam para fazer com que o solo lunar absorvesse água gradualmente e adicionaram uma solução nutritiva, e as plantas germinaram e começaram a brotar. Notou-se que o solo retirado da superfície pelos astronautas da Apollo 11 não era tão favorável ao crescimento quanto o das duas missões Apollo posteriores.

Uma análise subsequente mostrou que as plantas ativaram genes de estresse semelhantes aos observados em plantas expostas a condições adversas, como água salgada. Os pesquisadores concluíram que o solo lunar poderia ser usado para produção de plantas e experimentos na lua, mas “não é um substrato de crescimento benigno”, diz o estudo. “Acho incrível que, mesmo nessas condições, a planta cresceu”, disse Ferl. “Está estressada, mas não morre. Não deixa de crescer. Ela se adapta.”

O experimento é tido como encorajador para a Nasa e outras agências espaciais que esperam poder apoiar missões humanas na superfície da lua aproveitando os recursos naturais. “A ideia de trazer o solo lunar para uma estufa lunar é o material dos sonhos de exploração”, disse Ferl. “Se você olhar para trás na ficção científica, as plantas sempre fizeram parte da agenda de exploração profunda.”

O solo lunar contém alguns elementos familiares aos nossos, incluindo ferro e magnésio, mas falta muito dos minerais encontrados na Terra. Além disso, tem uma textura diferente e mais áspera: muitos cacos minúsculos e afiados. Ele continha também pedaços microscópicos deixados por impactos de meteoritos.

Por esses motivos, as raízes das plantas não cresceram retas como as raízes de mudas plantadas em uma simulação de solo lunar, que serviu de controle para o experimento. “As raízes eram mais dobradas e retorcidas”, disse Paul. Ainda assim, as plantas seriam comestíveis, ela afirma. “É comestível, mas não é especialmente saboroso. Não é considerado uma cultura alimentar em si”, disse ela sobre o agrião.

Não há afirmações de que a lua poderia ser verde um dia, mas as plantas podem ser geneticamente modificadas para serem mais adaptáveis ao solo lunar. Jacob Bleacher, cientista chefe de explorações da Nasa, disse que as missões para a lua exigirão o uso de recursos no local, em vez de transportar tudo da Terra.

Sharmila Bhattacharya, cientista do programa da Nasa para biologia espacial, disse que há mais trabalho a ser feito para tornar o cultivo de plantas uma ferramenta útil na exploração lunar. Ela observou que as plantas já são cultivadas nas Estações Espaciais Internacionais e servem mais do que simplesmente uma função nutricional.

Os astronautas, disse ela, gostam de estar perto das plantas. Eles verificam as plantas em seu tempo livre. “Realmente nos surpreendeu o quanto eles amam aqueles hábitats de plantas”, disse ela. “Quando eles comemoram o aniversário um do outro, eles fazem isso perto do hábitat vegetal. Percebemos quanta diferença positiva as plantas fizeram.”