Por Iara Siqueira

Ainda que o Carnaval, o futebol, as praias e a Floresta Amazônica tenham contribuído para construir a imagem do Brasil no exterior (para o bem ou para o mal) hoje o País é reconhecido mundialmente por ser uma potência inquestionável do agronegócio. E quando se fala em commodities agrícolas, somos destaque no quesito exportação. Com a liderança na produção de diversos itens alimentícios, além de fontes de energia e fibras originárias da lavoura, Brasil se tornou não só celeiro, mas também o supermercado do mundo.

Em 2023, a demanda externa atingiu recordes históricos, com ênfase nos setores de petróleo, milho, farelo de soja, carne bovina e de frango, conforme relatório divulgado pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

De acordo com a pasta, as exportações brasileiras:
• somaram US$ 339,7 bilhões,
• crescimento de 1,7% em relação a 2022,
• superando o recorde anterior que havia sido de US$ 334,1 bilhões.
• Já o saldo comercial também foi inédito, somando 98,8 bilhões de dólares — maior número já registrado na série histórica com início em 1989 — o que significa um aumento de 60,6% em relação ao ano anterior (61,5 bilhões).

 

Para analista, a vantagem brasileira está nas “extensas áreas agrícolas, clima propício e riqueza em recursos naturais que conferem ao país uma posição estratégica no fornecimento global” (Crédito:Divulgação )

SOJA

O relatório da Secex aponta que o setor agropecuário respondeu por 24% das exportações brasileiras, somando US$ 81,5 bilhões em 2023, com crescimento de 9% na comparação com o ano anterior.

Entre os itens do setor agrícola com maior participação nas remessas para o exterior o destaque vai para a soja, com 15,6% do total.

A posição do cereal no ranking fica bem acima do segundo colocado, que corresponde à soma de óleos brutos de petróleo e minerais betuminosos crus (12,52%); e quase o dobro de todo o minério de ferro exportado (8,98%).

Na visão de especialistas, apoiar a balança comercial nas commodities pode ser um risco para a economia brasileira. Isso porque, apesar das condições favoráveis, há uma forte dependência de fatores ligados ao clima e aos preços internacionais das commodities.

Para o analista de grãos e oleaginosas da hEDGEpoint Global Markets, Pedro Schicchi, a vantagem brasileira está nas “extensas áreas agrícolas, clima propício e riqueza em recursos naturais que conferem ao país uma posição estratégica no fornecimento global”.

Mas apesar de os ventos parecerem favoráveis para o Brasil, vários fatores podem impactar diretamente o boom das commodities. Um exemplo claro disso, segundo Schicchi, é o fenômeno climático El Niño, que impactou negativamente a produção de soja brasileira, devido às altas temperaturas, e baixo volume de chuvas. “O clima, como sempre, continuará sendo uma fonte de incerteza que traz volatilidade e risco para esse mercado”, disse o especialista.

Já os preços globais impactam em especial as margens ao produtor. “Vivemos hoje um ciclo de preços menores que os vistos anteriormente. Isso reduz o incentivo para que os produtores continuem crescendo áreas cultivadas. É preciso ter em conta que estamos inseridos em um mercado cíclico, que tem seus altos e baixos”, afirmou Schicchi.

Ele acredita, contudo, que a exportação de commodities traz benefícios substanciais para o Brasil, incluindo:
 incremento na receita em moeda estrangeira,
 fortalecimento da balança comercial,
 geração de empregos,
 e investimentos em infraestrutura.

“Essa dinâmica contribui para o desenvolvimento econômico, a redução da pobreza e o avanço de regiões agrícolas”.

Ainda segundo ele, um aumento da dependência do mercado externo também nos deixa mais expostos a volatilidades globais, caso, por exemplo, de um menor apetite chinês por soja. “Esse é um fator que afeta o preço para o produtor, mas que foge ao controle de qualquer agente individual. Por isso, a importância da gestão de riscos e de uma visão global de mercado na tomada de decisão”.

Se foi boa em 2023, a produção e a exportação de commodities deve seguir aumentando neste ano.

Segundo a coordenadora do curso de pós-graduação em Negócios Internacionais e Comércio Exterior da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), Sabrina Della Santa Navarrete, a demanda mundial por alimentos também deverá continuar crescendo uma vez que as projeções populacionais apontam que a população mundial deve atingir 10 bilhões de pessoas em 2050.

Além das commodities, a indústria de alimentos do Brasil pode exportar uma grande variedade de produtos processados de valor agregado, aproveitando sua reputação de grande produtor agrícola. “A preocupação crescente do Brasil com a sustentabilidade ambiental e a responsabilidade social também demonstra aos stakeholders [grupo de interesse] cada vez mais preocupados com questões ambientais e sociais, que o Brasil tem adotado práticas agrícolas mais sustentáveis e que as empresas brasileiras têm incluído a agenda ESG em suas estratégias de negócio buscando mitigar riscos e criar valor no longo prazo”, afirmou Navarrete.

Outro ponto importante destacado pela especialista é que o Brasil tem grande potencial de liderar o mercado mundial de carbono, uma vez que possui ampla cobertura de recursos naturais, e uma das maiores áreas de florestas tropicais do mundo, a Amazônia. “Além disso, O Brasil tem um grande potencial em energias renováveis, tendo assinado acordos internacionais significativos quanto a essa agenda, como o Acordo de Paris, se comprometendo a ampliar a redução de emissões em 50% até 2030 e alcançar emissões líquidas neutras até 2050”, disse.

PESQUISA

Os especialistas defendem que o Brasil pode assumir a dianteira do mercado verde, e assim, mostrar para seus parceiros comerciais e para os investidores um alinhamento com a Agenda 2030. Para isso, cabe ao País avançar no campo da pesquisa. Setores ligados à tecnologia e inovação e a demanda global por soluções que empreguem inteligência artificial e tecnologias limpas devem seguir aumentando.

O Brasil desempenha um papel significativo no comércio internacional. Tem presença relevante em várias áreas comerciais, atuando principalmente na exportação de commodities agrícolas como soja, açúcar, proteína animal e café.

Entre os maiores consumidores de produtos brasileiros estão:

China, principal parceiro comercial do Brasil,
• seguida dos Estados Unidos,
• Argentina,
• Holanda,
• e México.

Quero exportar. Por onde começo?

A primeira dica para o empresário/produtor que quer exportar é se capacitar.

• O governo brasileiro oferece programas de capacitação a exportação excelentes, como o Peiex e o Exporta SP. O primeiro é Programa de Qualificação para Exportação oferecido pela Apex-Brasil, que prepara as empresas para que possam iniciar o processo de exportação de seus produtos e serviços de forma planejada.

• O mesmo ocorre com o Programa Paulista de Capacitação para Exportações, Exporta SP, da Agência Paulista de Promoção de Investimentos e Competitividade (Invest SP). No programa, além das aulas com especialistas em comércio internacional os empresários de micro, pequenas e médias empresas ainda tem a possibilidade de participar de mentorias individuais para criar o plano de exportação.

• Sebrae também possui diversas iniciativas gratuitas para ajudar a fomentar a exportação. Para as empresas que já exportam e querem expandir sua presença no mercado externo, a dica é entrar em contato com a Associação Comercial que representa o setor e verificar a agenda de projetos setoriais da Apex-Brasil.

Os projetos setoriais visam a promoção da indústria brasileira no mercado internacional por meio de serviços de promoção comercial, como por exemplo, o fomento à participação em feiras internacionais, rodadas de negócio e missões de promoção comercial.