15/07/2025 - 13:19
Os exportadores de manga e uva da região do Vale do São Francisco, no Nordeste, estão apreensivos com as tarifas de 50% anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A região é uma das principais produtoras de frutas do país.
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A exportação de frutas do Vale do São Francisco desempenha um papel importante na economia local. Estima-se que aproximadamente 200 mil pessoas trabalhem no setor, na região que se tornou referência global na produção de manga, uva e outras frutas. Ao todo, são aproximadamente 3.200 produtores rurais, entre fazendas grandes e pequenas.
Segundo dados do Ministério da Agricultura (MAPA), em 2023, os Estados Unidos foram o segundo maior importador de manga e uva do Brasil. Foram mais de 48 mil toneladas de manga e 19 mil toneladas de uva. Em 2024, os números caíram levemente, foram 36,8 mil toneladas de manga exportadas para os EUA (terceiro principal destino) e 13,8 mil toneladas de uva (ainda o segundo principal destino).
Dada a relevância do mercado americano para os exportadores brasileiros, a preocupação se instaurou na principal região produtiva do setor. Paulo Dantas, que é dono de uma das maiores exportadoras de frutas do país, a AgroDan, disse a Dinheiro Rural que em mais de 30 anos na profissão nunca viu cenário parecido.
“Está um clima imenso de apreensão. Muitos pequenos produtores me ligam desesperados, sem saber o que fazer com suas frutas. O medo é de uma quebradeira. Se essas tarifas se concretizarem as empresas não vão resistir, milhares de trabalhadores perderão seus empregos”, explica.
Dantas, que tem a Europa como seu principal destino contou que o principal temor é com a destinação da manga excedente em casos de inviabilização da exportação para o mercado americano.
“O mercado interno já está abarrotado. Não aguenta mais esse volume que estava previsto para os Estados Unidos. Se a janela americana se fechar vai ser um desastre para a região”, diz Dantas.
Os principais meses para os embarques da manga brasileira para os Estados Unidos são agosto, setembro e outubro. As tarifas anunciadas por Donald Trump começam a valer justamente a partir de 1º de agosto, o que preocupa o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Petrolina, Jailson Lira de Paiva.
“Nossa safra de manga está prestes a se iniciar, justamente para o mercado americano. Na próxima semana nós já teríamos os primeiros embarques e a partir de agosto, os primeiros embarques de uva para lá. Ter que deixar isso no mercado interno é uma alternativa que vai causar um problema grave de mercado. Imagina que um volume concentrado de uma produção de manga e de uva sendo colocada no mercado interno vai fazer com que os preços caiam drasticamente”, explica Lira.

Em nota, o presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (ABRAFRUTAS), Guilherme Coelho, disse que defende que as negociações e o diálogo para a normalização das questões tarifarias a qual julgou como preocupante.
“A fruticultura brasileira, representada pela ABRAFRUTAS e seus membros associados, vem, por meio desta, expressar sua profunda preocupação com as notícias sobre o aumento de tarifas aplicadas a produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos (EUA).
Essa preocupação se deve à relevância do volume de negócios com frutas entre o Brasil e os EUA, que gerou, em 2024, o expressivo valor de USD 148 milhões para o setor e para a economia brasileira, com tendência de um desempenho ainda melhor em 2025. Esse número demonstra que os EUA têm sido um parceiro comercial importante para a fruticultura brasileira, e que as relações comerciais entre exportadores brasileiros e importadores americanos têm sido, até o momento, pautadas pelo respeito mútuo, equilíbrio e elevado nível de profissionalismo.
A fruticultura brasileira quer continuar exportando seus produtos para os EUA e, certamente, os importadores americanos desejam contar com nossas frutas para complementar o abastecimento do varejo, em um modelo de negócio ganha-ganha. Foi através desse modelo, que os consumidores norte-americanos passaram a ter acesso a frutas tropicais saborosas e seguras, que tem contribuído para a saúde e o bem-estar daquela sociedade. A continuidade desse processo é uma aspiração legítima dos empreendedores dos dois países.
Dessa forma, a ABRAFRUTAS encoraja as iniciativas de negociação em andamento, conduzidas por representantes dos governos do Brasil e dos Estados Unidos, e acredita que, por meio do diálogo e da transparência nas expectativas de ambos os lados, será possível chegar a um consenso que normalize as questões tarifárias em discussão e retome o ciclo virtuoso de negócios em consonância com a tradição histórica das relações comerciais entre as duas nações.”
*Estagiário sob supervisão