Se é mesmo verdade que a paixão por uma atividade passa de pai para filho, na Fazenda Mutum essa máxima se encaixa perfeitamente. Todos os dias, seo Leonídio Machado acorda com as galinhas para cuidar dos seus bezerrinhos da raça gir leiteiro, que ele trata com cuidado e carinho “maiores do que com os netos”, brinca o filho Leo Machado que, junto com o seu primogênito Bruno, formado em veterinária, administra as três fazendas em Alexânia (GO), que somam 500 alqueires. “Esses animais são a minha paixão”, conta o avô Leonídio, enquanto olha o rebanho com orgulho. E de fato, não é preciso muito tempo para perceber a paixão desse simpático pecuarista pelas suas “crias”. Tanta dedicação acabou por gerar retornos mais do que entusiasmantes. A Mutum produziu a matriz mais valorizada da raça, Dengosa, vendida em 2009 por R$ 1,320 milhão. Isso sem falar nos animais mais premiados do gir leiteiro, como as matrizes Fita, filha de Dengosa, que entre outros títulos é a grande campeã do Torneio Megaleite 2010, com recorde mundial para raças zebuínas de 48,047 quilos e Gatinha, que teve 50% vendidos por R$ 786 mil no ano passado. Ao receber a equipe de DINHEIRO RURAL na fazenda, um dia após a realização do leilão anual, os três estavam felizes com a média do pregão, cerca de R$ 81 mil, um dos maiores da raça nos últimos tempos. O reconhecimento do trabalho que reúne três gerações da família está na preocupação com o melhoramento genético e também na dedicação integral ao negócio. “Vivemos isso 24 horas por dia. É nossa atividade principal”, explica o filho Leo.

O trabalho de melhoramento é minucioso e para permanecer no plantel de elite do criatório, a matriz precisa oferecer muito mais do que excelência em produção leiteira. “Tem que ter equilíbrio racial, beleza e genética de ponta”, destaca o neto Bruno. O rigoroso trabalho de seleção vem dando excelentes resultados, tanto que no final do ranking 2009/2010, a Mutum foi vencedora em todas as categorias de premiação. “Fomos melhores criadores, expositores, ganhamos com a melhor fêmea, melhor macho e melhor produção”, orgulha-se Leonídio. Ele explica que o melhoramento é o grande responsável pela valorização dos animais, já que além de aprimorar as qualidades da raça, há um incremento na produção leiteira e na reprodução. “Antes, as vacas davam uma cria ao ano. Com a realização de FIV, chegam a dar seis crias no mesmo período”, contabiliza ele.

 

Para chegar até aqui, a história da seleção que transformou a Mutum em uma das maiores referências na produção de gir começou com o retorno de Leonídio ao campo, lugar onde passou parte importante da infância, quando ainda vivia em Minas Gerais. Antes de adquirir suas fazendas, porém, ele trabalhou como taxista em Brasília, foi empresário no setor de serviços e chegou a representar as 14 maiores empreiteiras do Brasil. Abriu mão de tudo para se dedicar àquilo que realmente o satisfazia: a pecuária. “Voltei às minhas origens, ao que me faz feliz”, conta. Em meados dos anos 80, ele importou algumas vacas holandesas PO do Uruguai para produzir leite tipo B. Pouco tempo depois, começou, junto com o filho, a realizar cruzamentos desses animais com outros da raça girolando. “Fomos chamados de loucos”, relembra Leo. O fato é que a aposta rendeu bons frutos e eles chegaram a produzir 5 mil litros de leite ao dia. O caso de amor com o gir começou em 1998, quando adquiriram 60 animais do plantel da tradicional marca 3R, do empresário Rubens Catenacci. “Foi um excelente investimento, adquirimos o que havia de melhor na raça”, explica Leo.

A paixão pelo gir leiteiro

Está no sangue; hoje, o avô leonídio, o pai leo e o filho bruno trabalham juntos na seleção

Depois da aquisição, o criatório só se multiplicou. Para Sílvio Queiroz Pinheiro, presidente da ABCGir, entre os fatores do sucesso da Mutum estão o foco na seleção, investimentos em qualidade dos acasalamentos e o uso de genética provada. “São cuidados essenciais, que se refletem nos títulos conquistados por eles e na valorização dos animais”, declara. Realizando investimentos em genética, hoje a Mutum tem cerca de 1.300 animais, entre gir, girolando e receptoras, além de uma produção média de 300 bezerros em sistema de engorda. A produção de cerca de 1.700 litros diários de leite é toda vendida para a Nestlé em Goiânia, mas Leo alerta: “Nosso foco é a genética, o leite é consequência.”

 

Transbordando: a pequena sala da fazenda já ficou pequena para tantos títulos conquistados

Tanto investimento na raça, aliado ao melhoramento genético, vem atraindo novos criadores e investidores, já que o tempo de formação de um plantel de elite é consideravelmente menor do que há duas décadas. Para Leo, isso é ótimo: “Quanto mais gente criando, mais forte fica a raça”. Agora, de olho em novos horizontes, eles também começam a investir em algumas premiadas matrizes de guzerá e a primeira a ser adquirida, há cerca de três meses, foi Bárbara, que se consagrou como recordista da raça neste ano, com produção diária de 43 quilos de leite. A razão para o investimento em uma nova raça é uma só, a paixão pelo zebu. “Acreditamos no zebu brasileiro, queremos que o guzerá cresça como o gir cresceu”, planeja Leo.

Elas fazem o show

As duas principais estrelas do plantel de gir da Mutum são resultado dos investimentos em seleção e melhoramento genético da família Machado

Fita FIV Mutum

Reservada Grande Campeã e

melhor úbere ExpoZebu 2009

Campeã Vaca Jovem Torneio

Leiteiro ExpoZebu 2009

Reservada Grande Campeã

Nacional Megaleite 2010

Grande Campeã Torneio Leiteiro

Megaleite 2010 com recorde

mundial de 48,047 quilos

Maior produção no ranking ABCGil

2009/2010

Gatinha FIV Mutum

Reservada Grande Campeã ExpoZebu 2010

Grande Campeã Nacional Megaleite

e melhor úbere 2010

Grande Campeã Exposição de

Franca 2010

Grande Campeã Exposição Goiânia

2010

Melhor fêmea do ranking ABCGir

2009/2010