Quase uma década depois da morte do construtor Waldomiro Zarzur, famoso por ser o nome por trás de um dos edifícios mais altos de São Paulo, o Mirante do Vale, uma briga emergiu entre seus herdeiros pela herança bilionária. O caso envolve acusações de uma eventual ocultação de bens por dois dos quatro filhos de Waldomiro.

A disputa estava parada nos últimos anos, já que o processo tinha sido concluído em 2016 e a herança, distribuída entre os irmãos. No entanto, o inventário (documento que detalha os bens para partilha) foi reaberto recentemente.

Isso ocorreu depois de uma das herdeiras, Adele Zarzur, ter entrado com uma ação na Justiça pedindo uma nova análise do processo, propondo mudanças na divisão dos bens do pai. Quando Waldomiro faleceu, em 2013, aos 91 anos, sua fortuna estava estimada em ao menos R$ 5 bilhões, em uma montanha de bens incluindo usinas hidrelétricas, prédios comerciais, fazendas e hotéis, como o WZ, na esquina da Alameda Lorena com a Avenida Rebouças.

Waldomiro era irmão de Ernesto Zarzur, que criou a Eztec, empresa listada na Bolsa brasileira com um valor de mercado de R$ 4,4 bilhões. Ernesto faleceu aos 87 anos, de causas naturais, no fim de 2021.

DINHEIRO ESCONDIDO

As acusações são pesadas, revelando um grande imbróglio hereditário, que já chegou a chamar a atenção de fundos que compram esses tipos de disputas na Justiça. Conforme os autos do inventário, Adele diz que poderia provar que seus irmãos Roberto e Ricardo, que foram os responsáveis pela partilha, teriam ocultado ao menos R$ 500 milhões. Esse valor seria, inclusive, superior ao que ela própria e sua irmã Gisele receberam individualmente, segundo o processo.

E a “descoberta” do dinheiro escondido ocorreu quase que “sem querer”. Adele teria recebido documentos que mostrariam uma espécie de contabilidade paralela contratada pelos dois irmãos. O teor de tal documento seria a prova que Adele teria embaixo do braço: ele mostraria que, juntos, Roberto e Ricardo Zarzur teriam utilizado a condição de procuradores do pai para transferir mais de R$ 250 milhões das empresas do grupo para pessoas jurídicas pertencentes a eles.

PERÍCIA

Munida desse documento, Adele contratou o perito contábil Mauro Stachini para analisar as 70 empresas do grupo. Do total, Stachini só conseguiu analisar até o momento 17 e já teria descoberto o desvio de R$ 211 milhões. O laudo dessa análise, com dezenas de páginas, foi anexado aos autos do processo.

Agora, um dos pedidos dos advogados de Adele, representada pela Warde Advogados, é de acesso aos documentos detidos pelo Grupo Zarzur, hoje administrado por Roberto e Ricardo. Dentre os pedidos da defesa, está a análise do Imposto de Renda de todos os herdeiros “a fim de se aferir eventuais irregularidades”.

Se provado que houve sonegação de parte da herança, a legislação brasileira prevê, no limite, perda do direito da partilha dos bens.

Conforme apurou o Estadão, também está sendo aventada a possibilidade de se ingressar com uma ação também nos Estados Unidos, onde a família Zarzur tem parte considerável de seus bens. Uma fonte disse ainda que uma tentativa de acordo entre as partes foi colocada na mesa, mas não foi adiante.

TRÂMITE

Em decisão de julho, a juíza Eliane da Camara Leite Ferreira pediu que a herdeira faça uma lista de todos os bens que teriam ficado de fora da partilha original. A juíza também negou o pedido de segredo de Justiça ao caso, solicitado por Adele.

Depois disso, os advogados de Adele informaram no processo que os irmãos estão apresentando grande “resistência e represália”. “A verdade é que Adele, para além de alijada dos atos de administração do Grupo Zarzur, teve impedido seu acesso à informação e documentação que lhe são de direito”, segundo uma das ações.

Adele já fez um pedido para a realização de uma assembleia dos sócios da holding da família para deliberar sobre a realização de uma auditoria contábil e a abertura de uma ação de responsabilidade contra os administradores. Na primeira convocação, marcada para este mês, os irmãos não compareceram. Assim, foi publicada uma nova convocação. Se eles não aparecerem na assembleia convocada e marcada para próxima quinta-feira, a pauta poderá ser votada apenas com os presentes.

A reportagem tentou contato com Ricardo e Roberto Zarzur, por meio de seus advogados e pelo Grupo Zarzur, mas não obteve resposta.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.