03/10/2025 - 7:00
A população mundial está em crescimento, e, com ela, aumenta também a demanda por alimentos. No entanto, elevar a produtividade é um desafio. Segundo a FAO (órgão das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), em 2050, a população global será de 9,8 bilhões, 20,4% a mais do que o número atual de 8,2 bilhões.
Para atender essa demanda, será necessário que a produção global de alimentos aumente em até 70%. A projeção da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) indica que enquanto a produção crescerá 1,1% ao ano até 2032, a demanda por alimentos deve aumentar 1,3% ao ano.
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Para abastecer toda essa demanda em um cenário de instabilidades climáticas e conflitos geopolíticos, as fazendas verticais surgem como uma alternativa importante e cada vez mais viável. Relatório Vertical Farming Global Market Report 2025, da The Business Research Company, aponta que o mercado global de fazendas verticais, estimado em US$ 7,74 bilhões em 2024, deve alcançar US$ 9,55 bilhões em 2025, um crescimento anual de 23,4%.
As fazendas verticais são um método de cultivo em camadas verticais para produção de alimentos e remédios, desenvolvido, principalmente, para atender a demanda de grandes centros urbanos.
“Produzir em uma área concentrada e sem uso de solos visa otimizar recursos, principalmente minerais e espaço, uma vez que, em uma área relativamente pequena, você consegue uma produção equivalente a uma área muito maior em solo. Esse sistema vem mudando a forma de produzir alimentos, principalmente em locais onde não há tanta área disponível, como grandes centros urbanos”, explica Carlos Pedrosa, professor de Agronomia da Faculdade Una Sete Lagoas (MG).
Um dos desafios para elevar a produção usando apenas o método convencional é o solo. Estudos apontam que entre 30% e 40% da terra arável global enfrenta algum nível de degradação, comprometendo sua produtividade e sustentabilidade no longo prazo. Com menos terra disponível ou acessível, as fazendas verticais aparecem como alternativa e oportunidade.
A proposta dessa nova modalidade de produção é utilizar instalações automatizadas com o menor impacto ambiental possível. Esses locais protegem as plantas da luz solar direta, chuva, ventos e outros fenômenos naturais. A iluminação é feita por lâmpadas de LED coloridas, que conferem ao ambiente um tom rosado e substituem a luz do sol.
Na agricultura vertical, a terra tradicional é substituída por sistemas sem solo, como a hidroponia — em que as raízes crescem em água com nutrientes, apoiadas por substratos como fibra de coco ou lã de rocha — e a aeroponia, em que as raízes ficam suspensas e recebem névoa nutritiva e substratos sólidos porosos que seguram água e dão suporte físico, enquanto os nutrientes vêm da solução nutritiva.
Com controle preciso de luz, temperatura e umidade, essas técnicas permitem cultivar plantas com menos água, menor risco de pragas e doenças e em qualquer lugar, inclusive em ambientes urbanos.
O modelo já está no Brasil
Na Zona Oeste de São Paulo, em um galpão que lembra mais um laboratório industrial do que uma fazenda, está localizada uma das maiores fazendas verticais da América Latina, a Pink Farms.
Fundada em 2016, com um investimento inicial de R$ 2 milhões, a startup passou dois anos trabalhando apenas em pesquisa e desenvolvimento da tecnologia que seria aplicada na fazenda vertical.
Em 2018, ingressou de vez no mercado produzindo inicialmente apenas alfaces. Nos últimos anos, a empresa expandiu seu portfólio, adicionando outras folhas e microgreens (versão miniatura de hortaliças como rúcula, couve e brócolis).

Atualmente, a produção é estimada em 2,5 toneladas de folhagens por mês, das quais 65% são alfaces e 35% outras variedades, como rúcula, espinafre, agrião, manjericão, cebolinha, salsinha, coentro e hortelã.
Rafael Delalibera, CEO e um dos fundadores, detalhou à IstoÉ Dinheiro Rural que a empresa está em fase de expansão e pretende triplicar a produção, ultrapassando 7 toneladas de folhas por mês, com o objetivo de atingir um faturamento anual de R$ 10 milhões.
“Nosso objetivo é provar que esse modelo é viável em escala. Queremos mostrar que é possível produzir em ambientes controlados, sem agrotóxicos, com mais qualidade e frescor, e que isso não precisa ficar restrito a projetos pilotos. Esse sistema tem potencial para transformar a forma de produzir alimentos no país”, disse Delalibera.
Entre os principais clientes da empresa estão grandes varejistas como Carrefour e Grupo Pão de Açúcar, além de redes menores, como Mambo, Zaffari, St. Marche e Natural da Terra.
A geração de energia elétrica é um dos principais desafios das fazendas verticais, e na Pink Farms não é diferente. É necessário manter iluminação e climatização constantes, o que eleva consideravelmente os custos.
“A energia ainda é um ponto sensível porque precisamos manter a iluminação e a climatização constantes. Utilizamos energia da concessionária, não fazemos geração própria ainda”, explica Delalibera.
Nesse sistema de cultivo, a energia elétrica é fundamental, pois alimenta a iluminação artificial, necessária para a fotossíntese, e garante a climatização e circulação de nutrientes, mantendo temperatura, umidade e ventilação ideais. Sem energia constante, a produtividade, a qualidade e a durabilidade das plantas seriam comprometidas, tornando o fornecimento confiável e contínuo um elemento crítico para o funcionamento e expansão da operação.
Gigante americana
O modelo da Pink Farms é inspirado na gigante americana AeroFarms, uma das pioneiras no sistema. Localizada em Nova Jersey, nos Estados Unidos, a empresa iniciou suas operações em 2004 e é uma das líderes globais em agricultura vertical aeropônica.
A AeroFarms utiliza tecnologia avançada para otimizar o crescimento das plantas, resultando, segundo a própria empresa, em rendimentos até 390 vezes maiores por metro quadrado por ano em comparação com a agricultura tradicional.
No entanto, a empresa enfrentou desafios financeiros significativos. Em 2023, a AeroFarms entrou com um pedido de falência nos EUA, reestruturando sua dívida e buscando novos investidores.
Apesar disso, manteve suas operações e continuou a expandir suas instalações, incluindo a construção da maior fazenda vertical de pesquisa e desenvolvimento do mundo, localizada em Abu Dhabi.
Desafios na agricultura vertical
Alto investimento inicial: A criação de fazendas verticais internas exige investimentos significativos em infraestrutura, iluminação especializada e sistemas de controle climático.
Consumo de energia: Apesar de utilizarem menos água e terra, essas fazendas demandam mais energia, principalmente para iluminação artificial e climatização.
Variedade limitada de culturas: Embora a tecnologia evolua, atualmente a agricultura vertical favorece principalmente culturas de rápido crescimento e de baixa estatura, deixando de fora muitos alimentos básicos.