08/09/2020 - 13:00
A suspensão das atividades escolares provocada pela pandemia do novo coronavírus deve causar impactos na economia mundial que podem durar até o final do século e pode levar a uma perda ao longo deste período de, na média, 1,5% na economia global. Essas são algumas das constatações de relatório divulgado nesta terça-feira, 8, pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). De acordo com economistas que ajudaram na elaboração do estudo, esse efeito não será notado em curto prazo, mas os impactos econômicos serão sentidos por muitos anos.
“A perda de aprendizado levará à perda de habilidades, e as habilidades que as pessoas têm se relacionam com sua produtividade”, disse o relatório, ao citar a queda na produção global. Desde janeiro, colégios e universidades em vários países interromperam atividades para reduzir o risco de contágio da covid-19.
No Brasil, a suspensão de atividades presenciais se iniciou em março. As escolas brasileiras ficaram fechadas por mais tempo do que a média dos outros países estudados e isso vai ter impactos na aprendizagem e desenvolvimento de habilidades dos alunos.
A estimativa, segundo o relatório, considera que só os atuais grupos de alunos serão afetados. Se as escolas demorarem para retomar o desempenho de antes da pandemia, o revés financeiro será proporcionalmente maior. Usando como exemplo os Estados Unidos, o documento aponta que se a pandemia levar a uma redução de um décimo no nível padrão de habilidades dos alunos, a perda econômica será de US$ 15,3 trilhões.
A suspensão das aulas também trouxe à tona as lacunas de oportunidades educacionais entre ricos e pobres. As crianças com acesso à internet, computadores e suporte das famílias se saíram melhor, com mais estímulos disponíveis e mais chances de usufruir de aulas remotas. “É fundamental que todos os esforços sejam feitos para garantir que a crise não exacerbe as desigualdades na educação que foram reveladas em muitos países. A crise atual testou nossa capacidade de lidar com interrupções em grande escala. Cabe agora a nós construir como legado uma sociedade mais resiliente”, disse o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, ao lançar o relatório em Paris.
Mesmo com a reabertura de escolas em muitos países, grandes desafios permanecem para a educação. A entidade ressalta que as nações continuarão enfrentando uma redução da economia, mesmo que suas escolas voltem imediatamente aos níveis de desempenho anteriores à pandemia. Especialistas no Brasil têm defendido a necessidade de priorizar o debate sobre a retomada das aulas. “O País pagará por abrir bar antes de escola”, criticou Priscila Cruz, presidente executiva do Todos pela Educação, em entrevista ao Estadão publicada neste domingo.
Orçamento da educação pode ficar comprometido
A reabertura de escolas e universidades trará benefícios aos alunos e à economia em geral, além de colaborar para que alguns pais retornem ao trabalho. Essa retomada, porém, deve ser avaliada cuidadosamente em relação aos riscos à saúde e à necessidade de mitigar o custo da pandemia, ponderou a OCDE.
No entanto, de acordo com a entidade, “os desafios não terminam com a crise imediata”. Os gastos com educação podem ficar comprometidos nos próximos anos. “Como os fundos públicos são direcionados à saúde e ao bem-estar social, os gastos públicos de longo prazo com a educação estão em risco, apesar dos pacotes de estímulo de curto prazo em alguns países.”
Além disso, o financiamento privado também se tornará escasso à medida que a economia enfraquece e o desemprego aumenta. No nível superior, o declínio na mobilidade estudantil internacional devido às restrições de viagens já está reduzindo os fundos disponíveis em países onde os estudantes estrangeiros pagam taxas mais altas.
Ao longo desta crise, os sistemas educacionais estão cada vez mais olhando para experiências, dados e análises de política internacional à medida que desenvolvem suas respostas políticas. “Embora os indicadores da publicação sejam anteriores à crise, ele fornece insights sobre as consequências econômicas para a educação, mas também a dinâmica de conciliar a saúde pública com a manutenção da oferta educacional”, diz a OCDE. (Com agências internacionais).