Mulatinho, verde, jalo, fradinho, branco, roxinho, preto, carioca ou canário. Quando o assunto é feijão, não importa a variedade, ele continua sendo preferência nacional. Do Brasil, sai 20% da produção mundial de feijão, e esta predileção pelo grão também coloca o País no topo da lista dos maiores consumidores: 14 quilos de feijão por habitante ao ano. A liderança na produção e consumo agora também divide holofotes com outro ramo, o da pesquisa biotecnológica. Dois cientistas brasileiros foram os únicos no mundo a obter êxito no desenvolvimento de sementes geneticamente modificadas resistentes a uma das principais pragas desta cultura, o mosaico dourado, transmitido pela temida mosca branca. Francisco Aragão, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, de Brasília, e Josias Faria, do Centro Nacional de Pesquisa de Arroz e Feijão, de Goiânia (GO), trabalharam durante dez anos na busca do feijoeiro imune ao ataque deste inseto, responsável por destruir 280 mil toneladas de feijão por ano no Brasil, e agora aguardam a aprovação da Comissão Nacional Técnica de Biotecnologia, CNTBio, para que essa tecnologia chegue aos produtores rurais. Segundo projeções da Embrapa, isso pode acontecer em 2012.

Dois exemplares de moscas brancas, segundo Aragão, são capazes de destruir por completo uma lavoura de feijão de 100 hectares. “Nas lavouras brasileiras, as perdas variam de 90 mil a 280 mil toneladas de feijão por ano”, explica. “A doença atinge os feijoeiros desde o sul da Flórida até a Argentina causando perdas de 40% a 85% nestes países. Portanto, chegar a um resultado positivo para o combate ao mosaico dourado foi um avanço sem precedentes para a agricultura” afirma Aragão. Nos últimos seis anos, o investimento nesta pesquisa foi de R$ 3 milhões. “Foi o período em que veementemente começamos a realizar testes em campo. Antes disso, devido à burocracia, o projeto ficou ocioso”. Estes testes, de acordo com os pesquisadores, apresentaram os resultados desejados desde o início. Modificadas geneticamente, as sementes de feijão, de todas as variedades, tornaram-se resistentes ao vírus transmitido pela mosca branca, que sobrevoa o feijoeiro e pousa na planta para sugar o seu caule. Neste processo, ocorre a transmissão virulenta, que prejudica o desenvolvimento das vagens e deixa as folhas da planta manchadas com tons amarelos. Segundo Aragão, 80% da produção e da área cultivada com feijão no Brasil está plantada em propriedades com área inferior a 100 hectares. Para se ter uma ideia do poder de fogo da mosca branca, se uma lavoura de 80 hectares, que produz aproximadamente três mil sacas de feijão, fosse atacada por esta praga, o prejuízo seria de aproximadamente R$ 300 mil. “Tudo isso vai para o lixo”, alerta o cientista.

Francisco aragão, da embrapa:

Investimento de R$ 3 milhões na pesquisa contra a praga

 

 

Enquanto a tecnologia não chega ao mercado, alguns produtores de feijão estão se antecipando e promovendo pequenas mudanças no plantio do grão para não correr o risco de deixar a planta vulnerável à doença. No sudoeste de São Paulo, os produtores de feijão irrigado anteciparam a colheita, e a safra, que era para ser colhida no final de setembro, saiu em agosto. “Também foi uma alternativa para acompanhar os bons preços”, disse o produtor Gustavo Franco, de Taquarituba (SP). As táticas dos produtores desta região são viáveis para driblar os prejuízos amargados na safra passada. No entanto, todo cuidado é pouco. “O feijão é uma cultura extremamente frágil, sensível e de alto risco, que demanda alta tecnologia, irrigação e o uso intenso de defensivos agrícolas para que no futuro não haja frustração de safra”, alerta Francisco Aragão.