09/06/2022 - 13:06
Os dados de abril do Caged, o cadastro do Ministério do Trabalho de contratações e demissões formais, estão “em linha” com a composição do crescimento econômico deste início de ano, quando a normalização do consumo de serviços mais impactados pelo isolamento social, como bares, restaurantes e hotéis, puxou a economia, afirmou nesta quinta-feira (9) Silvia Matos, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
Na segunda-feira, 6, o Caged mostrou a abertura líquida (saldo entre admissões e demissões) de 196.966 vagas em abril, puxada pelo setor de serviços, que registrou a geração líquida de 117.007 postos de trabalho.
“Os dados estão muito em linha com a atividade econômica mais forte em alguns setores”, afirmou Matos, durante o II Seminário de Análise Conjuntural, organizado pelo FGV Ibre, em parceria com o Estadão. “O lado B é que os salários ainda estão crescendo muito pouco na margem”, completou a pesquisadora.
O pequeno crescimento do valor das remunerações no Caged sinaliza a corrosão dos orçamentos das famílias, por um lado, mas, por outro, indica que não há inflação de salários, disse Matos.
Durante o seminário, José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do FGV Ibre, chamou a atenção para o fato de que, nos Estados Unidos, os salários têm subido praticamente no mesmo ritmo da inflação ao consumidor, num cenário de desemprego baixo. Dados históricos mostrariam, segundo Senna, que o quadro indica para a possibilidade de recessão na economia americana, à medida que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) apertar a política monetária para conter a inflação.
Segundo Matos, embora não haja ainda inflação de salários na economia brasileiro, o aperto da política monetária pelo Banco Central (BC) é importante para evitar que isso aconteça. A persistência da inflação elevada pressiona por reajustes maiores nos salários, o que poderia levar a um processo que retroalimenta a inflação.
“Quando a inflação fica muito alta, há a necessidade de reajustes (salariais). Se o BC não puxar o freio de mão, entra numa espiral de pressão salarial”, afirmou Matos.