01/10/2011 - 0:00
Há dois anos, representantes da indústria de defensivos agrícolas bateram na porta da Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), um dos braços da BM&F Bovespa, com um pedido. Eles queriam que a instituição criasse uma ferramenta que os auxiliasse no momento de financiar o produtor rural, sem que ela tivesse o caráter de punição aos maus pagadores. A BBM, com sede em São Paulo, topou o desafio. O resultado foi a criação do Sistema de Registro de Informações do Agronegócio (Iagro), no início deste ano. A previsão era apresentá-lo ao mercado ainda no primeiro semestre. Mas, quando a bola estava na marca do pênalti, o governo federal sancionou a Lei 12.414, no dia 9 de junho, chamada de lei do cadastro positivo, ou cadastro dos bons pagadores, para todos os setores da economia. E a BBM precisou dar um passo atrás para se adequar à nova lei.
Segundo Ivan Wedekin, diretorgeral da BBM, as mudanças no Iagro já foram realizadas e a sua finalização depende agora de pequenos detalhes, como ajustes de termos técnicos e jurídicos. “O Iagro pode mudar a maneira de se fazer negócio no campo”, diz Wedekin. “A lei do cadastro positivo e o Iagro servem para premiar quem tem um bom histórico de crédito de praça.” Para ele, um bom pagador merece mais crédito e a juro menor que os praticados no mercado ou um bom desconto naquilo que está negociando. Atualmente, a necessidade de capital de giro para financiar o produtor rural – agricultor e pecuarista – está em torno de R$ 130 bilhões por ano. Próximo de um terço desse montante, cerca de R$ 45 bilhões, é financiado pelo setor privado, composto pelas indústrias de insumos, fertilizantes, defensivos e pelas traders. “Se o Iagro contar com 20% desse financiamento registrado já teremos um banco de dados interessante para consultas”, diz Wedekin. Para Roberto Ricardo Barbosa Machado, gerente de títulos e registros da BBM, o serviço se tornará relevante quando as empresas e os produtores aderirem em massa ao sistema. “Acredito que num prazo médio de três anos o Iagro será referência em consultas”, diz Barbosa Machado.
Gerenciando riscos
R$ 130 bilhões é a necessidade de capital de giro de agricultores e pecuaristas
R$ 45 bilhões são financiados pela iniciativa privada
O Iagro será um banco para consultas
As empresas devem arcar com três taxas de manutenção
O produtor pode pedir a exclusão de seus registros a qualquer momento
Balcão de negócio: para Wedekin, diretor da BBM, um bom pagador merece prazo e juro mais baixo
A criação das normas que regem o cadastro positivo do agronegócio foi inspirada na prática do mercado financeiro. Toda concessão de crédito realizada através de um banco comercial ou de investimento precisa ser informada ao Banco Central(BC), que dispõe de um sistema de risco para classificar a operação. Os bancos que emprestam dinheiro na praça ou financiam bens como automóveis e casas, por exemplo, têm acesso a esse registro de operações. “À semelhança do BC, o Iagro é um banco de dados que registra os contratos que os produtores rurais e as cooperativas realizam com as empresas fornecedoras de insumos ao agronegócio”, diz Barbosa Machado. Wedekin explica que a BBM não criou um sistema de avaliação de maus pagadores, mas uma ferramenta para agrupar informações dispersas nas várias empresas do agronegócio e mostrar o nível de comprometimento da produção de uma propriedade. “Nós não vamos ser um Serasa, no qual se registra cheque sem fundo e título protestado”, diz referindo-se ao maior banco de dados de crédito de consumidores, empresas e grupos econômicos no País. “No Iagro, o conceito é de uma ferramenta de auxílio no gerenciamento de risco de crédito. Só isso.”
Para fazer parte do Iagro, o produtor rural precisará cadastrar na BBM seu CPF e autorizar as empresas a consultá-lo. Esse produtor também tem a liberdade de sair do Iagro a qualquer momento, sem custos. A empresa, por sua vez, arca com os custos da consulta e pode registrar os negócios realizados com esse produtor e verificar o montante de financiamentos aos quais ele teve acesso.