Simone dos Santos Rodrigues, de 42 anos, filha biológica de Flordelis e uma dos cinco acusados no processo pelo assassinato do pastor Anderson do Carmo, foi a última a ser interrogada neste sábado, 12, durante o julgamento que ocorre desde a última segunda-feira, 7, no fórum de Niterói (Região Metropolitana do Rio). Ela é a única ré que tem advogada própria – os outros quatro réus, Flordelis inclusive, são defendidos pela mesma banca.

Durante seu depoimento, ela afirmou se sentir “culpada” pela morte do pastor, por ter incitado o irmão Flávio dos Santos, já condenado por ter disparado os tiros que mataram Anderson do Carmo, a cometer o crime, ao contar para ele sobre os abusos que sofria do pastor. Mas negou ter planejado o crime ou ter pedido ao irmão para que matasse o pastor.

Simone disse que chegou a ser obrigada a fazer sexo com Anderson e que também havia flagrado o momento em que o pastor introduziu o dedo na vagina de uma das filhas dela, Rafaela, numa noite em que Anderson invadiu o quarto onde elas dormiam. Ela afirmou que só teve coragem de conversar com a filha sobre esse episódio após a morte do pastor.

Simone não trabalhava e por isso dependia do dinheiro da família, que era controlado pelo pastor. Além do sexo forçado, Simone diz que numa ocasião Anderson chegou a pedir que ela tocasse em seu pênis em troca da entrega do dinheiro pedido para atender uma questão rotineira. Esses episódios de abuso não foram denunciados antes pela ré, segundo ela por “vergonha e medo de expor a família”.

Simone afirmou que, ao relatar esses abusos ao irmão Flávio, imaginou que ele fosse agredir o pastor e não matá-lo. Contou ainda que nessa ocasião o irmão pediu a ela a senha do cofre da família, e não disse mais nada.

A filha de Flordelis afirma que, no momento do crime, na madrugada de 16 de junho de 2019, estava com o namorado em um apart-hotel na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio), e que foi avisada a respeito por telefone, numa ligação de uma familiar. Então pegou um carro de aplicativo e foi para Niterói – planejou ir para a casa da família, onde o crime foi cometido, mas redirecionou o trajeto para o hospital, onde encontrou os parentes. Ao chegar, segundo ela, soube que o pastor já estava morto.

Quando a família voltou para casa, segundo Simone, Flávio entregou a ela uma camiseta e pediu que ateasse fogo. Ela chegou a perguntar do que se tratava, mas ele não respondeu. Ela foi a um dos banheiros da casa e incendiou a peça de roupa, mas causou muita fumaça, então ela apagou o fogo e jogou a camiseta no lixo.

Simone negou ter planejado o assassinato do pastor e também disse nunca ter tentado envenená-lo – ela é acusada também de tentativas de homicídios, por envenenamento.

A filha de Flordelis mudou sua versão sobre ter entregue R$ 5 mil à irmã Marzy Teixeira para que ela contratasse alguém para matar o pastor, como havia dito em depoimentos anteriores. Segundo ela, a primeira versão foi dita na tentativa de proteger os irmãos.

Antes de Simone prestou depoimento a quarta ré no processo, Marzy Teixeira, filha afetiva de Flordelis. Ela endossou relatos de abuso sexual por parte do pastor Anderson do Carmo e admitiu ter participado de planos frustrados para matar o pastor tempos antes de seu assassinato, mas negou estar envolvida com sua morte.

Marzy contou que no passado chegou a planejar o crime e pedir ao irmão Lucas dos Santos para que ele matasse Carmo, mas que o plano não teve sucesso. Lucas já foi condenado por ter comprado a pistola usada por Flávio no assassinato.

Por orientação da defesa, assim como Flordelis e os demais réus, Marzy só respondeu a perguntas da defesa e dos jurados, por intermédio do juízo.

Questionada pelos jurados sobre o que merece um abusador, Marzy foi direta: “a morte”. Perguntada se seria melhor denunciar ou matar o pastor, ela demorou a responder, mas disse: “era melhor denunciar, mas, no momento de explosão, eu já tinha decidido matar”. A fala de Marzy fazia referência aos planos supostamente frustrados do passado, uma vez que, na sequência, ela voltou a negar envolvimento na trama que levou à morte de Carmo.

O depoimento de Marzy na presença dos sete jurados seguiu a estratégia da defesa, de atribuir o crime a um grupo restrito de filhos de Flordelis, que teria reagido aos supostos abusos de Carmo. A acusação contesta a versão e atribui o mando à Flordelis e o envolvimento de mais filhos.

No início do depoimento, Marzy se disse vítima de abuso sexual na infância pelo irmão da avó biológica. Noutro momento, disse ter sido encurralada por Carmo na cozinha da casa da família adotiva. Na ocasião, ela teria conseguido se desvencilhar, mas teria ouvido do pastor que “era uma gostosa e tinha um corpão”.

Em seguida Marzy disse ter visto o pastor abusar de duas das suas irmãs -Anabel, que teria sido acariciada nas pernas, e Simone, que teria tido as calças abaixadas.

Os interrogatórios foram encerrados às 18h20 e em breve devem começar os debates entre a acusação e a defesa, que podem se estender por até nove horas. Cada parte tem duas horas e meia para expor sua tese, e em seguida é possível réplica da acusação e tréplica da defesa, de duas horas cada.