16/10/2021 - 20:08
De produtos básicos de higiene, como papel higiênico, a caixas de remédios e embalagens de delivery, inúmeros itens essenciais na rotina diária da população levam celulose em sua composição. A versatilidade da commodity foi mais útil ao negócio do que nunca. O setor foi um dos que menos sofreu disrupção da demanda com a chegada da pandemia. Gigantes do setor, como a Suzano, registraram recordes de vendas. Outras, como a Klabin, viram o faturamento atingir resultados inéditos graças a outra força bem-vinda do mercado: a alta dos preços. A cotação está em torno de US$ 600, valor bem acima da média de US$ 440 registrada em 2020, a menor em quase 10 anos.
O bom desempenho financeiro animou o setor, que aproveitou a boa maré para fazer uma onda de anúncios de investimentos em iniciativas de sustentabilidade e renovação da infraestrutura produtiva. É o caso do projeto BioCMPC, do grupo chileno CMPC. Serão R$ 2,75 bilhões destinados à renovação da planta da empresa no Rio Grande do Sul, parte de um conjunto de 31 iniciativas de controle e gestão ambiental. É o segundo maior investimento privado já feito no Estado. “No final do projeto nos tornaremos uma das unidades de celulose mais sustentáveis do Brasil e do mundo”, afirmou Daniel Ramos, gerente de Relações Institucionais, Comunicação e Sustentabilidade da CMPC. Entre as metas estão a revisão dos sistemas de coleta de gases, o desligamento das caldeiras movidas a carvão e a eliminação de 100% dos resíduos de cinzas. “É um investimento vinculado e nascido dentro da bioeconomia que traz a sustentabilidade não só como ponto de partida, mas como ponto de chegada”, disse Ramos.
O exemplo da empresa chilena não é o único. A Suzano anunciou investimentos ainda mais expressivos – de R$ 14,7 bilhões – na construção de uma nova fábrica de celulose de eucalipto na cidade de Ribas de Rio Pardo, Mato Grosso do Sul. Quando ficar pronta, em 2024, será a maior unidade de produção do segmento no mundo e aumentará a capacidade produtiva da empresa de 10,9 milhões para 13,2 milhões de toneladas de celulose de eucalipto por ano. Marcelo Bacci, diretor-executivo de Finanças e de Relações com Investidores da Suzano, diz que o mercado como um todo está em expansão, e a empresa quer assumir uma posição de destaque. “Já somos líderes globais em celulose”, disse Bacci. “Queremos ser referência em sustentabilidade, rentabilidade e custos”. No tático para chegar lá, diversas ações foram tomadas, como a decisão de que a madeira que abastecerá a nova fábrica virá de um raio de até 60 quilômetros, ante uma média de 100 quilômetros das outras fábricas, o que deve tornar a nova planta mais competitiva em termos de custos.
ESG Ao anunciar a expansão de sua capacidade produtiva, tanto Suzano como CMPC demonstram estar atentas às oportunidades que surgirão da crescente pressão de consumidores e governos pela redução do uso de plásticos e na busca por alternativas sustentáveis e biodegradáveis em produtos como embalagens e roupas. A CMPC, garante Ramos, já entendeu o novo papel da indústria na era da economia verde. “A única matéria-prima capaz de dar conta da demanda mundial é a celulose”, afirmou, ao se referir aos diversos usos que a fibra pode ter em áreas ainda pouco exploradas comercialmente, como a indústria têxtil e os substitutos de garrafas pet, peças de automóveis e celulares. “Hoje, uma família média do ocidente usa 40 itens à base de celulose em sua rotina”, afirmou Ramos. “Acreditamos que esses itens serão expandidos para mais de mil.”
Mesmo que as promessas superlativas de que as fábricas serão as maiores ou mais sustentáveis do mundo mostrem um peso excessivo do marketing na comunicação, não há como não reconhecer que a indústria de celulose é uma das que melhor atua em seu posicionamento ESG (ambiental, social e de governança). Investimentos robustos, revelados com planos detalhados, evidenciam a constante busca das empresas pela produtividade com sustentabilidade. “É um tema muito caro para nós. A Suzano sempre atuou de forma responsável, mas foi muito ‘low profile’”, disse Bacci. “Chegamos à conclusão de que era preciso comunicar mais essas ações, tanto para a construção de reputação quanto para inspirar outras empresas”. A empresa anunciou 14 metas ligadas à agenda para 2030, dentre elas a remoção de 40 milhões de toneladas de carbono da atmosfera.