01/01/2010 - 0:00
“Até conseguir deixar a linha esticada foi um sacrifício enorme, porque não tinha instrutor para resolver as dúvidas”
Lincoln Koga, praticante da modalidade
O movimento é sutil e parece simples. O pescador, com um jeito todo especial, arremessa a linha ao ar. Em questão de segundos, ela se estica atingindo uma distância que pode chegar a 30 metros. A trajetória, que mais parece uma poesia visual, tem por objetivo apresentar a “mosca” ao peixe. O arremesso é o grande segredo do flyfishing, modalidade de pesca esportiva popularizada nos EUA pela obra “O sol também se levanta” do escritor Ernest Hemingway. Amante do esporte, o autor definia o fly como um estilo de vida. A explicação está nas virtudes que a modalidade exige do praticante: contemplação, disciplina e treino. A primeira é a arte de observar o hábitat do peixealvo, identificando seu alimento natural para então confeccionar as moscas, que nada mais são do que iscas artificiais usadas na pescaria. Já a disciplina e o treino são fundamentais para o pescador acertar o alvo desejado, já que o flyfishing não utiliza chumbo para alcançar distância no arremesso. É o próprio peso da linha que conduz a isca.
Mudança de vida: Josa aderiu ao flyfishing, quando deixou o cargo de executivo de empresas de alta tecnologia, como IBM
Foi exatamente o contato com a natureza que levou o pescador Lincoln Koga a se apaixonar pela prática. Mas o começo não foi nada fácil. “Até deixar a linha esticada foi um sacrifício enorme, porque tinha pouco conhecimento e não tinha instrutores para resolver as minhas dúvidas”, conta. A dificuldade inicial foi vencida com muita persistência. “Parece bobo, mas antes de pescar é preciso fazer um alongamento. Ter a paciência de observar se cada movimento e execução estão corretos e não querer pegar o peixe de imediato, mas exercitar os arremessos antes de começar a pescar” , explica.
No Brasil, o flyfishing é ainda pouco conhecido. Mas, para aqueles que o conhecem, a modalidade é mais que um estilo de vida, chega a ser um vício. Segundo dados do Ministério da Aquicultura e Pesca, esse tipo de modalidade tem tudo para ser uma das coqueluches do turismo rural moderno. É assim para o artista plástico e gerente de conteúdo de blogs corporativos Josino Pereira Júnior, o Josa. Para ele, o flyfishing foi um divisor de águas. Por 20 anos, ele trabalhou como executivo em empresas de alta tecnologia como IBM e Tivit. Embora financeiramente fosse compensador, a atividade gerava um stress que atrapalhava a qualidade de vida de Josa. Naquela época, ele praticava o bait casting, que é outra modalidade de pesca esportiva com iscas artificiais. “Sempre tive vontade de mudar para o flyfishing, mas achava que esta mudança deveria acontecer junto com uma guinada de vida. Então deixei tudo para trás e fui viver no interior de Santa Catarina, rodeado de rios, o cenário perfeito para o esporte”, diz.
Mais grossa: ao contrário de outras modalidades, o flyfishing tem uma linha especial, afinal é a linha que conduz a isca
Feita sob medida: a confecção da mosca exige do praticante olhar para a natureza e identificar o tipo de inseto de que o seu peixealvo se alimenta
A mesma paixão levou Antônio Carlos Morelli a deixar o cargo de gerente da Volvo para se dedicar exclusivamente à Flyecia, uma loja de equipamentos para o fly. Praticante da modalidade há cinco anos, ele foi enganado por comerciantes que vendiam varas de baixa qualidade como se fossem as melhores. Descoberta a trapaça, ele passou a importar varas para o passatempo. Os amigos gostaram da ideia e começaram a fazer pedidos. Assim nasceu a Flyecia, e o que era apenas um hobby se tornou o sustento da família. A fascinação de Morelli pelo esporte, de tão grande, conquistou a filha Vanessa, de 31 anos.
“Eu ficava vendo aqueles marmanjos, com aquele tamanho de mão, sentados que nem criança, fazendo as moscas e não entendia. Mas aí fiz um curso de fly e me apaixonei também”, diz.
R$ 8 mil é quanto chega a custar uma vara TOP DE FLYFISHING
No entanto, o esporte não é dos mais baratos. O iniciante vai precisar de vara, carretilha, linha para flyfishing e moscas, investimento que pode variar de R$ 400 a R$ 8 mil. Cada tipo de peixe demanda vara e isca específicas. A boa notícia é que a técnica permite pescar tanto espécies de água doce (tucunaré, tilápias e lambaris) quanto exemplares de água salgada (robalos, xaréus e enchovas). E que quem entra não sai mais. “Nesta modalidade, mais importante que o peixe em si é o aprendizado por trás”, finaliza Josa.