O Fundo Monetário Internacional (FMI) afirma que os problemas do lado da oferta devem perdurar, com isso os formuladores de política enfrentam o desafio de apoiar a recuperação sem permitir que a inflação fique “enraizada” nas economias. O alerta está em um relatório da instituição e também é alvo de um texto publicado nesta quinta-feira, 17, no blog do FMI, assinado pela diretora-gerente, Kristalina Georgieva, e por Oya Celasun e Alfred Kammer. Celasun é diretor-assistente no Departamento de Europa e Kammer é diretor do mesmo departamento.

O FMI aponta que a reabertura econômica fortaleceu a produção manufatureira, mas a volta de lockdowns e a falta de produtos intermediários, de químicos a microchips, “provocou uma estagnação na retomada das fábricas”. Houve alta no núcleo dos bens de consumo e atrasos em entregas, o que fomenta um debate sobre a inflação e o ritmo da política monetária. O fundo estima que, sem problemas na oferta, a produção da indústria da zona do euro no outono local de 2021 teria sido 6% maior. Em muitas economias europeias, caso o problema não existisse o PIB teria sido 2% maior na comparação com tempos pré-pandemia, diz.

O levantamento do FMI cita como países mais afetados pelos problemas na cadeia a República Checa, a Alemanha e a França. Os problemas da oferta explicam ainda parte do avanço recente nos preços. “Nós estimamos que choques na oferta podem explicar cerca de metade da alta na inflação nos preços de produtos manufaturados”, calcula, complementando que o peso disso foi menor no núcleo da inflação ao consumidor.

O FMI acredita que os problemas nas cadeias de produção devem continuar, por questões como climas extremos, acidentes na indústria, a falta de microchips, falta de trabalhadores ou o envelhecimento de infraestrutura logística, o que pode gerar efeitos mais persistentes sobre a oferta e a inflação que os shutdowns pela pandemia da covid-19. Para o FMI, os problemas na oferta podem durar “possivelmente até 2023”, com a incerteza reforçada pela variante Ômicron.

Nesse contexto, o FMI defende medidas regulatórias e ações fiscais “direcionadas”, a fim de aliviar gargalos na oferta. Segundo ele, quanto mais bem-sucedidas as autoridades forem nessa frente, menos terão de conter a demanda agregada e o crescimento econômico para conter a inflação.