Desde o lançamento do Plano Agrícola e Pecuário (PAP) de 2017/2018, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em julho deste ano,até meados do final de agosto, um fantasma assombrava as 1,6 mil cooperativas agrícolas do País e seus 1,02 milhão de produtores rurais cooperados. Eram uma série de decisões do Conselho Monetário Nacional (CMN) sobre PAP que limitava recursos às cooperativas agrícolas além de impor exigências que colocavam em risco qualquer tomada de recursos por parte do setor. “Mesmo que a cooperativa buscasse crédito no mercado, por exemplo, seus cooperados seriam impactados em cerca de R$ 1,5 bilhão numa safra”, diz Márcio Lopes de Freitas, presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Uma força tarefa, encabeçada pela OCB, o governo alterou as regras, no final de agosto.

Com isso foram retomadas, por exemplo, as linhas de comercialização e industrialização, o crédito para antecipar os pagamentos da produção entregue pelos produtores à cooperativa, além do aumento dos limites dos recursos obrigatórios, saindo de R$ 600 milhões para R$ 800 milhões. “Com a publicação da resolução do CMN, conseguimos reverter esse cenário de dificuldade de acesso ao crédito.”

Para Freitas, a alteração foi bem sucedida por provar que os ajustes propostos não afetariam os cofres da União. Com a melhoria do cenário de crédito, são essas associações econômicas de produtores rurais que agora podem traçar um caminho mais seguro para a definição dos planejamentos de venda de insumos necessários para a produção. “O crédito rural é fundamental para alavancar as atividades do setor produtivo”, diz Freitas. “Claro que vale dizer que ele não é e nem nunca será suficiente para rodar uma safra, mas ele é um motor de arranque, necessário para engatar a primeira marcha e iniciar a jornada de produzir mais um recorde de safra”. Em termos de números, o valor bruto da produção agropecuária brasileira
deve ficar este ano em R$ 535,4 bilhões. Já o crédito necessário para iniciar esse processo produtivo é de cerca de R$ 120 bilhões, segundo dados da OCB.

“Não é o crédito rural estipulado pelo governo que faz a safra acontecer, mas é uma alavanca fundamental”, diz. “Mesmo sendo limitado, ele precisa existir para estimular a produção nacional.” A paraense C.Vale, com sede no município de Palotina, é uma das maiores cooperativas do País e vem ganhando espaço justamente por vir em auxílio ao produtor cooperado, garantindo crédito, especialmente os pequenos produtores, seja para a aquisição de insumos ou peças e acessórios para máquinas e equipamentos agrícolas. No ano passado, por exemplo, a cooperativa destinou R$ 210,5 milhões em atividades de financiamento. Para a safra 2017/2018, as metas de crédito devem ser maiores porque, este ano, além de reunir 19,7 mil produtores de soja, milho, trigo, mandioca, leite, frango e suínos, a C.Vale também integra a produção de tilápias, com a inauguração de um abatedouro, na sede da cooperativa, capaz de processar 150 mil peixes por dia. “A fórmula de agregarmos valor transformando grãos em carne trouxe muitas vantagens”, diz Alfredo Lang, diretor presidente da C.Vale.

“Os associados ampliaram sua renda, muitas pessoas passaram a ter novas oportunidades de trabalho e a cooperativa cresceu e se fortaleceu”, diz Lang. Com um faturamento de R$ 6,82 bilhões, a C.Vale movimentou uma produção de 3,57 milhões de
toneladas de alimentos, vindos além de produtores do Paraná, como Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Paraguai. “A diversificação de atividades e agroindustrialização são os pilares da sustentabilidade da C.Vale.

Esta é a fórmula que permite à cooperativa crescer num ambiente em que muitas empresas desaparecem por não conseguirem suportar dificuldades da economia”, diz Lang. Exemplos como a C.Vale que enaltece a importância das cooperativas agrícolas do País, na produção de alimentos como a Coamo, a Cooxupé, a Lar, a Cocamar e a Copacol. Trata-se de um time que é responsável por metade de tudo que é produzido no campo, e dono de um faturamento de R$ 180 bilhões, no ano passado, 13% a mais ante 2015, segundo dados da OCB. Além, disso, foram as cooperativas agropecuárias que foram responsáveis por US$ 5,1 bilhões em exportações em 2016, o que representou 6% do total do comércio exterior do agronegócio brasileiro. Por isso, a importância de se cada vez mais apostar em linhas de financiamento às cooperativas do campo. Pelo radar de Sondagem de Mercado, do Índice de Confiança do Agronegócio (IC Agro), apurado trimestralmente pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e pela OCB, é quase que unânime: os negócios da compra de insumos, em especial fertilizantes e defensivos agrícolas, partem de cooperativas agrícolas. Dos produtores ouvidos, 52% preferiram o adubo e 51% comparam agroquímicos através de cooperativas.

Pelo balanço geral que se faz dos primeiros quatro meses de acesso ao crédito para a safra 2017/2018, houve um crescimento de 28,7%, chegando a R$ 53,2 bilhões em linhas de financiamento, em relação ao mesmo período da temporada passada. Ao todo, o governo federal estima R$ 188,4 bilhões para financiar a produção agropecuária do País. “O desempenho do crédito rural na atual safra revela uma situação de normalidade e de aumento na demanda do produtor rural e de suas cooperativas por recursos para o financiamento da safra e para investimentos direcionados à ampliação de sua capacidade produtiva”, diz Neri Geller, secretário de Política Agrícola do Mapa.