NO CAMPO: defensivos e adubos são quase todos importados

A história dos grandes impérios e potências mundiais mostra que decisões políticas mal equacionadas podem ser tão graves que desestabilizam setores econômicos por décadas e até colocam em jogo sua própria sobrevivência. Pior é quando os governos seguintes não se posicionam no sentido de estabilizar as atividades prejudicadas pelas mazelas dos antecessores, o que torna o panorama destas ainda mais fragilizado. A “moderna abertura de mercado” do governo Collor, no início da década de 1990, realizada sem estudo de seletividade, serviu como revés para a indústria nacional de insumos agrícolas e, aos poucos, o impacto daquele plano econômico mal elaborado se refletiu no enfraquecimento da produção interna.

TULIO TEIXEIRA DE OLIVEIRA, presidente da Associação Brasileira dos Defensivos Genéricos (Aenda)

Em um primeiro momento, a indústria sentiu o gosto amargo do desestímulo em produzir, visto que a “abertura” não veio acompanhada de medidas compensatórias. A área de fertilizantes simplesmente estancou seus investimentos na exploração de novas minerações e as empresas petrolíferas também deixaram para segundo plano a produção de elementos nitrogenados. No setor de defensivos agrícolas, diversas sínteses nacionais foram imediatamente substituídas por importações com preços mais compensadores.

“Na década passada. a indústria nacional sofreu

com as importações de defensivos”

Desde então, assistimos a um segundo momento, marcado pela aceleração da economia de países emergentes, notadamente na Ásia, fato que disparou o consumo dos insumos agrícolas, mas com nuances diferentes sobre os diversos insumos aqui no Brasil. No caso dos fertilizantes, houve um alarmante aumento de preços internacionais. Enquanto que, com os defensivos agrícolas, ocorre o fenômeno inverso, uma vez que a Índia e, especialmente, a China são grandes fabricantes dessas substâncias a custos baixos.

Na década passada, a indústria nacional sofreu com as importações, que passaram a dominar o cenário. Os agricultores comemoraram em um primeiro momento os preços baixos. Em contrapartida, não houve incentivo à produção insubrasileira e a oferta continuou concentrada nas mãos de empresas ultramarinas, que se abastecem essencialmente na China.

Por sua vez, a China, pressionada pela comunidade ambiental e de direitos de propriedade, vem fazendo ajustes na oferta e aumentando o valor dos insumos. Por conta destas questões ambientais, aliás, aquele país está encerrando a produção de importantes organofosforados usados aqui. Por sorte, o principal desses inseticidas fosforados, Metamidofós, resistiu aos impactos e continuou sendo produzido no Brasil, assegurando o suprimento ao agricultor.

O cenário dos insumos agrícolas parece surrealista em um país com agricultura poderosa e alicerce do equilíbrio na balança comercial. No entanto, não se vê ainda um esboço sequer de planejamento que incentive e assegure produções estratégicas desses insumos fundamentais. Salvo a melhoria no sistema de registro dos defensivos, por sinal só implementado a partir de forte movimentação da indústria de genéricos e das lideranças agrícolas. De resto, tudo está entregue às forças do mercado que, por vezes, fogem de um convívio mais civilizado e passam a esmagar os pequenos ou a prejudicar áreas de interesse estratégico da Nação. Quem tem o poder e a missão de regular tais distorções? A resposta óbvia é o governo e ele precisa, com urgência, ocupar o seu posto de protetor dos interesses nacionais nesta questão.