ANDRÉ CARIOBA: vice-presidente da AGCO irá inaugurar uma fábrica em Buenos Aires, em 2013

O QUE ESTÁ EM JOGO

Os principais produtos afetados pela disputa entre os dois países

Exportações da Argentina: batata, uva, uva passa, camarão, frutas cítricas e medicamentos

Exportações do Brasil: máquinas agrícolas e carne suína

Há uma barreira argentina no caminho da subsidiária brasileira da fabricante AGCO, detentora das marcas Massey Ferguson, Valtra, Challenger e Fendt. Nos primeiros meses deste ano, a política protecionista da presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, que tem criado dificuldades para o ingresso no país de produtos made in Brazil, com o objetivo de equilibrar a balança comercial, fez a multinacional americana perder terreno aceleradamente: dona de 45% do mercado de tratores, a AGCO viu essa participação diminuir para 26%. A empresa também perdeu espaço na venda de colhedeiras, de 15% para 9% do mercado. Pior: enquanto seu market share diminuía, ela viu suas concorrentes mais diretas, como a Case e a New Holland, do grupo Fiat, e a John Deere, aumentar sua fatia. “Perdemos espaço porque essas empresas têm mais licenças do que nós para fabricar produtos na Argentina”, diz André Carioba, vice-presidente da AGCO para a América do Sul.

Para retomar o mercado perdido na Argentina, que importou 2,9 mil máquinas agrícolas do Brasil no ano passado, a AGCO vai inaugurar uma fábrica na região metropolitana de Buenos Aires, em 2013. O executivo não revela quanto o Brasil pode perder com a transferência da produção para o país vizinho e o que será feito com a provável ociosidade das unidades que fabricam produtos hoje exportados para a Argentina. As três fábricas da AGCO, em Mogi da Cruzes, em São Paulo, e em Santa Rosa e Canoas, no Rio Grande do Sul, amargaram uma queda de 70% em suas vendas de tratores no primeiro trimestre do ano. Foram cerca de 450 unidades, contra uma média de 1,5 mil unidades no período. De colhedeiras foram vendidas 130 unidades, enquanto o histórico para o período é de 1,3 mil colhedeiras no trimestre.

Na guerra entre Brasil e Argentina, não são somente as máquinas e equipamentos que estão na linha de tiro. Em represália, o Brasil tem dificultado a importação de produtos argentinos, como batata, maçã, trigo, uva, uva-passa, camarão, vinho e lácteos. No fim do mês passado, por exemplo, 30 caminhões e 45 contêineres de batata argentina importada pelas redes de fast-food McDonald’s, Burger King e Bobs ficaram parados na fronteira, impedidos de entrar no Brasil. Em 2011, o McDonald’s comprou 34 mil toneladas de batata para abastecer as suas 670 lojas no Brasil, a maior parte mediante importação da Argentina.

Para tentar resolver os impasses comerciais criados, uma reunião no mês passado colocou na mesma mesa os ministros das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, e da Argentina, Héctor Timerman. Eles se comprometeram a solucionar as atuais pendências entre os dois países nos próximos três meses. A primeira medida foi a retomada das reuniões periódicas da Comissão de Monitoramento de Comércio Bilateral e do Comitê Automotivo. “Examinaremos com cuidado os pleitos argentinos, e a Argentina vai examinar com cuidado os pleitos brasileiros”, diz Patriota.

Como sinal de boa vontade, o governo argentino voltou a facilitar a importação de carne suína brasileira no fim de maio. O embargo fez o Brasil perder uma receita de US$ 45 milhões até abril deste ano. No entanto, segundo Losivanio Luiz de Lorenzi, presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), ainda não é hora de euforia. “Só vamos sentir os efeitos da retomada do comércio a partir de julho”, afirma Lorenzi.

A volta dos suínos

Os números do segmento entre Brasil e Argentina

O governo argentino deu bandeira branca para a importação de carne suína brasileira. O segmento vinha enfrentando barreiras desde o início deste ano. No ano passado, a média mensal de compra argentina foi de quatro mil toneladas por mês, totalizando uma receita de US$ 130 milhões no fim do ano. Neste ano, até o mês passado, a Argentina importou apenas nove mil toneladas.