O consumo de tabaco no Brasil tem diminuído a cada ano. Em 2012, os brasileiros deverão consumir 95 bilhões de cigarros, ante 105 bilhões de unidades registradas em 2008, uma queda de quase 10%, no período. A razão da queda são, além das campanhas antitabagistas desenvolvidas nas últimas décadas, as restrições ao fumo em locais fechados, o preço cada vez mais elevado para o consumidor e a recente proibição da mistura de aromatizantes nos cigarros, por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Por isso, os produtores de tabaco vêm mudando de foco e apostando suas fichas na ampliação das exportações. A expectativa para este ano é de que essas vendas cresçam quase 15%, passando de 505 mil toneladas, em 2011, para 580 mil toneladas. Caso esse volume se confirme, as exportações responderão por 80% da produção nacional, estimada em 720 mil toneladas de fumo em 2012. “Nos últimos anos, as exportações têm crescido em países como a China e a Índia, mercados com potencial ainda bastante elástico”, diz Benício Albano Werner, presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), baseada em Santa Cruz do Sul, no interior do Rio Grande Daniel Popov do Sul, maior polo produtor de fumo do Brasil. A China é a principal consumidora mundial de fumo, com 2,7 trilhões de cigarros, seguida pela Índia com 470 bilhões. O Brasil se mantém como sétimo maior consumidor de tabaco no mundo.

Mas o clima não é de comemoração para a indústria tabagista. Em novembro, será realizada na Coreia do Sul a 5ª Conferência das Partes (COP 5), evento que faz parte da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT), tratado internacional que reúne na Organização Mundial da Saúde (OMS) 175 países signatários para discutir regras gerais para o setor. Está na agenda-geral proposta para a próxima reunião, a redução ou limitação da área mundial plantada com tabaco, o corte dos mecanismos de apoio aos produtores – como a assistência técnica por parte das empresas –, restrição ao crédito rural e a criação de regras ambientais que podem discriminar o tabaco entre as safras agrícolas.

Para Carlos Galant, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Fumo (Abifumo), em Brasília, a pauta de discussões na próxima COP tem provocado apreensão ao setor, pois o governo brasileiro está redigindo o seu documento oficial sem qualquer colaboração das entidades nacionais que representam os produtores e a indústria do tabaco. “Tudo tem se mantido no mais absoluto segredo”, diz Galant. “Mas seria bom saber o que o governo Federal tem a dizer, mesmo que o conteúdo do documento possa provocar drásticos impactos na cadeia produtiva.”

A preocupação de Galant se justifica. O Brasil liderou, em 2010, durante a COP 4, realizada em Punta Del Leste, no Uruguai, o grupo de países que pedia o banimento dos aromatizantes e sabores dos cigarros. O grupo saiu vitorioso do evento e, no Brasil, a proibição de aromatizantes passou a valer em Março deste ano. Procurado pela reportagem da DINHEIRO RURAL, o Ministério da Saúde informou que o Brasil ainda não fechou a posição que levará a COP 5, mas já marcou, para o próximo mês uma audiência pública, em Brasília, que contará com a participação de todo o setor, para apresentar o documento que será levado e coletar sugestões e cíticas para a elaboração do texto final que o País apresentará durante o evento.

A China é o maior consumidor de fumo do mundo, com 2,7 trilhões de cigarros por ano

Benício Werner presidente da Afubra

 

Para os produtores de fumo gaúcho as regras internacionais mais rígidas podem definir o futuro da lavoura. O agricultor Ademir Frantz, de Vera Cruz, município a 160 quilômetros de Porto Alegre, diz que há 20 anos vende toda a sua produção para as companhias exportadoras, mas nos últimos anos não tem sido fácil atender ao mercado. “Cultivo em 2,5 hectares 5,2 toneladas de tabaco por ano, mas, com medo do que possa acontecer nos próximos anos, venho diversificado minha receita com o plantio de milho e feijão na segunda safra”, diz Frantz. Segundo o agricultor, não é fácil abrir mão do tabaco, cultura de alta rentabilidade. Com o milho e o feijão, o faturamento por hectare é de R$ 6 mil, enquanto que o tabaco rende R$ 16 mil por hectare. “Como posso ficar sem essa renda?”, afirma Frantz.