Todas as manhãs, antes de o sol nascer, elas se preparam para um dia que se resume em comer e botar ovos. Diferentemente do que aconteceu com suas antepassadas, as galinhas e codornas de hoje não passam o dia a ciscar livremente, mas sim presas em gaiolas, onde o espaço é reduzido, a excelência na produção de ovos é pré-requisito e o estresse é proporcionalmente inverso ao tamanho da gaiola. Assim, não é raro ver algumas aves machucadas e até mesmo deprimidas. Diante desse quadro, pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) descobriram que adicionar medicamentos fitoterápicos, como camomila, valeriana e passiflora, à ração de aves usadas na produção comercial ajuda a amenizar os sintomas da doença. “Acondicionar os animais em gaiolas faz com que o estresse aumente”, explica Janaina Silva, uma das responsáveis pelo estudo.

80 milhões é o número estimado do plantel de aves poedeiras no Brasil

O trabalho é relevante, já que a avicultura brasileira produziu 5,2 bilhões de cabeças de frango em 2009 e tem um plantel estimado em 80 milhões de poedeiras. Em uma das etapas do projeto, a pesquisadora reduziu o número de animais de 14 para 12 na mesma gaiola, aumentando o espaço para cada animal. “Isso indicou redução do comportamento agressivo e de aves feridas”, destaca a pesquisadora. O sistema de criação de aves em gaiolas, conhecido como confinamento intensivo, é um dos males que prejudicam galinhas e codornas em todo o mundo. Guilherme Carvalho, consultor da ONG Sociedade Humanitária Internacional (Human Society International), conta que é comum as aves ficarem em espaços menores do que uma folha de papel. “Elas não conseguem esticar as asas, construir seu ninho e ciscar”, diz ele.

Durante o trabalho, a equipe observou uma redução de corticosterona, um hormônio que é um dos indicadores do estresse em aves. “Agora, queremos unir os três fitoterápicos em um experimento só, algo parecido com o que é feito com humanos”, explica ela. Mas, para que os efeitos sejam potencializados, é preciso ficar atento a práticas que irritam os animais, como a debicagem, procedimento em que o bico das aves é cortado, a fim de evitar que elas se machuquem e destruam os ovos. “O problema é que isso causa estresse também”, declara Janaina. Para a União Brasileira de Avicultura (Ubabef), porém, a debicagem feita por profissional qualificado, tem efeito negativo menor nos animais. Quem sabe com fitoterápicos e melhores práticas de produção, as galinhas possam ficar calminhas…